Após embarcar no latão da Ouro Branco bem cedo e tomar rumo sudeste pelo asfalto da PR-090, saltamos na entrada de Sapopema por volta das 10:15hrs. A pequena distancia de quase 100km q separam Londrina de “Sapopes” foi incrivelmente vencida após intermináveis 3hrs de sacolejo por conta das incontáveis paradas nos vilarejos ao longo do trajeto, deixando e recolhendo td tipo de local imaginável. Claro, boa parte deles portando seu indefectível chapeuzinho palha e alguma tralha de gde porte como bagagem. Ibiporã, Jataizinho, Assaí, São Sebastião da Amoreira, Sta Cecilia do Pavão, Nova Sta Bárbara, São Jerônimo da Serra e finalmente “Sapopes”. Eis o tradicional “pinga-pinga pé-verméio”!
Pois bem, após saltar no pto em frente ao posto de gasolina bem na entrada da cidade, eu, a Lau e um quarteto de jovens estrangeiros. Calma, já explico. Durante a viagem no latão conhecemos essa turminha do exterior q tb ia pras cachus de “Sapopes” mas não fazia idéia de como chegar. Como iam na “porralouquice” sugerimos q fossem conosco e eles não pensaram duas vezes em colar junto, claro. Pertenciam a uma ONG q fazia trabalho voluntário em Londrina e seu grupo era composto por um casal alemão e uma jovem do Quirquistão (!!??) dos quais nem recordo nomes, uma vez q simpatizei mais com meu conterrâneo, o Orlando, oriundo do sul do Chile. Aliás, este era o mediador do quarteto, pois tavam no pais a apenas uma semana.
Sem pressa alguma e agora em animada cia, retrocedemos pelo acostamento do asfalto até a ponte sobre o Rio Lajeado Liso, onde tivemos nosso primeiro contato visual com o ribeirão, embora naquele trecho fosse bem manso e calmo. Diferentemente da ocasião anterior, as outrora águas furiosas, turvas e barrentas agora reluziam calmas, cristalinas e translúcidas, o q era ótimo sinal. Da mesma forma, o tempo limpo e ensolarado em nada se comparava áquela ocasião pouco proveitosa. Tomamos então uma precária estrada de paralelepipedos à esquerda da ponte q nos lançou pra noroeste, e assim fomos indefinidamente. Conforme se avança casas e olarias foram rareando até finalmente os horizontes se abrem revelando uma vastidão de campos cercados de colinas forradas de pasto. Num piscar de olhos os sentidos se ampliam e os odores da roça invadem as narinas naquele contexto rural, enqto o sentido da visão consegue distinguir algumas elevações ao longe, como a Serra Geral de Ortigueira, q destoa imponente a oeste.
Alcançamos a primeira bifurcação na estrada, onde tomamos á esquerda de modo a manter-nos relativamente “próximos” do rio, cujo tradicional capão de mata cercando seu leito era visível mesmo de longe. Mas qdo os paralelelpipedos dão lugar a um poeirento chão de terra vermelha a via desvia pra sudoeste, onde não tarda em deixar a principal em favor de outra perpendicular, como q indo de encontro á pequena fazendinha q coroa o alto de um pequeno serrote. Dessa forma, após descer um tanto pra depois subir novamente totalizando coisa de 4kms, alcançamos um pequeno portal de madeira sem identificação alguma q parecia ser a entrada do nosso destino.
Adentramos o portal pouco antes das 11:30hr e fomos de encontro á única pessoa na casinha maior q parecia ser “base” dali, q por sinal vendia bebidas e refeições. Fomos recebidos pelo simpática e prestativa Amanda, q confirmou nossas suspeitas afirmando q ali mesmo era a Faz. Salto das Orquideas (ou Faz. Cachoeira, como consta na carta) e nos colocou a par de como as coisas funcionavam ali. Se antes bastava apenas chegar e encostar a barraca no belo e amplo gramado ao redor agora havia uma pequena taxa pra isso, tendo à disposição uma infra até q razoável. Mas no nosso caso, onde não pernoitaríamos ali, não havia necessidade de pagar taxa alguma. Ah, e contrariando nossa expectativa de trombar com farofada em peso, não havia vivalma no lugar e mto menos barracas ou visitantes. “É que ontem teve festa na cidade e o pessoal agora deve ta de ressaca.. mas espere só o movimento começar a ferver no meio da tarde!”, conta Amanda.
O lugar não mudara nada desde a última visita, aquela pequena vendinha do lado do enorme gramado q por sua vez era vizinho dum bucólico bosque q descia suavemente de encontro ao rio. Mas como tds estávamos com fome, antes de começar a pernada eu e a Lau mandamos uma gelada pra molhar a goela e mastigamos um delicioso bolinho de abóbora com carne seca pra enganar o bucho. Tivemos até q dar uma mãozinha pros gringos a escolher o q pedir. Não bastasse ser vegetarianos, o q limitava bastante suas opções, dureza foi sugerir experimentarem a porção de mandioca, q pediram junto com batatas fritas. As fritas eles devoraram já a mandioca comeram apenas metade, alegando q tinha muita gordura. “Uai, e as batatas fritas não tem gordura?”, pensei comigo mesmo. Melhor pra mim, q limpei o prato deles.
Pois bem, como tínhamos q otimizar a pernada antes da chegada da muvuca arrumamos nossas coisas, ajeitamos a
mochila e pusemos-nos a andar. Do gramado basta descer até a margem do rio, distante coisa de algumas dezenas de metros, e começar a andar um tanto pelo seu leito pedregoso até as quedas propriamente dito. Mas como nosso tempo era curto pra perder tempo andando pelo rio, não pensei duas vezes em me valer duma vereda (q conhecera da vez anterior) q se embrenha na mata e já cai logo no alto da primeira gde queda, servindo de atalho. E foi o q fizemos.
A picada sai próximo dum laguinho nos fundos da casa principal e basicamente bordeja uma precária cerca. Inicialmente a vereda mergulha na mata e sobe suavemente um encosta florestada. Após subir um tanto, desviar de arbustos e gravatás espinhentos e bordejar a encosta através duma trilha bem estreita, a mesma começa a descer em forte aclive, acompanhando o curso dágua à distancia, por sala vez audível durante td trajeto. Surgem alguns obstáculos no caminho q são facilmente vencidos, tais como um enorme mandacaru tombado e enormes blocos de pedra. Aqui percebemos q os gringos não tinham muita afinidade e desenvoltura pra caminhar em trilhas mais rústicas, principalmente as meninas q, com calçados impróprios, pastaram principalmente nos trechos mais íngremes.
E após um último trecho pirambeiro, onde tanto as mãos qto os pés são tão importantes pro avanço, finalmente desembocamos nos lajedos q ornam o leito do agora forte e caudaloso Rio Lajeado Liso. Duração da pernada na trilha? Menos de meia hora! Aliás, os lajedos q fazem jus ao nome do rio, pois realmente eram bem escorregadios e havia q ter cuidado pra não patinar neles. Uma curiosidade é q este rio nasce algumas dezenas de kms ao norte e é possível pescar nele belos exemplares de cascudo e lambari, entre outros pequenos peixes. Diferentemente da malfadada ocasião anterior, em q quase nem pudemos pisar nos lajedos por conta do furioso rio cobrir td largura do mesmo, desta vez era possível andar tranquilamente ao largo do leito e até cruzar á outra margem com água até as canelas. Mas com cuidado pra não derrapar, claro.
Enqto os gringos respeitaram seus limites e optaram ficar curtindo uma pequena queda próxima (de uns 3m), rio acima, eu e a Lau decidimos descer até as cachus maiores. Sim, aquelas q escancaram os cartões postais da cidade. A trilha nos deixara bem no alto do trecho onde o rio se divide em duas gdes quedas, e nossa ideia era descer por uma e depois subir pela outra, numa espécie de circuito. Pra isso bastou chapinhar pela água e desviar de várias banheiras naturebas até alcançar a ilhota rochosa com mata arbustiva q divide o rio, pra dali encontrar um rabicho de trilha q se esgueira fortemente encosta abaixo. Logo me vi no topo duma bela e enorme queda, mas o tempo de vislumbre foi o suficiente pra bater foto pois havia ainda q descer até a base. O trecho a seguir me lembrou muito a descida de vales na Serra do Mar paulistana, pela semelhança da íngreme vereda e dos trechos de desescalaminhada finais.
Chegamos então no sopé da primeira gde queda do rio, onde a água fria era despejada de vários patamares até ser represada num gde e enorme lago, próprio pra banho. Claro q ficamos um pouco ali, curtindo, descansando e dando tchibum. Mas a vontade de prosseguir bateu mais forte e continuamos nossa pernada, agora bem mais suave pelo leito do rio, descendo seu curso em meio a muitas piscinas e cercados de enormes muralhas elevando-se de ambos lados. Em pouco tempo alcançamos o trecho onde o rio reencontrava o outro braço, isto é, estávamos na base da outra queda vista da trilha. Esta, a diferença da outra, era maior em extensão mas não tinha nenhum piscinão em sua base, pois a água era despejada caoticamente atraves de vários blocos basálticos q reduziam seu volume, no final. Ainda assim tinha uma beleza peculiar e eu e a Lau imaginamos aquele paredão td cheio num dia de temporal.
Pois bem, e enqto a Lau resolveu ficar de boa descansando a margem dos lajedos eu decidi prosseguir descendo rio abaixo. Ainda havia a última gde queda do conjunto, q estava relativamente próxima. Cautelosamente, prossegui rio abaixo alternando ambas margens do rio, tropeçando com vários poços e piscinas naturebas. No entanto, o que mais me chamou a atenção eram os enormes paredões do cânion cavado pelo rio elevando-se de forma imponente, afunilando o rio cada vez mais. Foi ai q literalmente o chão terminou e, me debruçando a margem da rocha, me deparei com a água sendo despejada vertiginosamente do alto duma estreita muralha de basalto pra cair num lago arredondado coisa de 70m logo abaixo. Uma vista impar que novamente me lembrou das quedas mais bonitas de Paranapiacaba, no caso, uma versão maior da “Cachu do Buracão” (aquela logo após “Anubis”). Procurei na margem esquerda algum acesso a parte baixa e encontrei algumas fendas, quebra-corpos e rochas pelas quais consegui perder altitude na base da desescalaminhada. Mas minha tentativa de alcançar o pé da queda chegou apenas qdo faltavam coisa de 10m, onde não vi apoios ou agarras q me garantissem o retorno seguro, pelo menos sem equipo apropriado. Dane-se, onde estava já valia a pena e tinha perspectiva lateral fantástica da queda.
Retornei ao encontro da Lau, e juntos fomos bater umas fotos mais perto daquela primeira cachu, q por sinal tava próxima dum matinho onde até havia uma pequena clareira de acampamento. Foi ai q tivemos um imprevisto com abelhas pouco amistosas. Provavelmente qdo gritei pra Lau se posicionar pra foto devo ter alertado as bichinhas dalguma colméia próxima pois logo após comecei a sentir algumas orbitando minha cabeça. Inicialmente não dei mta atenção mas qdo reparei q aumentavam em número e começavam a se debater na minha nuca e cabelo comecei a ficar preocupado. Alertei a Lau da situação e ambos ficamos imóveis e em silêncio, na tentativa de passar despercebidos às bichinhas. No entanto, a medida so serviu pra minha companheira pois os maleditos insetos continuavam investindo sobre mim! Não pensei duas vezes e me lancei na água, a espera de q as danadas se dispersassem por desistência, o que só deu certo após alguns minutos. Resultado: Apenas uma picada na orelha! Uffa!!
Logicamente q nos pirulitamos dali rapidinho, escalaminhando as pedras, aderências e lajedos mais ásperos q compõem o paredão lateral da queda. Uma vez no alto, em segurança, reencontramos as duas gringas tomando sol e perguntamos do resto. Nos falaram q haviam descido a queda. Pra quê? Foi so olhar a base que pudemos ver o infeliz alemãozinho e meu compatriota estapeando a própria cabeça pra fugir das abelhas. Felizmente foi so um susto súbito pra eles. Mas vendo q o horário corria rápido, eu e a Lau tomamos a trilha de volta ao camping, a espera dos nossos companheiros internacionais.
Uma vez encostados no conforto do camping e degustando uma cerveja gelada, as 16hr, agradecemos por ter curtido aquele belo remanso antes da muvuca pois o lugar tava fervendo de gente! O forró se misturava com pancadão em alto volume maculando as dependências do Salto das Orquideas. Ficamos ali o suficiente pra mastigar um lanche e empreender novamente a volta pro asfalto da PR-090, onde nos prostamos a espera do latão, q passou pontualmente cerca das 18:30hr. Logicamente q a volta foi embalada totalmente no merecido mundo dos sonhos, pra somente chegar na “Capital do Café” cerca de 3hr depois.
Assim transcorreu nossa incursão despretensiosa – porém imprevisível devido ás abelhas – ao Salto de Sapopema. Independente disso, eis mais um programa bem tranqüilo q não demanda logística apurada e mto menos desgaste fisico. Com mais tempo é possível acampar na Faz. Salto das Orquideas e visitar os demais atrativos do município. Além dos já citados Pico Agudo, Serra Grande e outros morros menores, há a curiosa Gruta da Toca da Buzina além de várias quedas menores espalhadas no entorno de “Sapopes”. Tem a dos Coqueiros, da Escada, do Lambari, do Messias, dos Alves, do Zé Pretinho, entre outras. E pra quem apenas deseja turismo convencional pode ficar tranquilo, inclusive com tempo ruim, pois a receptividade dos munícipes já vale a visita. Além do bom xote e o vanerão q são referência no quesito musica de raiz, as rodadas de caxeta q vão noite adentro nos botecos da cidade são bastante concorridas. Tá esperando o quê? Vá e descubra estas gratas surpresas do desconhecido e pouco divulgado Terceiro Planalto Parananense.