A pesca esportiva é a meu ver uma prática cruel e covarde que deveria ser extinta. Leia a coluna e veja se concorda comigo.
Chama-se pesca esportiva a prática da pesca realizada como atividade de lazer, sem intuito comercial. Ela chega a ser louvada como uma atividade de integração social, união familiar e convívio sadio com a natureza – e até mesmo considerada como uma evolução ecologicamente correta da pesca amadora.
Confesso que não entendo essas colocações. Afinal, a pesca do marlim, da truta, do tucunaré ou do robalo resulta na inevitável morte do animal, ocorra ela nos mares, rios ou lagos. O objetivo é a captura do animal, para posterior consumo. Portanto, é equivalente à caça de um leão ou de um elefante – para mim, uma carnificina igual.
Não só os peixes, mas também os crustáceos, como camarões, siris e caranguejos, são apreendidos para o nosso consumo. Da mesma forma, lutam pela vida, igualmente sem sucesso. Confinados no gelo em espaços mínimos, costumam ser congelados ou cozidos ainda em vida.
Porém o termo pesca esportiva também abrange a atividade que não resulta em consumo, ou seja, com o retorno dos animais à água, depois de fisgados. De novo, fico sem entender o objetivo desta prática.
Mas sou informado que geralmente os pescadores pesam, medem e fotografam o peixe antes de devolvê-lo à água; a devolução tem o objetivo deixá-lo crescer ainda mais e desovar mais vezes, aumentando sua população.
Aliviado por esta mensagem, descubro a seguir que existem bondosas técnicas para amenizar os ferimentos dos peixes: anzóis sem farpas, içamentos lentos, manuseios submersos e fotos rápidas.
E que estes aperfeiçoamentos levariam em conta que, de forma alguma, os peixes não seriam apenas legumes que nadam, porque possuiriam sistema nervoso e sentiriam dor. Deveriam ser assim protegidos, porque também sentiriam medo, prazer e possivelmente a consciência de ambos. Reconfortante, não?
Gostaria que me explicassem qual é o mérito em caçar o animal com todo conforto e proteção das lanchas e caiaques, com os melhores arpões, anzóis ou redes, apenas para medi-lo e fotografá-lo. Penso que, quanto maior for meu peixe e melhor minha foto, mais covarde e impune terá sido minha ação.
O leitor pode achar meu argumento subjetivo. Pergunto então objetivamente como é possível fisgar e arrastar os peixes, algumas vezes numa lancha a alta velocidade, levá-los à exaustão, asfixiá-los na rede ou sufocá-los na linha, perfurar suas delicadas mandíbulas ou, pior, feri-los no olho e na garganta, fazê-los engolir o anzol, angustiá-los e até mesmo contaminá-los – e chamar estas atrocidades de esporte?
Que prazer pode existir em fazer deles um troféu? E depois devolvê-los com mandíbulas ofendidas que irão prejudicar sua respiração e alimentação, com ferimentos que irão torná-los vulneráveis, com mutilações dolorosas para o resto de suas vidas?
Muitos humanos consideram os peixes formas primitivas e inferiores de vida. Penso que todos nós fazemos parte de uma mesma vida, que nos envolve em conjunto. Nela estamos todos unidos, não há partes separáveis sem dano para o todo. A vida dos peixes é também a nossa vida.