O domingo amanhecia e um céu imerso em tons opacos aos poucos ganhava mais luminosidade qdo estacionamos o veículo na pracinha em frente ao Supermercado Russi, as 8hrs, em Franco da Rocha. Sim, desta vez pra ganhar tempo e abreviar a enfadonha baldeação bus/CPTM decidimos de ultima hora ir de carro mesmo. Até pq a nova integrante canina da trupe, a Chiara, dificilmente teria acesso a transporte publico coletivo. Assim, eu, a pulguenta e sua zelosa dona, a Carol, arrumamos as tralhas, ajeitamos a
mochila e começamos a caminhada ali mesmo na cidade, q recém despertava pra mais um dia.
Por impaciência em aguardar busão e pouca distância até a entrada do parque, resolvemos fazer este trecho a pé mesmo, tocando pela Estr. do Governo, nome local pelo qual é conhecida a rod. Pref. Luiz S. Chamma, sentido Mairiporã. Por precaução diante da espoleta cadelinha (q não sossegava quieta no chão), a Carol a enfiou na
mochila, deixando apenas sua minúscula cabecinha de fora. E assim seguimos em frente, já aquecendo as pernas pro q viria em frente. No caminho a Carol encontrou ate uma amiga da cidade, mas os babados entre ambas não se esticou alem do necessário já q ainda havia muita pernada pela frente.
Chegamos na discreta portaria oeste por volta das 8:30hrs, qdo a Carol soltou a pequena basset q imediatamente disparou parque adentro. Esta portaria esta situada discretamente a meio caminho da portaria oficial (aquela em frente ao Corpo de Bombeiros), distante ainda quase 3kms. Após cruzar uma ponte sobre o manso Rio Jukery, dentramos tranquilamente e percebe-se q aqui é relativametne bem menor, com espaço exíguo e estacionamento minúsculo. Na verdade so tem um portal, uma guaritinha e mais nada, nenhuma infra maior. A principio não aparentava haver ninguém, mas logo dos fundos surgiu um simpático senhor, o Sebastião, q alem das boas-vindas nos deu algumas informações. Comentou q essa portaria ate recentemente era fechada devido a badernas promovidas pelas comunidades (favelas) vizinhas, mas q atualmente poucas são as pessoas q acedem o parque através dela, no geral, meia dúzia de bikers. Comentou tb q em dia de chuva é fechado qq aceso, ate pq o nível da água do Rio Jukery costuma subir alem da conta. Contou ate duma ocasião em q, sem qq aviso prévio, abriram as comportas da barragem em Mairiporã e inundou td ali embaixo, inclusive ruas inteiras em Franco da Rocha.
Nos despedimos do Tião dando continuidade á caminhada, afinal havia q ir no encalço da estabanada cadelinha, q havia se adiantado alem da conta ansiosa por maiores explorações. Daqui em diante não tem muito erro, pois basta acompanhar uma estrada de chão bem batida (e cercada de mata de ambos lados) q basicamente segue paralela ao rio e, consequentemente, á rodovia. A medida q avançávamos o som dos veículos ia ficando pra trás enqto cada vez mais mergulhávamos mais e mais no interior daquela pitoresca unidade de conservação. E num piscar de olhos a alta e densa vegetação dava lugar as campinas e descampados tradicionais q permeiam o parque.
Até então não cruzamos com ninguém no parque, embora o dia não estivesse do td horrível assim. Amanhecera nublado mas lentamente as brumas se dispersavam. Um tímido sol ate ameaçava emergir no meio daquela nebulosidade clara e o frio matinal dava lugar a um agradavel calorzinho, bem-vindo naquela altura do campeonato. Uma bifurcação obvia sugere ir pela direita, rumo sul, já q a outra visivelmente segue em direção a portaria principal. Uma subida suave vem na sequencia e logo estamos na tradicional pista de pouso, pisando naquele chão compacto avermelhado q um dia recebeu trocentos monomotores nessa outrora fazenda.
Daqui em diante basta acompanhar a sinalização, uma vez q nossa rota é o tradicional caminho em direção o Ovo da Pata, pto culminante do parque. Uma parada básica no “Quiosque da Seriema” é o lembrete q aqui é o ultimo pto de água confiável, assim como de sanitário decente. Mas a elétrica Chiara não queria nem saber de pit-stop algum, pois seu afinado focinho não se continha em fungar td gama de novos odores e cheiros q aquele parque ainda reservava pra ela. Aqui trombamos com as primeiras almas vivas do dia, no caso, uma dupla de bikers a quem acenamos cordialmente.
A pernada prosseguiu tranquilamente naquele sobe-e-desce suave pela cumieira das colinas, sentido sul. Um rápido desvio nos leva pra torre de observação, espécie de mirante daquele setor do parque. Aparentemente não havia ninguém no alto e a Carol subiu a sequencia de escadas metálicas apenas pra clicar a bela panorâmica q os guarda-parques tem la de cima. A Chiara reclamou a ausência da dona, q desceu rapidinho da torre não atendendo os ganidos da pulguenta mas sim pq no alto balançava pros lados feito capim ao vento.
Voltando ao caminho principal, logo adiante um novo desvio nos leva á “Árvore Solitária”, um robusto exemplar de copaíba q coroa o alto dum morro. Mas ai nos seguimos em frente, palmilhando uma picada q desce o morrote, sentido oeste. Logo de cara é possivel avistar o tal “Moinho”, as ruínas duma casa no fundo do vale, cercada de mata. A picada bordeja a encosta do morro pra finalmente dar as margens dum belo e bucólico laguinho, cercado de alto bambuzal q formava um lindo túnel de vegetação q ladeava o morro sgte. Uma placa sinaliza os riscos de nadar e pescar no lugar ate q o ruído de agua despencando desperta nossa atenção. Indo na direção da do som logo damos numa pequena cascatinha, por onde a água do lago despenca e, cavando uma vala funda com formato de “cânion”, sinuosamente toca em direção o tal vale do “Moinho”.
Como a picada dali em diante visivelmente tocava pro norte (e, consequentemente, Franco da Rocha), retornamos outra vez ao caminho principal tomando um atalho pelo outro lado da encosta do morro, passando por baixo das torres de alta tensão. Diga-se q voltamos ao caminho principal sob protestos da travessa cadelinha, q foi voto vencido ao insistir em explorar aquela picada mais estreita. Mas a real foi q não fomos por ela tb pelo fato de la haver a carniça bem no meio da trilha, provavelmente doutro finado totó, pois alem do mau cheiro sentido um trio de urubus voou diante nossa aproximação.
Novamente no caminho principal – e espinha dorsal de tds as trilhas do parque – acompanhamos a abaulada cumieira serrana já com belo visu do nosso destino q, bem próximo a sudoeste, espichava-se elegantemente no sentido transversal. Após andar um tanto e tomar novo atalho q nos poupa o contorno doutro morrote, Chiara instintivamente desvia da rota principal e toca trilha acima. Nem precisou avisá-la q aquela era mesmo a picada pra subir o Ovo da Pata, mas claro q ela avançava, parava, olhava pra trás se certificando de q estávamos acompanhado-a, e dava continuidade a subida. Noutras, aquela coisa mirrada tava se achando a pastora alemã ou labradora-guia! No caminho, cruzamos apenas com um trio de jovens q retornava do topo do morro, e um guarda-parque motorizado q tb subia, tropegamente, montando numa motoca e chegou no cume antes da gente.
E assim, devagar-quase-parando, alcançamos os 942m do topo do morro por volta das 11:30hrs, qdo o sol começou a dar enfim as caras por entre a opacidade clara do céu. Foi ai q cumprimentamos o guardinha motoqueiro e, estranhando sua presença ali, começamos a conversar. Durante a cordial prosa, ele começou a desfilar as normas e diretrizes do parque pra finalmente concluir com um singelo “..é terminantemente proibida a entrada de animais domésticos numa unidade de conservação..” , deixando mais q claro o motivo de estar ali no topo conosco. Frase até q fez a Chiara enrubescer de vergonha e resignar-se cruelmente á sua insignificância canina.
Logicamente q foi ai q nos demos conta da “grave” infração q estavamos cometendo e procuramos argumentar civilizadamente com o guardinha, q na verdade revelou ser um dos seguranças (e tb brigadista contra incendios) do parque. Seu nome era Ronaldo e, bastante articulado e inteligente, entendeu q estávamos do lado dele apesar do relapso (e descuido) referente á pulguenta, quebrando o gelo da situação. Dali nasceu uma conversa mais q produtiva pra ambas partes q se for esmiuçar seria necessário um relato a parte. Resumidamente comentou do novo gestor do parque, de seus quase dez anos ali, das dificuldades de somente 4 efetivos em vigiar uma área daquele porte e da escassez de recursos q o parque recebe. Mas a melhor noticia q ouvimos dele foi dum grupo q havíamos trombado da ultima vez, um tal de “Desbravadores”, de estar proibido de pisar ali (e noutros parques) devido ao acumulo de pelo menos dez infrações na última visita! De mentalidade aberta e bem receptivo a sugestões, demos a idéia da criação dum mutirão ambiental pra coleta de lixo, idéia q agradou e seria mto bem vista pelo atual gestor.
O lance da Chiara merece parágrafo a parte. O aparente motivo da proibição de sua minúscula presença é a alegação q “ela pode trazer germes e outros microorganismos” estranhos á vida endêmica do parque, etc e tal. Ok, a assertiva parece ter fundamento, mas aqui faço algumas ressalvas. Acontece q já vi gente (das fazendas ao lado) andando a cavalo ali dentro mais duma ocasião, cujo respeitavel bolo fecal é capaz de afogar com requintes de crueldade duas Chiaras, q tem o irrisório porte dum rato, só q espichado!! Outra: se a proibição é norma geral a tds os parques o q dizer do Curucutu (tb pque estadual ) q tem como mascote nada mais nada menos q um cachorrinho, o espivetado Tasco (q poderia facilmente ser companheiro da Chiara por ser da mesma raça) e circula de lá livremente sem ser importunado? Por isso fica aqui a pergunta se as normas dos parques estaduais valem pra tds ou se são seguidas caprichosamente conforme sopra o vento do gestor em questão? Fica igualmente a indagação de qual critério (certo) adotado com relação aos pets nesse sentido, pois tb olho pros lados e vejo o lixo deixado por visitantes nada conscientes; os trocentos pipas q caem na mata vindos das comunidades vizinhas; o barulho de veículos, motos e sons em alto volume das fazendas próximas; e em seguida olho pruma constrangida Chiara, cujo maior impacto deixado pela contraventora canina deve ter sido um mero xixizinho no caminho, demarcando territorio.
O papo tava bom demais e o tempo passou voando, mas havia q prosseguir nossa breve travessia. Ronaldo despediu-se e se pirulitou morro abaixo diretamente pro seu almoço, enqto a gente beliscou rapidamente alguma coisa e colocou pé-na-trilha logo a seguir. Descemos cuidadosamente o morro pela trilha oeste e em menos de 10 min depois estavamos outra vez no caminho principal do parque. Seguimos por ele um pouco rumo noroeste, apenas o suficiente ate trombar com uma ramificação q deriva discretamente no sentido contrario, isto é, sul.
Abandonamos então o caminho principal em favor desta mal-roçada vereda, q vai de encontro a base do Ovo da Pata e passa a bordejar a montanha por td sua extensão. Pelas infos do Ronaldo, esta picada nada mais era q um antigo aceiro q circundava o limite sul do parque e servia pra conter eventuais focos de incêndio, evitando sua propagação unidade adentro. Atualmente essa vereda esta parcialmente roçada e totalmetne coberta de mato, como pudemos constatar durante nossa investida.
Pois bem, uma vez nessa trilha-aceiro tocamos inicialmente numa boa, palmilhando em nível a encosta do Ovo da Pata, ladeando seu abaulado contraforte oeste. Mas aos poucos o capim ia tomando conta cada vez mais e mais do caminho, pra desespero da Chiara, q literalmente mergulhava no mato pra seguir em frente. Divertido era vê-la dar seus minúsculos saltinhos qdo havia mato mais espesso q não dava pra encarar de frente, no caminho. A medida q contornávamos o morro e nosso rumo comecava a tocar pra leste a coisa foi simplesmente piorando. Deslizamentos da íngreme encosta, mato tombado e voçorocas de samambaias foram tomando conta da trilha diluindo de vez a esperança de q a conclusão da travessia seria moleza. Na verdade já não havia mais trilha, apenas seguíamos um mero rastro de mato abaixado.
Foi apenas qdo tropeçamos com um matagal infernal mais adiante q tomei a decisão de simplesmente descer na raça. O aceiro simplesmente não existia mais e de onde estavamos tínhamos contato visual perfeito das fazendas q delimitavam o parque, coisa de 150m abaixo da gente. Azimutei mentalmetne na direção delas e ai fomos nós. Abandonamos o aceiro e começamos a rasgar mato, montanha abaixo. Inicialmente mergulhamos na mata fechada, um bosque forrado de altos arbustos no caminho. Claro q eu fui na frente, abrindo caminho pra Chiara e a Carol. No geral fui avançando em linha reta, de modo a perder altitude rapidamente, desviando da vegetação mais espesso ou trechos mais íngremes. As vezes tocava na diagonal, qdo o terreno se mostrava mais facil de se seguir, e assim transcorreu nossa descida inipterruptamente. Houve trechos em q a Chiara teve de ser levada por sua dona, principalmente naqueles em q havia q rasgar no peito mato mais denso, q fatalmente arranhava a barriguinha pelada da pulguenta, tendo em vista suas minúsculas perninhas.
A medida q avançávamos, lentamente, o som de latidos e vozes foi se tornando cada vez mais audível. Após cair numa dobra serrana com vestígios de água, cruzar um bucólico bosque, atravessar um espesso bambuzal, ter jogo de cintura pra passar num trecho repleto de duros cipós e desescalaminhar (agachados) um trecho mais íngreme de encosta, finalmente caímos numa vereda bem mais batida e roçada. Eram apenas 14:20hrs e estavamos as margens do Ribeirão Criciuma, q ladeava o sopé do morro sinuosamente e tocava rumo oeste. Mas a gente tocou no sentido contrario, leste, onde a trilha tava mais batida. Do outro lado do córrego já podíamos avistar residências, isto é, o muro do quintal delas. Foi ai q nos informamos como sair dali e q era apenas seguir rio acima.
Pois bem, este techo aqui foi mais tenso q o vara-mato anterior pq pra sair fatalmente teríamos q entrar no quintal de alguém. O perigo mesmo era a presença de cachorros nos mesmos. Inicialmente tentamos sair por um quintal ate dar num cercado, mas uma senhora nos enxotou desesperadamente dizendo: “Meu Deus não vem por aqui não q tem um rotweiller solto!”, aviso q atendemos sem pestanejar, torcendo pro bendito cachorro não nos pegar de surpresa ali. Voltamos pra outa margem do rio e seguimos ele buscando uma saída daqueles cafundós rurais de Caieiras. Mas felizmente logo caímos no descampado duma plantação e, num piscar de olhos, numa rua asfaltada. Uffaaa!
Uma vez no bairro do Morro Grande, tocamos por uma rua transversal ate dar numa rodovia maior, q bastou acompanhar inipterruptamente sentido oeste. E assim, após passar por reflorestamentos da Melhoramentos e um cemitério, enfim pisamos em Caieiras as 15:45hrs, onde tomamos condução pra Franco da Rocha. Aqui a Chiara passeou clandestinamente de coletivo intermunicipal, bem mocadinha dentro da mochila, no breve tempo q durou a viagem. Uma vez em Fco da Rocha passamos pra fazer compras no mercado e bebemoramos a empreitada na pracinha onde o veiculo havia sido deixado. A trip rumo a Metropole transcorreu sem maiores intercedencias.
E dessa forma atípica terminou mais um dia de aventuras. Pra Chiara foi a primeira (e última) visita ao PE Juquery, numa vida de contravenções q a própria pulguenta não recomenda a ninguém. Pra Carol foi um domingo produtivo em trilhas, aproveitando o passeio pra tirar seu pet da clausura do apê. E pra mim foi mais um “mistério” de trilha resolvido, pois há muito queria conhecer aquela rota pouco utilizada sentido Morro Grande. Pois bem, o q falta ainda pra fazer? Bem, há uma vereda q supostamente vai além das bandas do Bairro Laranjeiras (extremo sudeste do parque) até Alpes de Caieiras, já quase Mairiporã. Mas isso, claro, é mais motivo pra próxima (e vindoura) visita ao PE Juquery.
PS: quem quiser colaborar com mutirões de coleta de lixo ou sugerir qualquer idéia referente a educação ambiental no PE Juquery, pode comunicá-la diretamente com seu gestor. Qualquer ajuda nesse sentido será muito bem-vinda. César (011) 4449-5545
Jorge Soto
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