Acampamento na Trilha Inca, Peru – Fonte: Arquivo pessoal
Não são descrições de natureza, estas eu as deixo para o jornal Mountain Voices, e sim relatos de experiências curiosas que nela ocorreram. Elas aparecerão ao longo do tempo. Esta é o primeiro relato, espero que você aprecie.
Ursos na Trilha Inca
A Trilha Inca foi minha primeira travessia longa e também minha primeira caminhada fora do país. Foram quatro dias durante um inverno quente e luminoso. No Brasil havia um inverno rigoroso. Lembro-me das águas quase congeladas do Rio Paraíba e da neve no Planalto de Itatiaia, duas paisagens que jamais voltei a ver.
E, para me preparar para o que esperava fosse um frio intenso, tomava banho nu todas as tardes na Cachoeira dos Frades. Ela fica à entrada de um vale mágico em Friburgo, onde o frio era terrível. Hospedava-me num albergue precário arrendado por uma inglesa, que me emocionou por sua bondade. Hoje o prédio ainda existe (estive lá ano passado), mas não mais a inglesa.
Nossa travessia no Peru foi espetacular, percorremos remotos campos altos de um povo esquecido, cujo legado foram as ruínas de pedras ao longo do caminho. Foi quase exatamente na mesma data em que Hiram Bingham descobrira a cidade perdida de Machu Picchu, no século XIX.
O mais elevado ponto da Trilha Inca é o chamado Passo da Mulher Morta, acho que a 4.150m, uma longa rampa rochosa que desce depois para um campo arbustivo. O calor era tão forte que eu caminhava de sunga,
mochila e bota, sem camiseta.
Lá embaixo vi alguns avisos que diziam algo como “Cuidado, Osos!” Pensei que havia ossos esparramados pelo chão e comecei a procurá-los. Meu espanhol deficiente não me avisou que lá havia o perigo de ursos, não de ossos. Estes animais às vezes apareciam e ameaçavam os andarilhos.
Ainda bem que não encontrei nem ossos nem ursos…
Acampamento na Trilha Inca, Peru – Fonte: Arquivo pessoal