A saída foi na sexta feira, 7 de junho, às 8 horas. Cortando os detalhes para ir direto ao que interessa, começamos a caminhar as 8:45 horas. O Paulo Marinho (armado de prancheta, lapiseira, cronômetro, bússola, etc), como um bom engenheiro, tomava nota de absolutamente tudo: altitude, tempo de caminhada, tempo de descanso, direção, sentido, nome do local, calorias gastas.
Somando-se a panela, fogareiro, barraca, filmadora, entre outras, dá para entender porque a sua
mochila pesava mais de 20 quilos. Mas, justiça seja feita, seus apetrechos nos salvaram de boas enrascadas. Mas lá estou eu sendo prolixo.
No sítio do João Vicente (1), encontramos a Bolinha, a cadelinha guia dos montanhistas que vão ao Ciririca. À nossa chegada, a Bolinha fez uma enorme festa. O ritmo de caminhada estava ótimo; tanto é assim que, chegados à encruzilhada Tucum-Ciririca, não hesitamos em arriscar a “rota visual”(2).
O dia era dos mais bonitos. Felizmente, tudo foi registrado em vídeo e cerca de 50 fotos. A visão do Tucum não deixou nada a desejar aos meus melhores sonhos. Sem dúvida, é uma das melhores paisagens da Serra do Mar.
Almoçamos no cume do Tucum. Registramos algumas palavras no caderninho do topo e recomeçamos a caminhada. Aí veio a primeira surpresa desagradável; a suave caminhada na crista foi interrompida por um vale de uns 300 metros de profundidade.
Após descer e subir por uma trilha um pouco fechada, alcançamos o Cerro Verde. E, mais uns passos, o outro vale. E, entre subidas e descidas, a noite caiu. O frio e o vento vieram com uma força desumana. Por sorte, atingimos o cume do Pico da Lua (3) e, sem poder escolher muito, armamos a barraca aonde deu.
No dia seguinte, 6:30 horas, levantamos para terminar a conquista; o Ciririca nos aguardava. Caminhamos cerca de 40 minutos e encontramos outros montanhistas que tinham o nosso destino, com a diferença que tinham saído do Itapiroca. Élcio, Anderson e Alexandre também estreavam a rota visual.
Nosso grupo prosseguiu, enquanto nossos amigos ficaram tomando café. A Bolinha, que até então nos tinha sido fiel, não hesitou em trocar a lealdade à nossa turma pelo café da manhã do outro grupo.
A trilha foi fechando cada vez mais. Numa certa altura sumiu. Aí as coisas começaram a complicar. Ficamos cerca de uma hora perdidos. O outro grupo nos alcançou, mas a situação não refrescou muito. No final, resolvemos o problema na raça mesmo. No meio do mato fomos abrindo caminho na direção que supúnhamos ser a correta. E de fato (e por sorte) era. Alcançamos a trilha do Ciririca, a cerca de uma hora e trinta minutos do topo. Élcio, Andersom e Alexandre prosseguiram para o cume. Os dois Paulos e eu fizemos meia volta. Eram cerca de 13 horas e tínhamos receio de pegar a noite no mato. A bolinha, reintegrada ao nosso grupo, nos acompanhou.
O cansaço segurava o ritmo na volta. Afinal, já havíamos caminhado mais de 15 horas. Assim, a noite começou a andar mais rápido que os nossos passos. E por fim, chegou. Caminhar no mato a noite é uma experiência emocionante. Mas, com a Bolinha nos guiando, a vida ficou mais fácil.
Para abreviar, pulo alguns episódios e vou para a última encruzilhada, que estava a uns quinze minutos de onde deixáramos o carro. Porém, como tínhamos de passar por algumas trilhas que não conseguimos localizar (4), fomos forçados a recuar e pegar uma estrada de terra que nos levaria à BR 116. O desvio representou duas horas a mais de caminhada.
Chegamos exaustos ao carro do Paulo Marinho, mas apesar do estado físico ninguém reclamou de absolutamente nada. Pelo contrário, foi uma experiência excepcional. Mas, como tudo na vida, tiramos uma lição; estude bem o terreno antes de entrar na batalha.
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Publicado na Gazeta do Povo, 28 de dezembro de 1996.
Protagonistas: Paulo Marinho, Paulo Brachmann e Bruno Fernandes.
Locais visitados: Sítio do Ernesto, Sítio da Bolinha, Ribeirão Samambaia, Camapuã, Tucum, Pico do Luar, Última Chance, Trilha de Baixo do Ciririca.
Data da aventura: 7 de junho de 1996
Referencias explicativas:
(1) Sítio da Bolinha
(2) Trilha do Ciririca por cima – pela crista.
(3) Pico do Luar
(4) Nesta época a trilha para o Ciririca começava às margens da BR 116, no Sítio
do Ernesto.