O conceito de oceano é bem simples: grandes extensões de águas salgadas que ocupam as depressões da superfície terrestre. Ele surgiu no distante período pré-cambriano. Naquela época já existia a atmosfera, mas o planeta era muito quente. O vapor d´água contido no ar acabou se precipitando sob a forma de chuvas torrenciais, que se acumularam nas depressões.
Originalmente, o oceano não seria salgado, mas a água começou a desgastar as rochas, retirando e depositando os sais minerais dos sedimentos. Isto ocorreu tanto nos mares como nos rios. Ocorre que os oceanos evaporam mais vapor d´água do que o recebem de volta como chuva. E nos rios o processo é inverso: assim, quando deságuam nos mares, eles contribuem com novos sais minerais, aumentando a salinidade dos oceanos.
E que salinidade seria essa? É de 3.5% em massa, sendo o hemisfério sul levemente mais salino. O Atlântico é o mais salino e o Ártico, o menos salino dos oceanos. O principal sal é o cloreto de sódio com 85%, mas também ocorrem carbonatos e cloretos. A temperatura média das águas é de 17°C, superior à média terrestre de 14°C. Não é surpresa verificar que os mares estão se aquecendo, desde que começou em 1880 o registro de sua temperatura.
Embora os mares sejam conectados e globais, os geógrafos identificam cinco oceanos, o Pacífico, o Atlântico e o Índico, e mais o Ártico (às vezes considerado parte dos anteriores) e o Antártico (também tido como um mar do Atlântico). Os oceanos recobrem 70% da superfície terrestre e contêm 97% de toda a água conhecida. Ver ao lado tabela resumida. A relação entre terra e água no hemisfério norte é de 2/3 e, no sul, é de apenas 1/5.
O relevo marinho evolui a partir da plataforma continental, que avança até a profundidade de 200m e contém abundante vida marinha. A escarpa submersa chama-se talude continental, mergulhando a 3.000m de profundidade até a borda continental. Seguem-se as planícies abissais, cortadas pelas dorsais oceânicas, que são cordilheiras submersas com 3.000m de altura (ver figura).
Mas, à semelhança inversa das montanhas da superfície terrestre, existem regiões de grande profundidade, chamadas de fossas oceânicas. As mais fundas ficam no Pacífico, em especial nas Ilhas Marianas, onde passam de 11.000 m (ver foto e tabela). Elas são formadas pelo afundamento de placas tectônicas em relação às suas vizinhas. Este processo está às vezes associado ao surgimento de vulcões, terremotos e montanhas, sejam superficiais ou submarinas (ver figura com os movimentos nas fronteiras entre as placas).
A superfície oceânica absorve grandes quantidades de carbono, que alimenta a fotossíntese do plâncton, desprendendo oxigênio. Ou seja, os mares absorvem o gás carbônico, cuja concentração nos seria nociva, e devolvem ao ar o combustível da vida. Os ambientes costeiros recebem a luz do sol, desenvolvem o plâncton e tornam-se criatórios de algas, corais, quelônios e peixes.
Com toda esta profundidade, não surpreende a diversidade dos habitats marinhos, que acolhem uma fauna mais rica do que a terrestre. Os habitats variam dos mangues e recifes de corais, às ervas e sargaços marinhos e às florestas de kelp e fundos lodosos (ver foto). Note que o oceano tem uma profundidade média de 5 km e que a pressão acumula uma atmosfera a cada 10 m. Assim, a 1 km da superfície a pressão é de 100 atm. Ou seja, é muito difícil estudar o mar profundo.
O mar é alcalino, com um pH histórico de 8.2, o neutro sendo 7.0. O processo de oxigenação antes descrito resulta num aumento de gás carbônico, acidificando os oceanos. No fim deste século é esperado um pH de 7.7 – isto significa três vezes mais íons de hidrogênio, favorecendo a dissolução do cálcio. Sem ele, corais, ostras, moluscos e plânctons irão definhar, ameaçando a vida. Só como comparação, se o pH de nosso sangue variasse por 0.4, nós morreríamos.
A chamada zona nerítica, que corresponde à plataforma continental, é sucedida pelo ambiente pelágico, que ocupa o mar aberto e alcança até profundidades de 6.000 m. Rico em peixes, alguns dos quais adaptados à escuridão, contém ainda serpentes, crustáceos e mamíferos. A zona seguinte é conhecida como demersal, formando uma espécie de capa sobre o fundo do mar, abrigando peixes, arraias e moreias. A fauna que habita o fundo é chamada de bentônica, são organismos que rastejam, se prendem ou vivem enterrados na areia ou no lodo, como esponjas e moluscos.
Existem três manifestações marítimas importantes: ondas, marés e correntes. As ondas são causadas pelo atrito do vento sobre a superfície. Quando eles são especialmente fortes, formam-se as swells, sucessões de ondas poderosas, com direção e comprimento semelhantes. As ondas quebram na costa a partir do momento em que sua altura excede 1/7 do comprimento. Os tsunamis têm uma origem própria, ligada a eventos catastróficos como terremotos ou erupções.
As marés decorrem dos efeitos das gravitações da Lua e do Sol e da rotação da Terra. A Lua exerce duas vezes mais influência, devido à sua proximidade. Quando os três astros estão alinhados, ocorrem as marés de sizígia; quando intercalados, as marés de quadratura. A maior parte dos lugares costuma experimentar duas marés altas diárias, a 12½ hs de intervalo. Uma protuberância pode ser vista no oceano no local onde a Lua está mais próxima, girando em torno da Terra ao acompanhar a rotação da Lua.
Uma observação: no último período glacial há 20 mil anos, o nível do mar esteve 120 m abaixo do atual. Porém, o aquecimento global ao longo do último século tem feito o mar subir quase 2 mm anuais. Esta tendência deve se manter pelo próximo século, o que significa quase meio metro acima. Compare-se com amplitudes usuais de marés de 3 m e até mesmo de 10 m (na China) e 15 m (no Canadá). Entretanto, estes são fenômenos transitórios.
As correntes superficiais são resultado dos ventos que sopram sobre o oceano. Quando uma corrente de água se move, outras águas fluem para preencher a lacuna e um giro circular de superfície é formado, dele havendo cinco principais (ver figura). Correntes de ressurgência têm a mesma origem, quando águas frias e ricas substituem as águas afastadas da costa pelos ventos.
Mas há outras forças, como a pressão e a densidade, que contribuem para importantes correntes como as do Golfo, de Humboldt, do Labrador ou das Malvinas. A figura ao lado ilustra as correntes globais, as vermelhas sendo frias e as azuis, quentes. Note como elas circulam entre os continentes, aquecendo as costas do Brasil e do leste da África e esfriando os litorais do Chile e do oeste dos Estados Unidos.
As diferenças de temperatura contribuem para a contínua circulação das águas do mar. Correntes aquecidas pelo sol na superfície a até 30°C esfriam à medida que migram para as zonas temperadas, onde se adensam, afundam e se misturam. Inversamente, a água fria e profunda com -2°C a +5°C avança para os trópicos, onde emerge e se mescla. Na figura ao lado, as temperaturas variaram de -2°C (lilás) a +30°C (bege).
Mas a mais incrível das correntes é aquela que mergulha além da centena de metros da superfície: a Circulação Termoalina (ou Termossalina). Nas altas latitudes, a água se torna mais fria e salina, migrando para o sul pelo Atlântico e depois para o leste e norte, pelo Índico e Pacífico. Ao emergir, elas enriquecem as águas superficiais com o oxigênio profundo. Mas todo este trânsito acontece a 1cm/seg, necessitando de um século para renovar o oceano inteiro.
Mas, a esta altura, talvez você esteja confuso sobre o significado da palavra mar, que usei livremente até agora. A diferença entre oceano e mar reside no tamanho, já que estes são bem menores. Entre os mares, existem os abertos, que confluem com os oceanos, como o Mares do Norte e do Japão; os interiores, com uma ligação limitada, a exemplo do Mediterrâneo e do Vermelho; e os fechados, que só se comunicam por rios ou canais, como o Cáspio e o Morto. Curiosamente, se o Cáspio é o menos salino com 1.2%, o Mar Morto é o mais salgado, com mais de 30%.
Por fim, você pode perguntar se existe água líquida além da Terra. No seu passado, Vênus e Marte tiveram, quem sabe ainda a tenham Urano, Netuno e Europa (uma das luas de Júpiter) – e além disto Titã, outro dos satélites de Saturno, pode ter lagos de hidrocarbonetos. Fora do sistema solar, pode existir o chamado gelo quente, mantido sólido a 300°C por altas pressões. Isto nos remete à possibilidade da construção da vida com formatos diferentes sob mares de amônia ou de metano.
Sabemos que a vida surgiu no mar. Fico pensando se a vida, protegida pelo abraço frio e denso do mar, não pode afinal retornar a ele, depois que os humanos tiverem intoxicado a natureza da superfície.
1 comentário
Muito legal!!