Vocês sabem que, desde a Revolução Industrial, temos lançado na atmosfera quantidades crescentes de dióxido de carbono. Hoje a concentração deste gás no ar é de 400 partículas por milhão, a maior desde muitos milhões de anos. O dióxido de carbono tem a infeliz propriedade de se dissolver na água, formando o ácido carbônico.
Os gases da atmosfera são absorvidos pelo oceano e, inversamente, os gases dissolvidos nele são liberados na atmosfera. No equilíbrio, as mesmas quantidades de CO2 seriam absorvidas e liberadas, ou seja, uma troca igual. Porém, os volumes crescentes do dióxido de carbono atmosférico estão sendo mais absorvidos do que liberados e contribuindo para acidificar os mares.
A acidez é medida pela escala de pH. O nível 7,0 é neutro, as medidas acima representam um ambiente alcalino e as abaixo, um meio ácido. Os mares são alcalinos, com um pH próximo a 8,2. Por ser logarítmica, a escala é enganosa, pequenas diferenças numéricas significam grandes variações percentuais. Em meados deste século, o pH da superfície do oceano deverá cair para 8,0 e, no fim do século, para 7,8 – nossos mares serão então quase 200% mais ácidos do que no início da Revolução Industrial.
Lá o pH desce a níveis esperados para o fim deste século. O efeito é catastrófico: em terço das espécies coralíneas presentes simplesmente desapareceu e muito dos dois terços restantes foram corroídas, arruinadas, mutiladas ou deformadas. Então, este é o panorama do futuro dos nossos mares.
Uma outra forma de perceber isto é observar o efeito da acidez nos recifes. A Grande Barreira de Coral, a maior do mundo, se estende por mais de 2.5 mil km desde a Austrália até a Nova Guiné, abrangendo quase 3 mil recifes (barreiras de corais), 300 atóis (ilhas oceânicas circulares) e 600 ilhas continentais (formações costeiras). Mais importante, abriga uma biodiversidade maior do que toda a Europa. O primeiro europeu a avistá-la foi James Cook, o descobridor da Austrália, que quase naufragou lá. De forma impressionante, esta barreira corre hoje risco de extinção.
Os corais funcionam como abrigo para um quarto de toda a vida marinha. Convive neles uma infinidade de diferentes espécies, desde moluscos e algas, a peixes e aves, a crustáceos e plantas. Por isto, são comparados a florestas tropicais com enorme biodiversidade. Os corais se desenvolvem mais rapidamente em mares tropicais, que apresentam águas claras e quentes, com maior insolação – todos estes sendo fatores propícios.
Os corais crescem melhor em ambientes com alta saturação de carbonato de cálcio. O nível ideal é 5 – no nível 2, eles param de crescer. Com a acidificação dos mares, os minerais necessários à sua calcificação são dissolvidos, causando sua morte prematura. Hoje não mais existem locais com nível acima de 4 e, no fim do século, não haverá ambiente com nível maior que 3. E pior, neste nível, as ervas daninhas passam a prosperar. Como disse um estudo, todos os recifes deixarão de crescer e começarão a se dissolver.
Quando os mares esquentam, a morte dos corais ocorre pela destruição das algas às quais eles são associados e que lhes fornecem o alimento. Assim, podem ser danificados tanto pela acidez como pelo aquecimento. Ao morrerem, restam apenas os esqueletos calcários, que têm coloração esbranquiçada. Por isso, este processo é chamado de branqueamento. Ele funciona como um sinal visual de destruição.