Foi meio por acaso que notei, numa viagem entre a Bahia e o Pará, que poderia passar pelo parque das cavernas goiano, que havia rapidamente conhecido uns dez anos antes. Desta vez, pude dispor de alguns dias para visitá-lo – veja a seguir o resultado.
As cavernas do Parque Estadual de Terra Ronca foram pesquisadas um século depois das paulistas, no caso pelo francês Pierre Martin. Ele foi um dos fundadores da SBE – Sociedade Brasileira de Espeleologia. Deste trabalho pioneiro resultou a criação de uma reserva com 57 mil ha.
Nela existem mais de 250 cavernas catalogadas, embora se comente haver cerca de mil na região. O PETER ocupa uma estreita serra calcária, grandemente situada no município de São Domingos. Fica no norte goiano, a 650 km da capital pela BR 020. Assim como as vilas paulistas, esta resultou do garimpo do ouro a partir do século XVII.
Não é um Parque bem estruturado, carecendo de portaria, divulgação e sinalização. Como é distante de São Domingos, você pode hospedar-se no vilarejo de São João, a 30 km da sede. As estradas, naturalmente, são de terra – adequadas durante a estação seca e provavelmente precárias durante a úmida.
São apenas cinco as cavidades visitáveis, a principal delas sendo o complexo Terra Ronca I e II, duas formações gigantescas separadas por um desabamento. Este nome sonoro é atribuído ao rugido do Rio da Lapa que percorre o seu interior ou ao tropel dos cavaleiros que a atravessava por cima.
Suas bocas são impressionantes, com 95 e 120m de altura, bem como suas amplitudes. Se a primeira caverna é apenas um enorme cilindro oco sem decoração, a segunda é rica em espeleotemas, em particular ao longo do ½ km de diâmetro do Salão dos Namorados. Possui ao todo 5 km.
Você notará que as cavidades do PETER são mais longas e amplas do que as do PETAR, embora com decorações mais espaçadas. Um exemplo são os 14 km da Caverna Angélica, da qual apenas o início é aberto à visitação, até o encontro dos seus dois rios internos. Os Salões das Cortinas e dos Espelhos são espetaculares. É a mais próxima da cidade, dela distando 20 km.
São Bernardo e São Mateus estão a 50 km da vila de São Domingos, embora por caminhos diferentes. A primeira é fácil e curta, com apenas 4 km. Nela avancei até o Salão das Pérolas, que exibe de forma mágica como que um resumo de todas as decorações antes visitadas.
Mas a segunda é gigantesca, com 24 km, além de perigosa, com sua entrada estreita e contorcionista e seu piso desabado e irregular, que apenas progressivamente vai se tornando mais plano. Contém inúmeros salões como Setecentos, Chuveirinho e Gigantes Bêbados. Convém lembrar que são todas cavernas molhadas, muitas vezes com água pela cintura. E todas elas apresentam duas bocas.
Na realidade, as cavernas do PETER pertencem a complexos de duas ou mais formações, como por exemplo:
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Angélica e Bezerra I
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Terra Ronca I, II e Malhada
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São Bernardo I, II, III e Palmeira
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São Mateus I, II, III e Imbira
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São Vicente, Passa Três e Couro D´Anta.
De todas as cavidades, a mais espetacular é a gigantesca São Vicente, com nada menos do que 14 km. Seu acesso é feito por rapel, prenúncio de seus muitos e perigosos abismos. O Rio São Vicente apresenta 12 cachoeiras no seu interior. Embora não esteja aberta, é visitável sob certas condições.
Gostaria de terminar citando (com leve alteração) as palavras de Márcia Pavarini: Terra Ronca é um parque envolvente e misterioso. Ao desvendar as entranhas do seu interior, atravessar salões com estonteantes formações e deslumbrar a ousadia da natureza, de repente você se dá conta de que está adentrando um outro mundo, como se fosse uma viagem ao centro da Terra.