O PE da Serra do Brigadeiro tem 15 mil ha e fica na Zona da Mata mineira, sendo uma continuação da Serra da Mantiqueira a sul e do Caparaó a nordeste. Tem por portas de entrada as vilas de Fervedouro e Araponga, ambas sendo acessadas pela BR 116, a Rio-Bahia. Você também pode chegar em Araponga pelo asfalto de Viçosa.
A parte montanhosa do Parque é alinhada no sentido norte-sul e formada por gnaisses, com densa cobertura vegetal nas encostas. Os vales são profundos e ondulados na vertente oeste e mais planos e suaves na leste. Você notará que o desenho do Parque é curioso, por ser muito estreito, com 38 km de comprimento e apenas 4 km de largura média.
A criação do Parque foi motivada pela exuberância de sua natureza. Toda esta riqueza foi devastada durante a década de 1960, visando a produção de carvão vegetal para os fornos da siderúrgica Belgo Mineira. Antes de queimar as árvores menores, as maiores eram cortadas para usos mais nobres.
Você verá que o PESB é atravessado por uma estrada em terra, calçada nos trechos íngremes. Há nela duas portarias distantes 4 km entre si: Pedra do Pato e Araponga. Você subirá até a primeira e descerá depois da segunda – e, entre elas, a bem equipada sede do Parque, distante 12 km de Araponga e 32 km de Fervedouro. Deverá ser inaugurada a terceira portaria, a do Brigadeiro. Não existe área para camping e (oficialmente) todas as visitas devem ser guiadas.
O Parque fica numa região rural, pobre e vazia. As cidades não têm um passado interessante, apesar de o primeiro ouro de Minas ter sido descoberto exatamente em Araponga. Lá viviam os índios puris, chamados localmente de arrepiados. Nômades, habitavam o vasto espaço de 300 km ao longo da Serra da Mantiqueira, desde o Rio até Minas. Foram os puris que indicaram aos brancos o primeiro ouro lá descoberto.
O curioso nome de arrepiados foi dado aos indígenas porque seus cabelos ficavam eriçados devido ao frio da serra. Em Minas, como no Rio, acabaram quase extintos por violência e miscigenação. Muitos acham que o nome da Serra e do Parque deva ser trocado para o original. Quem sabe um dia a atual sigla seja mudada para PESA – Parque Estadual da Serra dos Arrepiados.
A mata atlântica é a principal presença na região, intercalada com campos de altitude e formações rochosas. Esse local, que era um paraíso botânico, tem hoje poucas espécies de cerne. Mas é impressionante perceber como a mata secundária retomou as encostas de forma exuberante. Talvez esta abundância resulte da neblina que com frequência encobre os topos da serra.
O visual do PESB é fantástico, em especial nos vales amplos, altos e abertos, com as encostas recobertas em baixo por mosaicos de diferentes culturas – lavouras, pastagens, reflorestamentos. E, em cima, pelas matas densas e cristas rochosas de perfis variados, com corcovas, pontões, paredes e platôs. As cristas são agudas e elevadas ao norte e mais baixas e planas ao sul.
O Parque conta com um cordão de montanhas elevadas, das quais a mais alta é o Pico do Soares, com 1.985m. Sua trilha inicia-se mata a dentro, na Fazenda do Brigadeiro, a 20 km de Araponga. Quando de minha visita, encontrava-se fechada. Embora este cume seja descrito como muito bonito, creio que a formação mais interessante seja a Pedra do Pato (1.908m), devido a seu corpo amplo e aberto. O acesso é por Bom Jesus do Madeira.
Nas suas proximidades, fica o Pico do Grama (1.561m), uma subida fácil próxima à sede do Parque. O terceiro ponto mais elevado do PESB é o Pico do Boné (1.870m), cujo desenho característico é avistado desde longe. Esta é a mais visitada montanha da região, devido a seu acesso menos vigiado, pois está distante da sede, a 18 km de Araponga. Mas, das trilhas que fiz, a mais exigente foi a do Itajuru (1.590m), no extremo sul do Parque, com uma longa aproximação. Existem outros picos, em especial o Matipozinho, a Serra das Cabeças e a Pedra Redonda.
As populações dos dois lados da serra comunicavam-se através de curtas trilhas que venciam o dorso dela, ao invés de percorrerem as longas estradas longitudinais nos vales. Esta é a origem das travessias que você encontrará no PESB. Um aspecto comum a todos estes caminhos é sua inserção dentro da floresta, pois em geral cruzam a crista da serra, ocupada pela mata de encosta.
A Fazenda do Brigadeiro ocupa uma posição importante, ao norte do PESB. Lá existe a antiga sede da empresa colonizadora que explorava a mata para produzir carvão e que possuía a maior propriedade local. Ela nunca pertenceu ao Brigadeiro, ele apenas passou e se hospedou brevemente por lá. Neste local deverá ser implantada a terceira portaria do Parque.
Há algumas cachoeiras, talvez a mais interessante sendo a das Três Quedas, na vila de Bom Jesus do Madeira, com uma boa estrutura, uma ótima culinária e divertidos relatos do Seu Adão.
Pelo menos para mim, esta pequena região abraçada pela serra e isolada do progresso tem um encanto tão especial que sempre tenho vontade de retornar a ela.