Tentou-se criar um PN em Pancas e Águia Branca, dois municípios capixabas, visando a proteção de formações graníticas com incríveis formatos, bem como de remanescentes de mata atlântica montana. Entretanto, a região é agrícola e a população local nunca foi consultada durante a tentativa de implantação. Ela se insurgiu contra esta medida e o Parque foi então transformado em Monumento Natural, o que permite sua exploração econômica controlada.
O MN dos Pontões Capixabas possui 17.500 ha, com ¾ da área em Pancas. Seja PN ou MN, nunca houve qualquer estrutura para sua visitação. Quero dizer, não há portaria, cerca ou sinalização, nem sede ou guarda parque. A população local não demonstra interesse pelo potencial turístico do lugar, embora acolha os eventuais praticantes de voo livre ou escalada.
Os pontões são as mais típicas formações rochosas da região. São monolitos em geral graníticos que parecem emergir abruptamente do solo, com formas pontudas e arredondadas de forte inclinação. No caso dos pontões capixabas, resultaram de deformações compressivas do relevo, com intrusão de granitos ou gnaisses em falhas geológicas. De todos, o mais famoso pontão do Brasil é o Pão de Açúcar no Rio.
Um detalhe interessante é que abrigam uma vegetação específica, em geral endêmica e diferenciada da do seu entorno. Nos pontões de Pancas, a declividade é alta, a insolação é elevada, a água escoa rapidamente e os nutrientes são escassos. Por isto, as plantas crescem lenta e rusticamente, e adaptam-se a este meio especial, como acontece com cactos, bromélias e orquídeas. Ou seja, são exclusivas, criando uma grande biodiversidade.
Estes pontões distribuem-se por grande extensão, desde o Rio até a Bahia. A conhecida Pedra Azul capixaba, um lindo pontão com um parque à sua volta, dista um pouco mais de 100 km. A mineira Jacinto, alucinante point de escaladas em granito no Jequitinhonha, está a 350 km. Portanto, a morfologia de Pancas e Águia Branca não é exclusiva – o que é única é a sua concentração.
Mas isto traz uma consequência: a ausência de serras convencionais faz com que a vegetação só se avolume nas bases das pedras. Portanto, ao alcance dos colonizadores e agricultores que exploraram a região, deixando-a hoje exaurida. A menos de estreitas faixas nos colos entre as pedras, você não mais encontrará a flora da mata atlântica que um dia a recobriu – ou uma rica fauna, em especial de mamíferos.
A outra característica regional são os pomeranos. A Pomerânia era uma região europeia cobiçada por alemães, poloneses e suecos, que acabou anexada à Prússia. Muitos pomeranos emigraram para o Espírito Santo, para procurar uma vida melhor do que no seu território acanhado e inseguro. Lá constituíram a maior comunidade de falantes pomeranos do mundo.
Sua maior concentração é em Pancas, onde representam mais da metade da população – você os reconhecerá pela pele clara e cabelos louros. São agricultores aplicados e pessoas retraídas, luteranas e patriarcais. Mas sua relação é com a terra, não com a montanha – aliás, como os descendentes de poloneses de Águia Branca, que emigraram pelo mesmo motivo. Já se disse que a reserva natural criada na região não é reconhecida nem defendida pela população.
Os principais atrativos são as escaladas, no firme granito local. A primeira conquista foi a chaminé de 450m na Pedra da Agulha, em 1959 – a segunda maior do país. Em 2011 foi aberta uma segunda via de 600m na face oposta. O mais frequente escalador na região é o capixaba Oswaldo Baldin.
Segundo Fábio Eggert, existem apenas cerca de 25 vias tradicionais em Pancas e 20 em Águia Branca. As Pedras do Camelo e do Jacaré concentram o maior número delas. Pelo que soube, as vias são classificadas entre os graus 3° IV e 4° VI, muitas delas sem repetição. Conversando com um escalador do Paraná, ele as graduou como de 5° a 6°. Seus tamanhos variam entre 150 e 500m. Recentemente foi aberta pelo checo Ondres Benes uma via de 7° francesa (equivalente ao nosso 9°) na Pedra da Cara. Começam a ser praticadas escaladas em móvel e vias mistas.
Os points mais procurados são as Pedras da Agulha, do Camelo, da Mula e, especialmente, da Cara, do Jacaré e da Boca. Mas existem muitas outras, com formatos interessantes, como atestam seus nomes de Gaveta, Elefante, Macaco e Coruja. O ponto culminante da região é o Pontão – suponho que perto de 900m. Mas para mim a mais bela das pedras é a da Rita (aprox. 850m), com seu formato elegante e sua coloração azulada. E, finalmente, os formidáveis Três Pontões de Águia Branca – que infelizmente não pertencem ao parque.
Mas Pancas é também muito procurada por causa do voo livre. Ele é praticado da Pedra da Colina (565m), com uma visão formidável da região. Outro local a visitar é o Alto da Lajinha, no caminho de Águia Branca. Em geral os locais montanhosos são ricos em cachoeiras, mas as poucas que avistei não me impressionaram.
3 Comentários
Espero que nunca façam um parque na região. Via de regra, significa o fim do livre acesso e provavelmente a proibição da prática de montanhismo e do camping “selvagem”. Ainda tem o risco de empurrarem os “guias” obrigatórios. A população local costuma ser mais receptiva do que os burocratas dos órgãos ambientais. Minha avaliação dos parques nacionais é péssima, com raras e honrosas exceções.
Amigo, concordo com você. Moro em Vitória e sempre tive vontade de conhecer Pancas e seus pontões. Sou adepto do camping selvagem e gostaria de indicações de locais na região. Muito obrigado. [email protected]
Parabéns Alberto. amei o conteúdo . estou indo pra lá dia 22 pra comemorar meu aniversário . Parabéns por sua iniciativa em descobrir e curtir sua aptidão com pela natureza. você é um conhece Alter e do chão e Belterra? é um maravilhoso lá.. Forte abraço