Foi meio q a contragosto q madruguei afim de encarar o rolê daquele dia saindo de casa pouco antes das 4 da madruga, caminhar pelo breu noturno do Butantã p/ tomar o primeiro Metrô da Linha Amarela daquele domingo.Ainda escuro saltei na Estação Armênia, onde não tardou pra tomar as 5:40hrs a primeira condução pra Sta Isabel, no caso, o azulzinho “219 – Sta Isabel/Centro”, da EMTU. É, a necessidade de madrugar além da conta fora fator q impediu agregar mais pessoas á trip, uma vez q o tempo praquele rolê especificamente era contado e o meio-dia era a previsão de retorno á Sampa. Bem, levantar cedo pra mim era o preço mais q justo pra conhecer um pico novo, interessante e desconhecido da maioria.
Viagem embalada no mundo dos sonhos, saltei em Sta Isabel por volta das 7hrs, por sua vez envolta num brumado opaco, frio e espesso. Numa padoca do centro encontrei o Rafa, isabelense da gema e conhecedor daquelas bandas como ninguém, e após um breve desjejum na base da dobradinha pingado/pão-de-queijo zarpamos rumo Bairro Pau Serne, lá pelas bandas da Barroca Funda, situada a noroeste da cidade. Existe um busão de horários irregulares q vai praquelas bandas, o “Pau Serne”, mas como estávamos no conforto e praticidade dum veiculo particular este detalhe fica pra quem tiver de mais tempo disponível.
Pois bem, ao invés de rodar pela Rod. Pref. Joaquim Simão (SP-56) sentido Igaratá, o Rafa foi por outra via paralela, precária e envolta por bonita mata secundária, corta o miolo do bairro do Jaguari sentido a Estrada Ouro Fino. Inicialmente de paralelepípedo, não demora pra Estrada Municipal George Barrajard se tornar de chão batido duro. Numa curva onde o horizonte se abre, a paisagem delineia o recorte escarpado opaco da Serra do Itaberaba com seus cumes totalmente encobertos por espessa nebulosidade. Uma vez na “Estrada do Ouro Fino”, bastou tocar sentido Igaratá e adentrar na “Estrada da Pedra Branca”, onde rodamos sinuosamente sentido noroeste, até um pouco depois do km5.
Deixamos o veiculo no cruzamento da estrada com outra via menor, a “Estrada Jaguari/Pedra Branca”, na verdade deixamos no acostamento duma casa bem do lado deste cruzamento. Há uma placa da “Reserva Ibirapitanga – RPPN Rio Pilões” como referência.“É o único lugar pra deixar o carro seguro próximo da Pedra!”, garantiu Rafael. “Pelo menos sempre encontrei o veiculo, na volta!”, emendou. E assim, as 7:45hrs começamos a andar, inicialmente retornando 1km pela “Estrada da Pedra Branca” até o cruzamento com a “Estrada do Pau Serne”, marcada por uma placa de válvulas da Petrobrás.
Uma vez na “Estrada do Pau Cerne” basta tocar por ela cerca de 3 ou 4km pro norte. Via estreita e bem bonita, cercada de morros verdejantes por tds os lados, q basicamente serpenteia o fundo de vale do Rio Pilões, q é cruzado varias vezes ao longo do trajeto. Algumas chácaras, haras e sítios pontilham o trajeto, assim como alguns lagos, muitos deles bastante secos q denunciam a forte estiagem q vem se debruçando sobre td região sudeste.Numa curva do trajeto, porém, é possível avistar nosso destino elevando-se cerca de 200m acima do nível da estrada. Um enorme morro esmeralda coroado por um enorme domo rochoso, naquela hora, envolto por brumas incertas.
As 9:10hrs damos de cara com nosso destino, a frente da casa da Dna Tereza, de onde parte a trilha pra pedra. Como referência do lugar, a casa está na frente da enorme “Pousada Vale das Cachoeiras”, não tem erro. Por sorte encontramos a supracitada tiazinha de saída, do contrario teríamos q rasgar mato – pelo morro de reflorestamentos da esquerda ou pelo alto capinzal da direita – pra aceder a picada principal. Mas o melhor foi saber q seus cães estavam bem presos, dentro de casa. Afinal, eles poderiam se tornar obstáculos mais q consideráveis logo no inicio do trajeto.
Com permissão de entrada mais q concedida pela simpática senhora, cruzamos o pequeno portão de madeira da frente, ladeamos a casa pela direita (onde estridentes cães em seu interior ansiavam por nos pegar) e caímos numa pequena estradinha de terra q subia rumo a montanha. Cruzamos um pequeno galpão, ladeamos um laguinho com gansos mal-encarados e fomos de encontro um canavial, já ao pé do morro. No canavial (e misto de alto capinzal) é preciso farejar a vereda, q atravessa algumas bananeiras e tropeça com um cercado de arame farpado, onde é preciso agachar pra seguir adiante.
Após a cerca não tem mais erro, pois a vereda se encontra bem batida e óbvia a nossa frente, subindo forte a encosta do morro em meio a espessa mata secundária. Mas após ladear a encosta nossa rota aperta pois a picada parece investir frontalmente a parede da montanha, e a subida se torna íngreme e interminável, praticamente em linha reta pra cima. O chão forrado de folhas se alterna entre terra batida e terra fofa, mas nada q ofereça maiores dificuldades ao andarilho bem-disposto e determinado. No caminho ignoramos uma bifurcação saindo pela direita e q acompanhava a encosta, em nível, afinal nossa rota diz q devemos apenas subir e ganhar altitude. Mas esta bifurcação será nossa opção de “exploração”, na volta.
Mas algo de 80m acima nossa rota parece suavizar e se mantém em nível, acompanhando a encosta do morro, onde alguns troncos e mato tombado surgem como único obstáculo da pernada, até então sussa e desimpedida. Mas não demora pra declividade novamente apertar e surgir os primeiros rochedos do caminho, onde é preciso ladeá-los pela direita, na base. Mas somente depois dos 110m de altitude é q a pernada aperta de vez, o barranco inclina mesmo e as mãos tornam-se tão importantes qto os pés, numa escalaminhada q lembra muito a subida do Pedrão de Quatinga ou o trecho final do Pico Guaraú, em Peruibe. A única diferença e q o chão parece esfarelar ao menor contato, o q redobra nossa atenção ao se agarrar em qq mato, rocha ou tronco antes de apoiar o pé no chão. Mas a medida q se ganha bem altitude, a mata muda de tons, bromélias surgem agarradas a rochedos e frestas na vegetação emolduram belas paisagens.
Após este extenso trecho de escalaminhada vertical, nos espremer entre o arvoredo e a base da pedra principal pra bordejá-la pela esquerda, e finalmente escalaminhar as ultimas pedras no q parece ser um selado, as 9:45hrs emergimos finalmente nos modestos 763m do alto do pico. Alias, 864m pelo GPS do Rafa embora a carta acuse 10m a mais. Discrepâncias e números a parte, o q importa mesmo aqui é o visual aqui de cima, amplo e generoso. Da larga e extensa rampa rochosa do alto se tem uma vista privilegiada de praticamente td extensão do quadrante sul, pois o lado oposto se encontra escondido pelo remanescente de mata do topo. Mas Sta Isabel e a zona norte de Sampa é perfeitamente visível, assim como o recorte escarpado de td Serra do Itaberaba sendo revelado a medida q as brumas se dispersavam, deixando evidente inclusive os picos maiores, como a Pedra Branca e a Pedra Preta. O visual natureba lembra muito o da Pedra do Sapo, Pico da Esplanada, Garrafão, Gavião ou Itapanhaú, pois o cenário guarda mtas semelhanças com a região de Biritiba-Mirim.
E la ficamos eu e o Rafa descansando um tanto, ao mesmo tempo em q confabulávamos a respeito da pedra. Me surpreendeu o fato do lugar estar isento de lixo, embora houvesse marcas de fogueira. Outra coisa q me chamou a atenção era aquele enorme e áspero domo rochoso carecer de qq mácula humana, como grampo ou chapeleta, tendo em vista q ali é lugar ideal pra pratica de rapel. “Sinal do desconhecimento geral das belezas de Sta Isabel!”, reitera Rafael. Aliás, ele próprio, morador da cidade desde q se conhece por gente, conheceu a pedra apenas a pouco tempo, qdo o pico despertou-lhe a atenção ao avistá-lo qdo passava de carro. Incrível q existam lugares desconhecidos assim, ainda bem preservados. Pra completar aquele belo cenário, a trilha sonora no alto resumia-se ao silêncio inato do lugar, mesclado ao chiado das maritacas e á algazarra dos bugios nalgum vale transversal.
Após quase uma hora de descanso e contemplação começamos o retorno pelo mesmo caminho, já com o sol a pino. Após o trecho de escalaminhada, a única diferença da volta foi q ao invés de decidir ir pra casa da Dna Tereza tocamos pela bifurcação avistada no começo da trilha (lembra?). A dita cuja costeou a montanha em nível, sem perda nenhuma de altitude durante algum tempo pra finalmente desembocar no aberto, mais precisamente num largo caminho q cortava o pasto na encosta aberta do morro. Tocando por ele logo caímos no pasto propriamente dito, onde descemos em meio ao alto capinzal na diagonal (e representou nosso único trecho de “vara-mato” do dia!) ate dar nos fundos duma residência abandonada, vizinha algo de duas ou três casas a direita da de Dna Tereza.
E após, literalmente, “pular o muro” num piscar de olhos nos vimos outra vez na “Estrada do Pau Cerne”, onde tocamos a volta pro veiculo. Olhando por sobre o ombro tenho minha ultima visão da pedra, agora realçada pelo sol do meio-dia q lhe confere um aspecto similar ao da Pedra Grande, de Atibaia, ainda mais recortada sob um céu de tonalidade azul intensa. Uma vez no carro tocamos pela “Estrada da Pedra Branca” e fizemos um breve pit-stop no Bar do Paulinho, alguns “kaemes” acima, onde mastigamos um delicioso pastel bebericando cerveja, tendo como vista privilegiada o domo reluzente da Pedra Branca bem a nossa frente. Lembrando q no caminho ate ali havíamos passamos pela minúscula base operacional do Pque Estadual da Serra do Itaberaba. Antes de me despedir do Rafa e tomar condução de volta pra Sampa, como ultimo atrativo do dia passamos por umas quebradas onde passamos pela “Cachu da Petrobrás”, q na verdade são apenas corredeiras q viram balneário a beira do Rio Jaguari. Enfim, madrugar naquela manhã realmente havia valido (e muito) a pena.
Como consideração final fica a dica de q este é um roteiro breve e sussa de menos de meio-dia, ideal pra família e q pode ser emendado com qq outro atrativo da Serra do Itaberaba. Outra consideração importante é a de manter a privacidade dos moradores (e a sua) não incomodando e pedindo licença sempre q possível. A entrada da trilha parte dos fundos da casa da Dna Tereza e, portanto, é necessário pedir permissão pra aceder a sua propriedade. Até pq dentro tem dois cachorros nada amigáveis. Em caso dela não se encontrar na casa, a outra opção é adentrar pela segunda trilha mencionada neste relato, q intercepta a picada principal partindo do pasto da encosta do morro. Não é difícil, basta ir de encontro um corte no morro q se avista de longe, a partir da estrada. De qq forma, a lei da “boa vizinhança” é fundamental pra q tds possam usufruir da “Pedra do Pau Cerne” de forma consciente e responsável. E assim, as belezas da Serra do Itaberaba estejam ao alcance de todos.