Os Cânions ao Norte

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Nas colunas anteriores, comentei sobre os cânions do extremo sul do Brasil, onde de fato eles se concentram. Porém, na realidade eles começam ao norte, em São Paulo e no Paraná. Falo agora destas formações mais modestas, porém ainda assim interessantes.

Ficam em Itararé duas gargantas que ensaiam o formato que mais além os cânions apresentarão. O Rio Itararé funcionou como divisa entre Sorocaba e Curitiba, que fazia então parte de São Paulo. Era um ativo local de trânsito das tropas de animais durante a colônia. Com a criação da Província do Paraná, passou a ser divisa estadual. A região de Itararé foi a seguir o maior entreposto madeireiro do Brasil, antes que as florestas se esgotassem.

Visual do Cânion de Guartelá, Tibagi, PR

Itararé é um bolsão até certo ponto estranho de cerrado, entre regiões férteis de cultura em São Paulo e no Paraná. Não é distante de Apiaí (SP) e Tibagi (PR): o primeiro é o centro das muitas cavernas paulistas e o segundo abriga o Cânion do Guartelá, o primeiro de uma longa série de gargantas no sul do país. Isto significa que a região possui formações em calcário, basalto e arenito, localizando-se no fim da Serra de Paranapiacaba e no início da Serra Geral.

O Aventureiro Luvinha no Cânion de Jaguaricatu, Jaguariaíva, PR

As atrações são principalmente os cânions e as cachoeiras. O maior cânion é o de Jaguaricatu – é uma garganta que vem desde Jaguariaíva (PR) a oeste, sendo portanto muito extensa. Entretanto, ela não apresenta paredes rochosas verticais e sim rampas inclinadas com muita vegetação, em profundidades que não excedem 200m. Mas o visual é bem amplo e bonito.

Cânion de Pirituba, Bonsucesso de Itararé, SP

Outra das formações rochosas é o Cânion de Pirituba, no Vale do Paraíso, ao sul da cidade. É uma formação interessante, na qual você pode descer dentro da mata por uma trilha até uma grande cachoeira. Note que esta é a primeira das gargantas que fica em São Paulo, as demais pertencendo ao Paraná.

Antigo território indígena, o Rio Tibagi ficava na rota dos bandeirantes que seguiam para o sul, à busca de índios e minérios. A cidade passou depois pelo ciclo da madeira, até que chegaram os holandeses com suas belas fazendas de soja. Você encontrará o Cânion de Guartelá ao sul da cidade.

As Escarpas do Guartelá, Tibagi, PR – Autor: Alberto Ortenblad

Existe um Parque Estadual implantado na escarpa esquerda do cânion. Embora este corra por 32 km entre Castro e Tibagi, o Parque tem modestos 800 ha, que naturalmente não são capazes de contê-lo. É uma situação estranha, pois o Parque está confinado quase na extremidade final da garganta (quer dizer, rio abaixo). E isto sem uma aparente necessidade, pois existem belas escarpas 10 km rio acima, que bem poderiam integrá-lo.
É um Parque bem mantido, aonde você chegará com facilidade. Você passará pelos panelões do Rio Pedregulho, pelas pinturas rupestres e por fim atingirá o mirante, na extremidade da trilha. Note que, olhando rio acima, suas paredes tornam-se menos escarpadas, pois o arenito que as forma é menos resistente. Isto veio a limitar a erosão diferencial, pois ambas as rochas (do leito e da margem do rio) passaram a ser erodidas por igual, impedindo portanto a escavação do cânion.

Cachoeira do Sobradinho em Itararé, SP

Neste caminho, você percorrerá não mais de 6 km. Se pudesse continuar rio acima, no sentido oposto ao mirante, a partir dos rochosos onde estão as pinturas, chegaria à Pedra Ume, talvez 8 km após. Mas esta trilha não era permitida quando estive lá.
Como já comentei, o cânion é bem maior do que o Parque. Fora dos limites deste, retornei pela estrada e desci por dentro da mata a encosta do cânion a sudeste, ou seja, rio acima. Fui até o leito verdejante do rio, passando pela cabana do assim-chamado Ermitão – ele é vivo, mas não estava lá. Em seguida, escalei uma trilha íngreme por lindas escarpas rochosas, até retornar ao local de partida.
O cânion já foi atravessado em todo seu comprimento, mas não acredito que seja um percurso tão interessante. Percorri ou avistei mais de dois terços dele e, na maior parte, sua profundidade não ultrapassa 250 metros e suas escarpas não são tão verticais, como as impressionantes formações que ficam no sul. Concluindo, Guartelá é até bonito, mas não é impressionante.

Cachoeira de Itararé, Itararé, SP


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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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