Principais eventos da temporada de primavera no Himalaia 2017

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Após anos difíceis e temporadas desinteressantes, a primavera de 2017 tem tudo para ser uma das mais emocionantes dos últimos tempos. Segue abaixo um manual para que os leitores fiquem antenados nas principais atividades que prometem eletrizar a temporada:

por Rodrigo Granzotto Peron
 
 
EVEREST
 
a) Brasileiros:
 
Três brasileiros estão confirmados no Everest.
 
Karina Oliani participa de trekking ao campo-base nepalês na companhia de Pedro Hauck, Maximo Kausch e grupo de trekkers. Após, rumará ao flanco tibetano, onde tentará ser o segundo brasileiro – e a primeira mulher de nosso país – a culminar a montanha pelos dois flancos (apenas Niclevicz tem essa distinção).
 
O paranaense Joel Kriger vai escalar a rota normal nepalesa para concluir os 7 Cumes. No processo, pode se tornar o brasileiro mais idoso a culminar a montanha (61 anos). O recordista atual é Manoel Morgado (53). Em todo caso, Joel desde já bateu um recorde. É o primeiro sexagenário brasileiro a participar de expedição a um 8000.
 
Por fim, Adriano Freire também tentará escalar o Everest pela Face Sul, pela companhia Ascent Himalaya, guiada por Dawa Tashi, Furtemba e Pasang Tenzing.
 
b) Superlotação:
 
Os megaengarrafamentos vistos na rota nepalesa em 2012, 2013 e 2016 devem se repetir com força total neste ano, haja vista a previsão de mais de 800 guias, clientes e sherpas somente na rota sul (o conceituado blogueiro Alan Arnette chegou a mencionar que serão mais de 1000!). Quase quarenta equipes comerciais estarão operando no Flanco Sul e no Flanco Norte, algumas gigantes (a IMG chega com quase 50 integrantes e a Seven Summits Treks terá mais de 80).
 
c) Recorde de Idade:
 
O mais idoso a culminar o Everest foi Yuichiro Miura (JAP), em 2013, aos 80 anos. Desde então, o nepalês Min Bahadur Sherchan vem tentando “roubar” o recorde. Fracassou em 2013 e 2015. Retorna em 2017, aos 86 anos (!). Se culminar, será incrível.
 
d) Recorde de Velocidade:
 
O ultramaratonista espanhol Kilian Jornet busca recorde de velocidade na ascensão da rota tibetana. Em 1996, Hans Kammerlander fez a rota em 16 horas e 45 minutos. Em 2006, Christian Stangl a repetiu praticamente igualando esse tempo. Ambos os recordes partiram do campo-base tibetano. Kilian, por outro lado, iniciará a partir do monastério de Rongbuk (que fica a oito quilômetros da base). Auxiliarão o espanhol, Emelie Frosberg (ALE), Jordi Todas (ESP), Vivian Bruchez (ESP) e Sebastien Montaz-Rosset (ESP).
 
e) Tentativas sem oxigênio:
 
Segundo o Himalayan Database, apenas 2,57% dos cimos no Everest são sem oxigênio engarrafado. Até hoje, somente Vitor Negrete está incluído nessa estatística, mas infelizmente não retornou com vida para contar a história.
 
Nobukazu Kuriki (JAP) tentará novamente solo e sem oxigênio o Everest (em 2012, ele ficou preso vários dias na montanha e sofreu congelações brutais nas mãos, resultando na amputação total ou parcial de nove dedos).
 
O alemão Ralf Dujmovits (que culminou todos os 14 oitomil) volta ao Everest sem oxigênio. Se conseguir, será sua redenção, após tentar noox seis vezes sem sucesso (1996, 2005, 2010, 2012, 2014 e 2015).
 
O espanhol Ferran Latorre pode completar no EV os 14 oitomil desoxigenados.
 
Outros ilustres nomes confirmaram presença para subir apenas com os pulmões, casos de Horia Colibasanu (ROM, 7×8000), Justin Ionescu (ROM), Richard Hidalgo (PER), Yannick Graziani (FRA), Hans Wenzl (AUT, 6×8000), David Klein (HUN), Szilard Suhajda (HUN), Adrian Ballinger (EUA, 6 cumes no EV), Cory Richards (EUA).
 
f) Rotas técnicas:
 
Tirando as duas rotas-padrão (nepalesa e tibetana), o Everest possui outras 19 rotas e variantes. Todavia, os cumes por essas rotas não usuais são bem raros (desde 2009, ninguém culmina por outra via que não as duas padronizadas).
 
Em 2017, o time eslovaco de Vladimir Strba e Zoltan Pal busca repetir a Rota Britânica de 1975 na Face Oeste (tentaram ano passado, mas uma avalanche os atingiu e desistiram bem no início daquela temporada).
 
O duo Ueli Steck (SUI) e Tenji Sherpa (NEP) tentará repetir a Rota Hornbein de 1963.
 
TRAVESSIA EVEREST-LHOTSE
 
Um dos desafios mais cobiçados na Alta Ásia, tentado por times fortíssimos (por exemplo, Simone Moro e Anatoli Boukreev em 1997), jamais foi concluído.
 
Nesta primavera, Ueli Steck (SUI) e Tenji Sherpa (NEP), se tiverem forças após o cume do Everest (como acima visto), partirão para a primeira travessia Everest-Lhotse, escalando a quarta montanha mais elevada pela Variante Urubko de 2010 na Face Oeste.
 
KANGCHENJUNGA
 
O incansável e visionário montanhista italiano Simone Moro, unindo esforços com a parceira Tamara Lunger (ITA), buscam concretizar uma das mais árduas travessias da Alta Ásia, que conjuga escalada de alto nível técnico com resistência física para aguentar vários dias seguidos acima dos 7500 metros (ao menos três dias completos acima dos 8000 metros). O plano é escalar o Yalung Kang (ou Kangchenjunga Oeste, 8505m) por uma nova rota, prosseguir até o Kangchenjunga Principal (8586m), continuar pelo Kangchenjunga Central (8482m), seguir na aresta até o Kangchenjunga Sul (8494m), finalizando a travessia que só foi completada uma única vez, por enorme time russo em 1989.
 
LHOTSE
 
Várias expedições comerciais já confirmaram presença.
 
Além delas, time polonês pretende amealhar Everest + Lhotse (não travessia, mas sim cume nas duas), com Jarek Gawrysiak, Rafal Fronia e Piotr Tomala.
 
MAKALU
 
Bastante ação também é esperada no Makalu, com expedições de Pawel Michalski (POL), Thomas Lammle (ALE), além das empresas comerciais, como a Altitude Junkies, sob a liderança de Phil Crampton, e a Peak Promotion, com Dick Morse, Jen Leob, Urszula Tokarska, Bill Cole, Donna Giardino, Dawa Tshiri Sherpa, Lhakpa Sherpa, Lhakpa Tenji Sherpa e Pasang Gyalzen Sherpa.
 
CHO OYU
 
A esmagadora maioria dos cumes no Cho Oyu advém da Face Oeste, onde se situa a fácil rota-padrão (Tichy), com alguns poucos cimos a partir dos Flancos Sudeste e Sudoeste. 
 
Já a Face Norte é obscura e muito difícil, extremamente íngreme, verticalizada e com 2.200 metros de desnível, por onde raras expedições se aventuraram. Até o momento, apenas uma rota (à direita do paredão) foi forjada, em 1988, por time esloveno integrado pelos top climbers Viki Groselj Iztok Tomazin e Marko Prezelj.
 
Fortíssima expedição multinacional busca desenhar nova linha na monumental Face Norte, à esquerda do paredão rochoso, composta por Adam Bielecki (POL), Rick Allen (UK), Louis Rousseau (CAN) e Felix Berg (ALE). Se conseguirem, terá sido um dos grandes baluartes do montanhismo em alta altitude dos últimos tempos.
 
DHAULAGIRI
 
Pode vir a ser o palco da conclusão dos 14 oitomil para Peter Hamor, que poderá se tornar o primeiro eslovaco a realizar a proeza. Com ele, Michal Gabriz, Michal Sabovcik, Tomas Petrik e Janci Petrik.
 
Ainda, o carismático espanhol Carlos Soria, aos 78 anos (!), tenta culminar seu 13º 8000 (se conseguir, faltará apenas o Shishapangma para finalizar todos os 14). Com ele, Sito Carcavilla (ESP), Luis Miguel Lopez (ESP) e Muktu Sherpa (NEP). Não será tarefa fácil, uma vez que Soria já bateu na trave seis (!) vezes antes.
 
A temporada será bastante movimentada e contará com as presenças de Santiago Quintero (ECU, 7×8000), Al Hancock (CAN), times independentes da Índia e de Taiwan, além da expedição comercial da Dreamers Destination.
 
ANNAPURNA
 
Mais um momento emocionante à vista.
 
Após culminarem 13 montanhas de 8000 metros juntos e passarem por várias dificuldades (incluindo uma doença gravíssima), o simpático e querido casal italiano Nives Meroi e Romano Benet tem a oportunidade de finalizar os 14 oitomil, sem oxigênio engarrafado e em conjunto. Será a primeira vez que um casal escala todas as montanhas conjuntamente.
 
Além deles, estarão escalando lá Alberto Zerain (ESP, 8×8000) e Jonatan García (ESP).
 
SHISHAPANGMA
 
David Gottler (ALE) e Herve Bermasse (ITA) unem forças em busca de nova rota na gigantesca Face Sudoeste do Shishapangma. Até o momento, esse flanco da montanha possui 6 rotas e variantes conquistadas. Gottler participou de tentativa sem êxito com Ueli Steck no ano passado.
 
Vamos ficar ligados nessas e em outras atividades, que fazem com que a temporada prometa muitas emoções e realizações.
 
 
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 13.04.2017
 
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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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