Sabemos hoje que a megafauna não desapareceu de uma só vez no planeta, e sim em sucessões espaçadas. A primeira extinção aconteceu 40 mil anos atrás na Austrália. A segunda, nas Américas, há 25 mil anos. Em Madagascar, ocorreu há apenas mil anos. Na Nova Zelândia, há metade deste tempo.
Evidentemente, não houve uma única mudança climática durante esses períodos que pudesse explicar as extinções. Mas a colonização humana mostra um perfeito sincronismo com os eventos acima: os primeiros aborígenes chegaram na Austrália há 50 mil anos, os asiáticos ou africanos nas Américas há talvez 35 mil anos, os malaios em Madagascar há 2 mil anos e os polinésios na Nova Zelândia há mil anos.
Assim, a megafauna desapareceu durante algo como mil a dez mil anos a partir do início dessas colonizações humanas. É bom explicar que este termo representa o conjunto de animais de grande porte que então dominavam seus territórios. O gigantismo foi uma excelente defesa contra os predadores, tornando esses mega-animais invulneráveis. Quase não há predadores naturais de tigres, elefantes ou rinocerontes.
Essa estratégia defensiva, entretanto, é péssima do ponto de vista reprodutivo. Grandes animais têm longos períodos de gestação (por exemplo, 2 anos), de maturação (10 a 15 anos) e de início de atividade sexual (até 25 anos). Dificilmente reproduzem gêmeos e apresentam alta mortalidade precoce. Isto significa que sua taxa de reprodução natural é muito baixa – eu me surpreenderia se excedesse 0.5% ao ano.
Neste contexto, os humanos podem ter dizimado a megafauna com certa facilidade. Leve em conta que, diferentemente dela, podemos nos reproduzir a taxas elevadas, como 2-3% ao ano. Por exemplo, um pequeno grupo de cem indivíduos, mesmo com limitada capacidade de caça, poderia explicar grande parte da extinção de uma espécie ao longo de apenas um milênio.
Esse declínio da megafauna foi tão lento que não pôde sequer ser percebido por seus agentes. Eles não teriam como saber que mamutes ou moas eram muito mais frequentes um ou dois séculos antes. Por serem onívoros, poderiam consumir smilodons quando os toxodontes desaparecessem, alces quando não mais houvesse bisões, araus ao invés de dodôs.