Pilatos lavou as mãos e deixou que Jesus fosse crucificado. No alto do morro, esse mesmo Pilatos, líder, soberano, permitiu que a influência das pessoas conduzisse sua decisão e tudo ocorreu: Jesus morreu e o mundo conheceu um triste lado que as pessoas carregam dentro do peito.
Às vezes um sim transforma toda uma vida, para melhor ou para pior. E o sim de Pilatos foi ouvido aos sete ventos e até os dias de hoje as dores de Jesus podem ser sentidas.
O caminho que leva a Pilatos é de reflexão. O tempo nublado anunciava um dia triste. A montanha é soberana e ao longe se pode notar sua magnitude e alcançar seu cume é um desafio para as pernas. É preciso persistência e determinação.
A terra árida mostra um lugar sofrido, atingido por inúmeras queimadas. Talvez fosse um castigo da natureza para o grande Pilatos por ter dito o sim da morte. Mas bastam alguns passos e um pouco de silêncio para notar que a vida ressurge em meio à morte. Os pássaros cantam alegremente bem próximos a trilha. E não são apenas uns ou outros, são várias espécies criando seus filhotes naquelas terras.
Mas ao alto as pegadas e as fezes mostram que felinos também caminham por essa região. Pensar em encontrar com um animal dessa magnitude causa ansiedade e medo, mas saber que eles ainda caminham por estas terras nos deixa felizes em saber que a vida sempre ressurge, mesmo após a morte.
As plantas com seus espinhos, que no início da caminhada agarravam em nossas roupas, parecendo nos pedir para ficar, já não se mostram mais agressivas. Em meio a restos de cinzas nascem lindas flores. Nas pedras aparentemente sem vida, frágeis orquídeas se mostram resistentes aos ventos, ao sol e a chuva. O caminho ganha um novo brilho.
Mesmo após a morte, Jesus se mantém vivo nos corações e perdoar foi seu grande ensinamento. Talvez por isso, Pilatos, mesmo que no início se mostre um inimigo, ao conhecer suas trilhas, vemos que há muita beleza em suas terras.
O tempo escuro e as gotas da chuva já foram embora. As tempestades passam. Aos poucos o sol mostra uma paisagem linda. Uma extensão de cores, uma leveza no ar. Somos presenteados com um céu azul e um brilhante sol nos permite ver as cidades de um ângulo diferente. Alguns morros ainda mostram cicatrizes de tragédias anunciadas. Em outros pontos dá para notar o avanço da civilização por lugares perigosos e nesse momento me pergunto: se essas pessoas vissem o mundo do lugar que estamos agora, será que teriam coragem de viver onde vivem?
Embora Pilatos tenha sido o grande vilão da história, a montanha que leva seu nome possui uma energia muito forte, capaz de intensificar os amores, fortalecer relações. Estar ali foi mais uma superação, passo a passo, suspiro a suspiro.
Agora, quando o sol começa a buscar as montanhas para repousar temos que retornar a nossas vidas, levar os ensinamentos adquiridos secretamente e deixar que outros, ao carregarem suas cruzes morro acima, percebam as belezas contidas em cada curva de Pilatos. Que em nossas pegadas possamos entender que toda ação gera uma reação, que toda decisão precisa ser levada a frente mesmo que pareça perigosa. Pois o perigo está presente em toda a caminhada, mas precisamos acreditar em quem caminha ao nosso lado, precisamos acreditar que é muito bom ter alguém que se preocupa, que nos ama de verdade, que ajuda a curar as feridas e a traçar novos caminhos.
Nesse dia quando tive a oportunidade de conhecer um pouco melhor os caminhos de Pilatos, aprendi que todos os caminhos possuem suas histórias e seus ensinamentos. Pude dissolver o restinho de rancor que havia em meu coração e deixar que o novo amor crie raízes, sem medos, sem traumas, sem comparações. Apenas deixar que o amor, assim como o de Jesus, seja sentido por todos que conhecerem minha história.
VALÉRIA MARQUES