O pico do lobo guará

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Menos conhecido que o Pico do Lopo embora situado a nordeste de Extrema (MG), o Pico do Lobo Guará é uma elevação serrana tão interessante qto seu vizinho mais ilustre. Tb conhecido como “Pedra Chata III” por ser pto culminante da Serra do Itapeva, o morro guarda as mesmas características da Pedra da Macela, Pedra de São Domingos ou até da Pedra Grande. Isto é, além de escancarar um fantástico visu panorâmico do seu largo cume rochoso voltado pro norte, seu acesso se dá por precária estrada de chão onde um veiculo tracionado é fundamental. Entretanto, isso não impede q o mesmo trecho seja feito na sola, despretensiosamente. Foi o q fizemos num domingão preguiçoso, com esticada inclusive pras refrescantes cachus no Vale do Rio Jaguari.

Após rodar 100km da capital paulistana pela Rod. Fernão Dias (BR-381), viagem esta embalada em muita conversa q até passou despercebida, chegamos em Extrema por volta das 10:30hr sob o olhar altivo da enorme Serra do Lopo. O dia radiava, o sol estava a pino e o calor se fazia presente enqto cruzamos o miolo da cidade atrás duma tal “Estrada do Salto”. No carro, eu, a Carol, a Fê e a Vanessa pescoçávamos pela janela na busca de sinalização decente ao nosso objetivo, enqto o motora Gustavo apenas tocava pra frente. Foi qdo começou a surgir emplacamento indicando “Pque Municipal do Jaguari” q as coisas ficaram mais claras, uma vez q o dito cujo tava na direção desejada.
Uma vez na poeirenta “Estrada do Salto” não tem segredo pois basta seguir por ela. Imediatamente percebo q adentramos o vale do Rio Jaguari, tanto q a estrada passa a acompanhar o ilustre curso dágua ao longo de td trajeto. A via de chão é bem tranquila embora tenha trechos curiosamente asfaltados q se alternam no inicio. Chácaras, sítios, apiários, cachaçarias e pesqueiros pontilham este comecinho de vale, assim como podemos já reparar bem a nossa frente nosso destino, elevando-se altivamente do vale. No caso, o contraforte sul da Serra do Itapeva, que atende pelo nome de serrote José Martins. Mas um pouco mais pra frente é possível avistar uma antenona coroando o pto culminante daquele enorme serra q se espicha na direção nordeste. E era pra lá q a gente tava indo.
Após rodar coisa de 10kms e passar pelo Pque Municipal Cachoeira do Salto é preciso atentar pruma bifurcação a esquerda, bem sinalizada diga-se de passagem. Aliás, meu croqui pra chegar ao pico foi totalmente desnecessário pois a partir do estradão de terra ele esta bem sinalizado boa parte do trajeto. A ramificação passa sobre o Rio Jaguari e começa a subir suavemente a encosta sudeste da serra, e bastou sempre tocar pela principal em meio a pequenas fazendinhas e sobrados. A paisagem transpira roça e a presença de boizinhos pastando apenas reforça esta primeira impressão.
Pois bem, não deu coisa de 5min sendo transportados pelo bravo Palio q chegou um momento que a estrada embicou de vez, na mesma medida em q ficava cada vez mais e mais precária. Hora de prosseguir a pé, claro! Estacionamos no acostamento de pasto sob a sombra refrescante da mata secundária daquele trecho de encosta, arrumamos as mochilas, esticamos o esqueleto aqui e ali, e começamos finalmente a pernada até o alto do morro. Um rápido vislumbre no celular me diz q a pernada efetivamente começa as 11hrs. E vamos q vamos.
Inicio de subida logo emerge no aberto, em aclive imperceptível, onde o sol abrasante não tarda a cozinhar nossa cachola obrigando não só a passar repelente como tb a fazer uso do inseparável boné. A estrada se alterna com frequência entre trechos bem asfaltados e outros de terra, precariamente erodidos, mas no geral a pé a ascensão é tranquila. Numa curva, a surpresa ao ver uma chácara abandonada onde um cãozinho descansa tranquilamente de sua casinha, estrategicamente disposta em cima duma encosta, tal qual uma mini guarita. A vista privilegiada do pulguento gerou uma certa invejinha de boa parte dos presentes, com direito até algumas ofertas de aluguel direcionadas pro sortudo bichinho.
A ascensão prossegue no mesmo compasso e a paisagem não tarda a mudar conforme a altitude aumenta. Pastos, cercas e ultimas chácaras não tardam a dar lugar á exuberante mata secundaria, onde oportunos capões de mata oferecem a sombra necessária nas indefectíveis dobras serranas. Ali, nestes fartos capões, a presença de água é constante assim como de captações oriundas das fazendas ao sopé do morro. Neste trecho sombreado a rota embica, distanciando uns dos outros. A Carol sente uma breve indisposição, opta por fazer uma breve parada e fala pra gente prosseguir q logo depois nos alcança. Afinal, ali não tem como se perder.
Surge então uma porteira com as inscrições “Delcor Figueiredo – Sitio Ecologico – Proibida Entrada”, mas basta entrar desimpedidamente pois o acesso ao morro é livre. Isto pq a área (embora particular) esta em processo de desapropriação, gerando uma briga entre a Prefeitura de Extrema e os proprietários. Mas logo adiante não tarda pra pernada emergir novamente no aberto, pra suplicio de nossos miolos. As encostas a nossa volta reluzem do tom verde claro das pastagens, pontilhada pelo preto e branco dos boizinhos ruminando, ao longe. Já a beira da estrada fica ornada por voçorocas de altas samambaias, algumas até reluzindo da poeira vermelha oriunda do solo. Numa curva, uma enorme lapa rochosa oferece tanto abrigo em caso de chuva como questionamento sobre sua origem. Enqto isso, a paisagem se expande ao olhar possibilitando um belo vislumbre de gde parte do quadrante leste.
Mais acima, uma segunda porteira é transposta ao mesmo tempo em q se bordeja durante um bom tempo, quase em nível, um vasto eucaliptal. Até q após cruzar a ultima porteira – mais simpática e com os dizeres “Mantenha fechado /Criação de Gado” – desembocamos em definitivo no aberto, diante da última encosta a ser vencida. Dali, do lado de um cocho abandonado, uma casinha de sapê tomada pelo mato e uma nova placa q reforça a necessidade dum veiculo 4×4 a partir daquele pto, se tem uma noção do qto falta ao topo como vislumbre pleno do mesmo. Uma enorme antena apontando pro céu no alto dum largo paredão verde-claro de pasto desperta a atenção pela relativa e aparente proximidade, mas o q chama mesmo a atenção é a altíssima e estupida declividade q a estrada toma a partir dali. Mesmo asfaltado, aquele trecho tremendamente pirambeiro demorou pra ser vencido e várias pausas pra retomada de fôlego foram necessárias pra concluir jornada. A Fê subiu de boa, seguida logo atrás pelo Gustavo; por sua vez relativamente distante da Vanessa, q arfava a cada passo q parecia uma eternidade. A Carol não tardou a se juntar conosco, minutos depois.
Uma vez no alto dos 1452m por volta do meio-dia, bastou tocar tranquilamente pela suave crista até desabar na sombra proporcionada por algumas araucárias q dividiam espaço com as antenas de telefonia. E alguns “boizinhos montanheiros” tb, claro.  Após vencer coisa de 550m de desnível (algo ínfimo pros padrões montanheiros) ficamos ali de boa, descansando, beliscando lanche e apreciando o belo visu ao redor. Mas o melhor é galgar a largo e vasto domo rochoso do topo, q inclusive serve de rampa natural de vôo livre mas no momento era de domínio exclusivo nosso. A vista panorâmica contempla desde Itupeva até Extrema e a Serra do Lopo, no quadrante oeste; enqto q do outro lado a vista se expande pelo restante do Vale do Rio Jaguari, Camanducaia e a silhueta recortada das serras de Monte Verde, com destaque pro Pico do Selado e elevações vizinhas.
Enqto o povo descansava a contento ao sol daquele inicio de tarde, fui dar uma bisbilhotada ao largo da crista pro sul, onde existe discretamente uma cerca e um caminho q toca pra oeste. Fuçei tb até o extremo norte da enorme laje apenas pra fazer algumas futuras prospecções, pois a crista se espicha sentido Itapeva revelando caminhos visíveis a olho nu de onde me encontrava. Claro q nem sugeri isso pro povo pois além da logística imprópria e do tempo escasso, reparei q os demais integrantes estavam mais propensos a um rolê sussa. Sentimento partilhado inclusive por mim. Quem sabe fica pra próxima. Nessas divagações tb me veio a mente o motivo do nome do pico ser Lobo Guará, e cheguei a conclusão q deva ser algum denominativo variante da Serra do Lopo, pois “Lopo” vem de Lupus, q por sinal significa “Lobo” em latim. Se estiver equivocado por favor alguém me corrija.
Após cerca de uma hora de relax, resolvemos retornar pelo mesmo caminho. Boa ideia, pois naquele mesmo momento chegava gente numa possante picape. A volta foi no mesmo compasso, mas como pra descer todo santo ajuda o retorno foi bem mais rápido q a ida. No caminho, eu e a Carol surrupiamos muitos limões dos pés q margeavam a estrada a td momento. Mas com a tarde rapidamente se esvaindo, uma vez no veiculo resolvemos conhecer algum remanso do Jaguari.
Pra isso bastou prosseguir pela “Estrada do Salto” vale adentro em meio a morraria por mais uns 10km, num trajeto q faz parte da “Rota das Águas” de Extrema. Passamos pelo pacato Bairro do Salto, cujo movimento parecia orbitar em torno de sua simpática igrejinha central, além da famosa bifurcação q tem como destino Monte Verde. Da mesma forma anterior, aqui bastou acompanhar a ótima sinalização no caminho, no caso, a duma tal “Prainha”.
Antes dessa tal “Prainha”, porém, temos uma breve parada no q pareceu ser um remanso mais rústico q nosso objetivo. A dica foi mais q acertada, pois ali ente os lajedos cavados pelo Jaguari despencava uma bela cachu formando um poço relativamente nervoso, visivelmente improprio pra banho. Mas a beleza do lugar se resumia a contemplação daquele balneário natureba e de apreciar o ribeirão prosseguir seu curso sinuoso em direção a Extrema. Uma trilha acompanhava este trajeto, proporcionando perspectivas diferenciadas da cascata e das furiosas corredeiras formadas no caminho. O único e seguro local de tchibum era nas mansas águas logo acima da queda, onde algumas crianças se divertiam até não poder mais. Mas diante do frio estúpido da temperatura da água, nos limitamos apenas a apreciar aquele belo remanso ou, no máximo, molhar os pés a margem do Jaguari. Que o digam a Vanessa e a Carol.
Na sequência iniciamos o sagrado ritual da volta, ás 16hr, abrindo mão da tal “Prainha” (próxima do Restaurante Filé do Peixe) e do “Parque Municipal Cachoeira do Salto Grande”, pois mesmo sendo atrativos turísticos locais (com boa infra aos visitantes, quiosques, playground, etc) nos pareceram “turísticos e muvucados” demais, algo q batia de frente com nossa busca por paz, tranquilidade e interação com a natureza. No entanto, isso não significa q você deixe de conhecer estas boas iniciativas da Prefeitura de Extrema em permitir q os visitantes possam usufruir de momentos de lazer, sossego e contemplação das águas do Jaguari com td mordomia imaginável.
Assim sendo e com mais q horário apertado, nos despedimos do vale do Jaguari e, de quebra, de Extrema, iniciando o trajeto de volta á Paulicéia mas com promessas de breve retorno a esta q é chamada com propriedade de “Portal de Minas”. E a tradicional e sagrada bebemoração final? Bem, ela se limitou a dentro do veiculo mesmo. E foi mais q bem-vinda diante do pedante congestionamento q nos surpreendeu na metade do trajeto, na Fernão Dias, provavelmente devido a um acidente. Paciência, faz parte, não?
Pra finalizar não custa nada reiterar q o Pico do Lobo Guará é programa facílimo q não demanda problema de navegação nem tampouco gde desgaste físico. Até pq com bom veículo tracionado se chega ao topo. Noutras, basta apenas disposição de andar. A despeito do seu pto culminante, a Serra do Itapeva (q significa “pedra chata” em tupi-guarani) se estende no sentido noroeste através duma estreita crista até desembocar próximo da cidade q roubou até seu nome, sendo mais próximo desta q de Extrema. Logo, é possível esticar a pernada numa curta travessia até Itapeva, bastando apenas acertar a logística apropriada. Outra dica é um circuito subindo pela estrada e descendo pelo outro lado da serra até a Fernão Dias ou Extrema, através da discreta estradinha de terra q nasce ali do alto. Portanto fica a gosto do freguês encarar uma serrinha sussa como a gente, ou adrenar um pouco mais neste rincão lindamente natureba da pacata Extrema, o simpático “Portal de Minas Gerais”.
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

1 comentário

  1. Maria clemencia Gomes dos Santos em

    Seu texto me deu ânimo pra subir o pico em breve, comprei um imóvel a um ano e meio ali próximo a bifurcação que atravessa o rio Jaguari, fico olhando os aventureiros saltarem em voo e pousarem eufóricos. Como estou sempre ali perto vou só adiando a aventura.

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