A Pesca Esportiva

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A pesca esportiva é a meu ver uma prática cruel e covarde que deveria ser extinta. Leia a coluna e veja se concorda comigo.

Chama-se pesca esportiva a prática da pesca realizada como atividade de lazer, sem intuito comercial. Ela chega a ser louvada como uma atividade de integração social, união familiar e convívio sadio com a natureza – e até mesmo considerada como uma evolução ecologicamente correta da pesca amadora.

Peixe Saudável em Posição Confortável após Pesca (Fonte: ecopapo.blogspot)

Confesso que não entendo essas colocações. Afinal, a pesca do marlim, da truta, do tucunaré ou do robalo resulta na inevitável morte do animal, ocorra ela nos mares, rios ou lagos. O objetivo é a captura do animal, para posterior consumo. Portanto, é equivalente à caça de um leão ou de um elefante – para mim, uma carnificina igual.

Marlim Azul Pronto para Pescar (Fonte: Jornal Bahia)

Não só os peixes, mas também os crustáceos, como camarões, siris e caranguejos, são apreendidos para o nosso consumo. Da mesma forma, lutam pela vida, igualmente sem sucesso. Confinados no gelo em espaços mínimos, costumam ser congelados ou cozidos ainda em vida.

Caiaque Equipado para Pesca Agradável (Fonte: Bucaneiropesca)

Porém o termo pesca esportiva também abrange a atividade que não resulta em consumo, ou seja, com o retorno dos animais à água, depois de fisgados. De novo, fico sem entender o objetivo desta prática.

Mas sou informado que geralmente os pescadores pesam, medem e fotografam o peixe antes de devolvê-lo à água; a devolução tem o objetivo deixá-lo crescer ainda mais e desovar mais vezes, aumentando sua população.

Carpa com Boca Dilacerada (Fonte: Fishingtur)

Aliviado por esta mensagem, descubro a seguir que existem bondosas técnicas para amenizar os ferimentos dos peixes: anzóis sem farpas, içamentos lentos, manuseios submersos e fotos rápidas.

E que estes aperfeiçoamentos levariam em conta que, de forma alguma, os peixes não seriam apenas legumes que nadam, porque possuiriam sistema nervoso e sentiriam dor. Deveriam ser assim protegidos, porque também sentiriam medo, prazer e possivelmente a consciência de ambos. Reconfortante, não?

Pesca com Rede de Malha Fina (Fonte: portalmda.com)

Gostaria que me explicassem qual é o mérito em caçar o animal com todo conforto e proteção das lanchas e caiaques, com os melhores arpões, anzóis ou redes, apenas para medi-lo e fotografá-lo. Penso que, quanto maior for meu peixe e melhor minha foto, mais covarde e impune terá sido minha ação.

O leitor pode achar meu argumento subjetivo. Pergunto então objetivamente como é possível fisgar e arrastar os peixes, algumas vezes numa lancha a alta velocidade, levá-los à exaustão, asfixiá-los na rede ou sufocá-los na linha, perfurar suas delicadas mandíbulas ou, pior, feri-los no olho e na garganta, fazê-los engolir o anzol, angustiá-los e até mesmo contaminá-los – e chamar estas atrocidades de esporte?

Dourado Preso com Alicate (Fonte: pescasemfronteiras.com.br)

Que prazer pode existir em fazer deles um troféu? E depois devolvê-los com mandíbulas ofendidas que irão prejudicar sua respiração e alimentação, com ferimentos que irão torná-los vulneráveis, com mutilações dolorosas para o resto de suas vidas?

Peixe Leão sendo Arpoado (Fonte: sedna.radio-canada)

Muitos humanos consideram os peixes formas primitivas e inferiores de vida. Penso que todos nós fazemos parte de uma mesma vida, que nos envolve em conjunto. Nela estamos todos unidos, não há partes separáveis sem dano para o todo. A vida dos peixes é também a nossa vida.

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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