Todo mundo sabe que a primeira montanha do mundo com mais de 8 mil metros foi escalada pela primeira vez em 1950 por Maurice Herzog. Todos sabem que o Everest foi escalado 3 anos mais tarde por Hillary e Tenzing Norgay. No entanto o que quase todos esqueceram foi o papel dos argentinos em realizar explorações no Himalaia.
O Dhaulagiri
Os argentinos quase tiveram o privilégio de serem os conquistadores de uma montanha acima de 8 mil metros. Isso porque em 1954, uma expedição 100% nacional financiada pelo ditador Perón esteve no Himalaia, mais precisamente no Dhaulagiri, sétima montanha mais alta do mundo com 8167 metros. Eles chegaram muito alto, aos 8 mil metros de altitude.
Esta expedição, no entanto, teve um final trágico. O líder da equipe, o militar Francisco Ibañez que tinha apenas 28 anos, teve sérios congelamentos. Ele foi removido da montanha, chegou a ser transportado à Kathmandu, mas morreu.
O Dhaulagiri seria conquistado 6 anos depois por uma expedição austríaca-suíça onde ninguém mais ninguém menos que Kurt Diemberger foi um dos pioneiros. A rota aberta pelos argentinos foi completada 28 anos depois por uma expedição japonesa e nunca mais repetida.
A economia da América Latina dificultou que argentinos pudessem viajar e se destacar fora dos Andes e por isso ficaram muito tempo sem organizar uma expedição nacional ao Dhaulagiri. Foi somente em 1981, 27 anos depois da primeira vez, que uma expedição dos “Hermanos” regressou à montanha.
A expedição de 1981 novamente não teve êxito. Para piorar, o líder da expedição, Mario Serrano, sofreu uma queda numa greta e seu corpo está lá até hoje.
Passou-se mais 27 anos para que uma nova expedição argentina regressasse ao Dhaulagiri, desta vez chefiada pelo experiente montanhista Dario Bracali, que já havia escalado duas montanhas de 8 mil e era sério candidato a escalar todos os cumes acima de oito mil metros. No entanto Bracali nunca regressou de sua tentativa solitária de chegar ao ponto mais alto da montanha.
Foram 3 mortes de líderes de expedições argentinas ao Dhaulagiri, cada uma num intervalo de tempo de 27 anos.
Foi exatamente rompendo este histórico macabro que o top climber Mariano Galván chega ao topo do Dhaulagiri, inaugurando uma nova era no himalaísmo argentino. O montanhista fez cume sem oxigênio complementar, escalando de maneira autônoma e independente na companhia do espanhol Alberto Zerain. A dupla diga-se de passagem, enfrentou o mal tempo com muitos ventos e muita neve, abrindo o caminho na temporada que ainda não havia sido trilhado. Atrás deles um grupo de sherpas aproveitou e estabeleceu a rota, permitindo que clientes pudessem chegar ao topo com oxigênio e cordas fixas.
Mariano que é um fortíssimo guia de montanha no ano passado impressionou a todos com sua ascensão ao Broad Peak, um cume que ainda não tinha sido escalado naquela temporada. O argentino não somente inaugurou o cume em 2015, como seguiu uma rota difícil em que há tramos de escalada de quinto grau em rocha acima de 7800 metros de altitude. Ele fez isso sozinho e ainda realizou dois bivaques, um a 7600 metros e outro a 7800. Este foi o sexto cume de 8 mil de Galván.
É o fim da maldição dos argentinos nesta montanha.