Satyagraha

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Gandhi foi o líder espiritual e ativista político que levou a Índia à independência. O texto abaixo é uma adaptação da sua defesa da Satyagraha, a resistência passiva usada nos movimentos de desobediência civil por ele comandados. Gandhi foi assassinado por um fanático e suas cinzas foram espalhadas pelo Ganges.

Gandhi Menino, aos 7 Anos

O real sentido da declaração de que somos uma nação que se submete às leis é que somos resistentes passivos. Quando não gostamos de determinadas leis, não atacamos os legisladores, mas sofremos e não nos submetemos. É contrário à nossa natureza obedecer a leis que repugnam à nossa consciência.

Um homem que conquistou sua natureza não temerá mais ninguém. As leis feitas pelo homem não são necessariamente impositivas. Se a pessoa perceber que é indigno obedecer a leis injustas, nenhuma tirania irá escravizá-lo. É esta a chave para o autogoverno.
É uma superstição e uma coisa ímpia acreditar que o ato de uma maioria é impositivo para uma minoria. Todas as reformas devem sua origem à iniciativa das minorias, em oposição às maiorias. Enquanto existir a superstição de que os homens devem obedecer a leis injustas, existirá a escravidão. E a única pessoa que consegue eliminar essa superstição é o resistente passivo.
Usar a força bruta é contrário à resistência passiva, pois isso significa que queremos que nosso oponente faça à força aquilo que apenas queremos que ele não faça. E se esse uso da força é justificável, certamente ele terá o direito de fazer o mesmo conosco. E assim nunca chegaremos a um acordo.


Gandhi como Advogado na Inglaterra por volta dos 30 anos – Fonte: Divulgação

A resistência passiva, isto é, a força da alma, é inigualável. Não pode ser considerada a arma unicamente dos fracos. Os homens de força física desconhecem a coragem que é um requisito do resistente passivo. Alguém acredita que um covarde pode desobedecer a uma lei que o desagrada?

Os extremistas são considerados defensores da força bruta. Por que falam, então, em obedecer às leis? Não os censuro. Não podem dizer outra coisa. Quando conseguirem expulsar os ingleses e se tornarem governadores, irão querer que obedeçamos às suas leis. Mas o resistente passivo se negará, mesmo que possa ser despedaçado por um canhão.
Em que se precisa de mais coragem – em despedaçar outros por trás de um canhão ou em se aproximar, com um sorriso no rosto, de um canhão e ser despedaçado? Quem é o verdadeiro guerreiro – quem sempre encara a morte como uma amiga ou quem controla a morte dos outros?

Gandhi por volta dos 40 anos.

Apesar disso, devo admitir: mesmo um homem fraco é capaz de oferecer resistência. Não requer treinamento militar. A única coisa necessária é o controle da mente, e quando alcança isso, o homem torna-se livre como o rei da floresta.

A resistência passiva é uma espada com gume em todos os lados, pode ser usada da maneira que se quiser; abençoa quem a usa e contra quem é usada. Sem derramar uma gota de sangue, produz resultados de longo alcance. Nunca enferruja, não pode ser roubada e nem tem uma bainha. É estranho que se ache que essa arma seja apenas dos fracos.
Os reis sempre usarão suas armas reais. O uso da força é inato neles. Querem comandar, mas aqueles que devem obedecer às ordens não querem armas. Devem aprender ou a força do corpo ou a força da alma. Quando aprendem a primeira, governantes e governados ficam como os loucos; mas, onde aprendem a segunda, as ordens dos governantes não vão além da ponta de suas espadas.
É grande a nação que repousa sua cabeça sobre a morte como no seu travesseiro. Aqueles que desafiam a morte estão livres de todos os medos. A mim parece que aqueles que querem tornar-se resistentes passivos devem observar a castidade, adotar a pobreza, seguir a verdade e cultivar a coragem.

Gandhi no ano de sua morte com Indira.


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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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