O cancelamento em cima da hora dum rolê oficial devido ao péssimo tempo me deixou subitamente a "ver navios" num dia realmente pouco convidativo pra cair no mato. A fina garoa q caia do tapete acinzentado q forrava o céu naquele início de manhã deixaria qq um predisposto mesmo a permanecer no berço. Contudo, como não havia me programado pra permanecer em casa mofando, imediatamente lancei mão dos inevitáveis “Planos B”, rolezinhos "tampa-buraco" arquivados no limbo virtual do meu PC, q ao menos atendessem a demanda das horas restantes daquele domingo. Isto é, q fosse um rolê próximo, de fácil traslado e de meio período! Foi aí que apareceu Parque Anhanguera no topo da lista que imediatamente abracei, sem pestanejar. Até pq desde q atravessei “involuntariamente” seu setor norte – isto é, o trecho não aberto a visitação – que ficou a vontade de conhecer o setor oficial do mesmo. Pronto, resolvido.
Dessa maneira e sem pressa alguma, saltei na estação Perus as 11:30hr após viagem tranquila pela Linha Rubi da CPTM. A chuva fina ainda persistia mas não era nada assim q desestimulasse o rolê proposto. Bem, da estação tomei direção leste até cair na Av. Doutor Silvio de Campos e por ela segui indefinidamente. Poderia ter pego qq condução q circulasse pela Estrada de Perus, mas levantara bem disposto naquela manhã e resolvi andarilhar os quase 4kms q me separavam até a entrada do Parque.
Cruzei praticamente td Perus pela supracitada avenida, que não é assim tão grande, diga-se de passagem. A via é bem sinalizada e tem indicações da unidade de conservação a td momento. Assim, margeei a Vila Operária, Vila Inácio, o Jd Sta Rita e Jd Russo, onde passei pelo supermercado Ricoy, já memorizando esse lugar pra pegar meu “liquido precioso”, na volta. Cruzei com uma feirinha rolando a td vapor num cruzamento no Jd Paineira até q finalmente abandonei os últimos vestígios de urbanização de Perus, mais adiante. Mas foi somente qdo passei sob o viaduto da Rod. Bandeirantes (SP-348) q pisei de fato na Estrada de Perus, cercado de abundante verde de ambos lados, q correspondem aos gigantescos reflorestamentos da Cia Melhoramentos. O trecho entediante de asfalto me tomou cerca de 40min, pois cheguei na entrada do parque propriamente dito por volta das 12:30hr, já sem sinal de chuva e com tempo até ameaçando melhorar.
Mal entrei os sentidos se avivaram, pois o aroma inconfundível de ameixas inundou minhas narinas e uma explosão de verde encheu meus olhos. Sem saber nadicas do lugar fui apenas seguindo a sinalização, pois a primeira impressão q tive é do Anhanguera ser uma espécie de Ibirapuera, porém mais rústico. Tem boa infra, com campinho de futebol, quiosques, churrasqueiras, playgrounds, heliporto, quadra poliesportiva e sanitários. Possui também um Bosque da Leitura e um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres na área de visitação restrita. Tem até um orquidário, um viveiro de plantas, um espelho d’água com carpas e um tal “Jardim das Borboletas” bem simpáticos. Tem tb vários funcionários de limpeza e seguranças circulando de lá pra cá. Apesar de ser dia domingo havia pouca gente no lugar, provavelmente devido ao tempo. Na verdade, havia mais cachorros q visitantes, sinal q muita gente abandona os pulguentos no lugar. Pena.
Contudo, dei preferência a ficar mais afastado da muvuca, concentrada próxima da entrada, e me pirulitei parque adentro através duma trilhinha q acompanha a ciclovia. Tocando sinuosamente pro sul e ladeando o morrote q aparentemente faz parte do serrote q abraça o parque, deixando o borburinho da criançada nos playgrounds mas ainda sentido o cheiro (delicioso) de picanha sendo assada nalguma churrasqueira próxima. Mas não deu nem 5min de pernada q o silêncio tomou conta do entorno, apenas quebrado pela respiração ofegante de um ou outro praticante de cooper no caminho. A vista é bem interessante, pois se resume a um enorme bosque de eucaliptos nas encostas, mesclado com remanescentes de Mata Atlântica, mata ciliar, brejos, várzeas e capoeiras no fundo do vale a minha esquerda.
Pois bem, andei algo de 10min pelo caminho, q tocou indefinidamente pro sul sem desnível algum até q começou a dar a volta – na altura do “Bosque Sol Nascente”, repleto de trepadeiras ornando o arvoredo – como q contornando o morro, onde logo deduzi q se seguisse por ele retornaria ao início. Numa minúscula guarita a segurança de plantão confirma minhas suspeitas. Pergunto duma enorme vereda q nasce da via principal e toca pro sul, mas a segurança parece saber menos do q eu apenas frisando o tradicional “você vai se perder pois ou a trilha fecha ou está cheio de bifurcação”. Pronto, é pra lá mesmo q eu vou!
Tomei a larga vereda – na verdade, uma antiga e precária estrada de reflorestamento – q seguia indefectivelmente pro sul, agora subindo em suave aclive como q indo de encontro ao alto daquele enorme serrote. O desnível é imperceptível mas do asfalto ate aqui não deu pouco mais de 100m pois pela carta me encontro no q parece ser o topo do morrote, ou seja, algo de 877m. Daqui em tese a veredona óbvia termina, mas observando bem existem duas variantes (menos óbvias) q nascem daqui em direções opostas: uma toca pro sul e outra percorre a crista pro leste.
Tomando então a primeira atravesso o capinzal, mergulho no frescor da floresta e começo a descer sinuosamente o contraforte sul do morro. Frestas na mata vez ou outra emolduram o recorte inconfundível do Pico do Jaraguá, com sua torre no alto espetando o firmamento. A descida então torna-se cada vez mais íngreme e erodida, onde sulcos maiores no caminho servem de degraus irregulares improvisados. Trechos escorregadios demandam atenção redobrada mas nada assim do outro mundo, pois a perda de altitude é rápida e agradável, envolta na mais e espessa mata, sem sinal algum de lixo. Mas em coisa de menos de 10min de descida desemboco nos cafundós dum quintal e, a seguir, no final duma rua cercada de casas. Uma moça me informa q estou no bairro Sol Nascente e q tem um pto de ônibus próximo. Olhei pro relógio e eram apenas pouco mais das 13hrs.
Pois bem, poderia ter terminado ali, numa espécie de “mini-travessia-norte-sul-do-parque”. Até porque dali bastaria ir até o asfalto da Rod. Anhanguera (SP-330), a oeste, ou ido até o Rodoanel Mario Covas (SP-021) e andado mais um tanto até Perus, a leste. Mas fazer isso seria terminar o rolê de forma inglória, a meu ver. Ao invés disso, dei meia volta e retornei a bifurcação anterior, no alto do morro. Ainda era cedo e resolvi dar continuidade a caminhada no miolo do Anhanguera. Então simbora!
Uma vez no alto do morro tomei a outra vereda, isto é, aquela q tocava pra leste pelo alto do morro em meio a um espesso eucaliptal. A trilha, até então batida, ficou mais confusa pois ora se escondia no mato ora surgia como por encanto. Sem falar no mato, bem mais alto e agreste, e muita teia de aranha no caminho deste setor do parque, sinal q é realmente pouquíssimo frequentado. No entanto, pra quem tem farejo de trilha não é problema algum se meter nestas bandas. Pois bem, a vereda então começou a descer aos poucos, como q dando a volta novamente pro norte. E tome descida pela encosta por trechos em que quase se mergulha em voçorocas de capim-navalha, onde ganhei alguns cortezinhos como souvenir. Em tempo, pra auxiliar nas bifurcações q se seguiram fui munido de bússola. Mas a rigor a direção sempre tomada foi pro norte.
Uma vez no fundo do vale a vereda se tornou mais evidente, ornada por um belo jardim de maria-sem-vergonha em ambos lados. Aqui em baixo do vale era bem mais fresco q no alto, o q aliviou o suor q escorria já faz tempo no rosto. Percebo q vou de encontro à encosta oposta do morro, numa espécie de “U”, isto é, a tradicional “ferradura”. O som inconfundível de água logo se materializou num pontilhão bem precário, q pela carta deduzi ser um afluente do Córrego Manguinho. Um bonito trecho de brejo e várzea pontuam este setor, onde banhados e lama eventualmente invadem a vereda. Este fundão nem lembra a parte superior do parque pois a vegetação é muito mais rica, exuberante e bonita, e espera-se que com preservação ela substitua a monocultura de eucaliptos presente na cumeeira dos morros.
Do fundo do vale fui então lentamente dando a volta como q retornando à encosta anterior, cruzando outro pontilhão q evita ensopar os pés. Reparo uma vereda escapando pela direita e uma rápida fuxicada revela q ela leva à rua a nordeste do parque.
Me mantenho sempre na vereda “principal”, agora cada vez mais óbvia e perceptível, onde começo lentamente a subir a encosta na diagonal, onde me deparo com outra bifurcação importante. Uma rápida fuxicada na variante da esquerda (q segue reto, sentido sudoeste) indica q essa trilha sobe forte e findam a ciclovia principal, e a sucessão de obstáculos de madeira logo apenas confirma q aquela nada mais é a “trilha das bikes” do parque. Retorno e tomo a picada da direita, q se embrenha na mata e começa a subir a encosta de forma agradável, tocando sempre pra noroeste. Com direito até uma elétrica cobra, q se pirulitou mato adentro após este q vos fala incomodar seu descanso estatelada na trilha.
E assim após caminhada tão aprazível como envolta no mais puro silêncio da mata, por volta das 14:30hr desemboco igualmente na ciclovia principal, mas já quase na entrada do parque. Final do rolê, claro! Missão cumprida. Me despedi então do Anhanguera, dando as costas aquela grata surpresa no quesito unidade de conservação, pra dar início a longa chinelada de volta a Perus e, consequentemente, pra Sampa. Em tempo, o Parque Anhanguera tem ainda outras veredas menos pisadas no seu contraforte oeste que provavelmente sirvam de motivo de retorno ao lugar. Mas agora na condição de “Plano A”, sem dúvida. Afinal, sua beleza rústica e inerente importância ecológica merecem o devido reconhecimento dos amantes de caminhadas no mato. O que prova mais uma vez q é possível tirar proveito dos parques urbanos, guardadas as devidas proporções com aqueles mais "selvagens". E que só fica em casa quem quer.
1 comentário
Muito bom relato! Obrigado por compartilhar a experiência!