As Extinções de Mascarenhas

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Quando escrevi a coluna anterior, percebi que muitas das aves desaparecidas – como o dodô – tinham vivido numa mesma região, o Arquipélago de Mascarenhas. Ao pesquisá-la, encontrei de fato muitos relatos semelhantes de extinção. Leia abaixo algumas dessas histórias infelizes.

Ilhas são situações especiais, onde a evolução pode seguir por caminhos diferentes. Por exemplo, a chamada regra da ilha diz curiosamente que, nestes nichos, espécies grandes podem tender ao nanismo e pequenas, ao gigantismo. Devido a seu menor tamanho, as ilhas são também territórios de ecologia mais vulnerável e mais expostos à predação humana. Seriam como locais de ensaio em modelo reduzido das extinções continentais.

O Arquipélago das Mascarenhas

Então, não é surpresa que nas Ilhas Mascarenhas tenham desaparecido quase 30 espécies de aves. No Havaí foram extintas quase 20 e, na Nova Zelândia, mais de 15. Mas estas últimas são ilhas grandes. Mesmo na minúscula Ilha de Santa Helena, com meros 120 km², foram tristemente eliminadas perto de 10 espécies. A tendência é que as aves com pouca ou nenhuma condição de voar, como os ralídeos (saracuras, galinholas, frangos d´água) sejam as mais afetadas.
O Arquipélago das Mascarenhas fica no Índico, estendendo-se por cerca de 1.200 km, a leste da gigantesca Ilha de Madagascar. Ele não é realmente um arquipélago, apenas um conjunto de ilhas que são a parte emersa de um grande planalto submarino. Este é relativamente raso, porém suas margens mergulham a profundidades abissais. As principais ilhas são Maurício, Rodrigues e Reunião. Rodrigues é bem pequena, as outras sendo médias (aprox. 2 mil km²).

São todas formações vulcânicas, embora as duas primeiras tenham cerca de 10 milhões de anos e a última, apenas 3 milhões. Muitas das aves que habitavam essas ilhas perderam a capacidade de voar. Isto significa que as espécies existentes em Reunião não devem ter sido colonizadas a partir das demais ilhas. Estas espécies têm origem afro-asiática, tendo migrado para as ilhas durante os mares baixos do Pleistoceno (a partir de 2 milhões de anos atrás), quando elas estavam menos isoladas – note que o planalto marinho não é profundo, devendo ter ficado então grandemente emerso.

Área Montanhosa na Ilha de Maurício

As ilhas eram cobertas por florestas, mas seus ecossistemas foram danificados pelo desmatamento dos colonos holandeses e franceses que lá aportaram. A degradação do ambiente foi uma as razões para o desaparecimento das aves, as outras tendo sido a caça humana, seja para alimentação ou captura, e a predação por animais introduzidos. As extinções em Maurício e Reunião ocorreram no século XVII e as de Rodrigues no século seguinte, tendo neste caso sido reforçadas pelos ciclones que a atingiram.

A Galinhola Vermelha de Maurício era uma bela ave pernalta, com plumas macias castanho-avermelhadas e curtas asas que não lhe permitiam voar. Embora ágil, era atraída por panos vermelhos e rapidamente pega. Seus gritos atraíam suas irmãs, que eram facilmente capturadas. Sua carne deliciosa era semelhante à do porco. A última galinhola provavelmente viveu no zoo do Imperador germânico Rodolfo II.

Reconstituição da Galinhola de Maurício

O Íbis Terrestre de Reunião tinha uma conformação elegante e robusta, de plumagem branca, cinza e amarela, com reduzida capacidade de voo. Como era uma ave terrestre, a presença de colonos confinou-a aos altos das montanhas. Era um animal solitário e dócil, perseguido por ratos e gatos e capturado pelos humanos por sua carne saborosa. Provavelmente dois dos últimos indivíduos foram pegos pelos franceses para levá-los ao seu Rei, mas morreram de melancolia, tendo-se recusado a comer ou beber.

Provável Aparência do Ibis de Reunião

De todas as espécies de psitacídeos (papagaios e periquitos) das Ilhas Mascarenhas, só uma sobreviveu – o Periquito de Maurício, aliás de aspecto um tanto comum. O Periquito de Rodrigues possuía uma rara coloração azul acinzentada, com um interessante colar preto no pescoço. Manso e inteligente, sobreviveu até depois da metade do século XIX. A ilha já tinha então sido desmatada, o que mostra ter sido menos vulnerável que as demais aves.

Ilustração de um Periquito de Rodrigues

Já o Papagaio das Mascarenhas, com sua especial máscara facial preta e sua plumagem cinza ou marrom, desapareceu mais cedo, talvez devido à sua carne apetitosa. O Papagaio Cinzento de Maurício era pequeno, manso, saboroso e lento em voar, sendo extinto em meados do século XVIII. O Papagaio de Bico Largo era chamado de corvo indiano devido a seu temperamento forte. Forte e colorido, foi eliminado ainda mais cedo, pelo corte das palmeiras que o alimentavam e pela pouca habilidade em voar.

Periquito de Maurício, o Único Sobrevivente

Estas aves viveram junto a outras extintas, como corujas, gansos, socós e patos. As tartarugas gigantes, os lagartos, as jiboias e os morcegos das Ilhas Mascarenhas também não puderam lamentavelmente resistir à predação dos homens.
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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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