Por Tatiana Batalha
Com mais um filme sobre o incidente de 1996 no Everest, fui atrás outro livro sobre o episódio que o clássico “No ar rarefeito” de John Krakauer. Um que ainda não conhecia e poderia fornecer informações diferentes, outro ponto de vista. Sobre o famoso episódio li mais sobre as versões de clientes das expedições e nesse, “A Escalada”, pela primeira vez pude avaliar os fatos do ocorrido através do olhar de um experiente guia. Uma mescla de transcrições de entrevistas, e o registro de áudio gravado do guia russo Anatoli Boukreev ainda no Campo Base, mostram como uma história pode ter diferentes sentidos, dependendo de quem conta.
O livro chega a ser um documento sobre os acontecimentos que levaram à tragédia. Descrições detalhadas sobre problemas na organização da logística da expedição, como a falha no cálculo da quantidade e o problema com os fornecedores dos cilindros de oxigênio, tão citados em todas as filmagens e livros. O lado comercial das expedições, a seleção e compra de suprimentos que ninguém sabe ou vai atrás de saber. Problemas com a palavra de um vendedor que na última hora muda de planos e acaba por prejudicar a vida de muitas pessoas.
A diferença de cultura e valores nas diferentes tradições das escolas da escalada, que podem gerar conflitos dentro de um mesmo grupo se não bem discutidos e planejados, o que leva a problemas em momentos decisivos. Incluindo aqui até o diferente significado do que é estar nas montanhas para os escaladores e trabalhadores locais como os nepaleses, e o que significa estar nas montanhas para o estrangeiro que vai se arriscar nela.
Em A Escalada, pude observar um Anatoli que não está muito bem descrito em outros relatos. Suas preocupações desde o início da expedição , com as limitações e diferença de preparo, e com os diferentes interesses de cada um dos clientes de algumas das expedições que participaram da fatídica escalada de 1996. Um guia experiente que até o fim tentou ajudar de alguma forma as pessoas que ficaram perdidas na montanha, naquele maio de 1996. Interessante livro para desmistificar a imagem de um Anatoli como de alguém que não se preocupou em ajudar, deixada por outros relatos. As dificuldades que teve em recrutar escaladores que conseguiram retornar ao acampamento para ajudar aos que ainda não haviam descido. A busca solitária do guia por sobreviventes.
Dados precisos são fornecidos, pois foram retirados de gravações realizadas logo ao término da expedição, e não somente um relato do que sentiu alguém ao viver a difícil experiência. Juntando com as informações de outros livros temos um excelente apanhado de o que não fazer ao participar de expedições como, ou melhora ainda levar o aprendizado para planejar e evitar tropeços em todas as nossas experiências na montanha. Incluindo aquelas expedições que parecem ser as mais simples, nas quais não esperamos ter algum tipo de problema. É um interessante registro de como é necessário a disciplina para realizar essa atividade que a tantos é prazerosa e necessária para dar um sentido à existência. A necessidade de um detalhado planejamento e a compreensão de toda uma equipe de quão importante é seguir o itinerário estabelecido, por mais que nossa vontade as vezes seja chegar no objetivo final, o cume, custe o que custar.