Às 11 horas e 22 minutos do dia 14 de Maio de 1995, um paranaense de Foz do Iguaçu e um fluminense de Teresópolis entram para a história por serem os primeiros brasileiros a escalar o Everest, montanha mais alta do mundo com 8848 metros. Coincidência ou não, os anos que se seguiram foram anos de ouro para o montanhismo brasileiro de altitude e em vários capítulos Waldemar Niclevicz e Mozart Catão foram protagonistas de maneira positiva ou negativa.
Muito se fala que a relação entre os dois montanhistas azedou após o Everest. O fato é que Niclevicz teve ampla divulgação na mídia, feita através da assessoria de imprensa de seus patrocinadores da época e Catão não, pois seu maior patrocinador, a Petrobrás, estava em greve quando eles alcançaram o cume.
Por isso, a conquista dos 7 cumes foi uma verdadeira corrida, com Waldemar e Mozart disputando cada montanha. No final foi Niclevicz que acabou terminando o projeto antes, em 1997.
Um ano depois, em 1998 Catão começa um novo projeto que Waldemar havia tentado sem sucesso algumas vezes antes: Escalar a face Sul do Aconcágua. A surpresa foi que dois parceiros de Catão eram ex parceiros de Niclevicz, dentre eles Ronaldo Franzen Junior, o “Nativo” que havia sido companheiro do Waldemar na escalada do Elbrus na Rússia e também no Denali, no Alaska, mas que não havia feito cume em nenhuma delas. O resultado foi bem conhecido: Mozart foi pego por uma avalanche e faleceu na montanha junto com Alexandre Oliveira e Othon Leonardos. Seus corpos ainda estão lá.
Waldemar continuou indo para as montanhas e lançou um de seus maiores projetos: Escalar o K2, a segunda montanha mais alta do mundo e uma das mais difíceis também. Neste projeto, ele fez uma preparação muito maior. Escalou o Shishapangma de 8046 metros e o Cho Oyo (8201 metros) e conseguiu chegar ao cume do K2 em Julho de 2000, na terceira tentativa.
No entanto, de acordo com historiador do montanhismo Rodrigo Granzotto Perón, a maior contribuição de Niclevicz começou na sequência de sua escalada na Trango Tower no Paquistão, quando ele começou o projeto “Mundo Andino”. De acordo com Perón, o Mundo Andino marcou o amadurecimento de Waldemar no montanhismo, quando ele foi capaz de propor e executar um projeto inédito e independente, numa cadeia de montanhas menos conhecida, menos comercial e mais exigente no quesito de logística e experiência do montanhista. Waldemar é uma das pessoas que melhor conhece os Andes, fazendo cumes em todos os países andinos, da Patagônia ao Caribe, muitas delas remotas e pouquíssimo escaladas.
Em 2002, Waldemar sofreu o maior golpe de sua vida de montanhista, com a publicação de uma matéria na revista Época, onde ex companheiros, dentre eles Ronaldo Franzen Junior, o “Nativo”, afirmava que ele havia mentido sobre suas escaladas. Apesar de muito abalado e de ter perdido patrocínios e palestras após a reportagem, Niclevicz provou suas escaladas e também ganhou a ação que moveu contra a revista anos mais tarde.
A maior prova de que Waldemar Niclevicz é um dos maiores montanhistas brasileiros de todos os tempos se deu na ponta da corda. Mesmo com diversos brasileiros tendo feito o Everest depois dele, muitos de suas realizações não foram ainda igualadas. Ele é atualmente o brasileiro que mais fez montanhas de 8 mil metros no Himalaia. Escalou nas principais cadeias montanhosas do mundo. Escala em rocha, abre vias, fez repetições de vias de parede na rocha e ainda é um dos maiores difusores do montanhismo no Brasil, já tendo escrito 4 livros e ministrado milhares de palestras. Ele também voltou ao Everest anos depois e fez cume por outra rota, a do Nepal, pelo lado Sul. Por conta de tudo isso é um dos montanhistas mais consagrados e respeitados da América do Sul.
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