Se você pôde ler sobre as perversidades nas três últimas colunas, espero que aproveite essas duas seguintes, quando conhecerá como os animais, ao invés de confinados e mutilados, são cuidados e protegidos. Se os humanos não mais se amam, será que não podem ao menos amar os animais, tantos deles mortos por sua vida?
Um santuário animal é o local onde os animais levados para lá viverão protegidos por toda sua vida. Diferentemente dos abrigos, os santuários normalmente não procuram recolocar ou exterminar os animais.
Entretanto, existem estabelecimentos híbridos, onde alguns bichos podem ser residentes temporários até sua adoção e outros podem permanecer para sempre.
O objetivo dos santuários é funcionar como um porto seguro, onde os animais vivam em segurança, sem serem comprados, usados ou vendidos – ou seja, não sirvam para testes ou serviços. Vacas não são ordenhadas, ovelhas não são tosquiadas, tigres não são caçados, elefantes não têm suas presas retiradas, potros não são domados.
Os animais, que com frequência tinham sofrido maus tratos na natureza, nas fazendas, nos laboratórios ou nos circos (em especial os de beira de estrada), podem agora ter uma oportunidade de uma vida natural protegida. Note que eles são quase sempre doados e quase nunca adquiridos.
Santuários não são zoológicos e os animais neles normalmente não se reproduzem. Não costumam aceitar visitas desacompanhadas, pois os contatos com os humanos podem interferir no bem-estar dos bichos. Porém são usualmente abertos de forma restrita ao público, pois uma de suas funções é educá-lo.
É um nome estranho este, pois os santuários historicamente destinavam-se ao culto de santos e deuses. Mas, no nosso caso, o que se reverencia é a natureza – especialmente a fauna.
Santuários não são reservas naturais, sempre ocupando áreas particulares, ao contrário daquelas. Portanto, não podem ser tão grandes como os parques a que estamos acostumados.
O maior e mais antigo santuário norte-americano fica no Colorado, com apenas 300 ha de área. Existem santuários com apenas 5 ha, ou menos de dez campos de futebol, e alguns menores ainda.
Além disso, dificilmente ocupam terras de alto valor comercial ou de grande atrativo cênico. Os investidores privados procuram naturalmente espaços de menor custo. Então, não conte com belos visuais, como nas nossas reservas públicas.
Muitos deles são especializados em certas espécies. Por exemplo, em morcegos, orangotangos e chimpanzés (que são os grandes símios), em elefantes, nos grandes carnívoros (como leões, pumas e linces) e até mesmo em burros e mulas.
Mas os critérios de seleção podem ser outros: por exemplo, a recuperação de espécies selvagens para que possam retornar à natureza; o resgate de animais de criação, como porcos e cabras; a proteção de bichos exóticos (ou não domésticos, como o lobo, a coruja e a iguana); ou a recuperação de animais de estimação como gatos e cães.
Não espere encontrar grandes quantidades, como nos safaris africanos. Santuários de reputação abrigam menos de 100 leões ou ursos. Inversamente, nos Estados Unidos existe uma organização com mais de 1.500 animais, desde gatos a cavalos e linces, e na Inglaterra uma outra com 3.000 muares. No Brasil, há santuários que chegam a hospedar 50 a 100 mamíferos.
Os santuários são operações peculiares, pois não geram rendas próprias – já que não dispõem de qualquer produção. Os custos de manutenção das propriedades e alimentação dos animais têm de ser suportados por doações. Acredito que muitos sobrevivam do trabalho abnegado e do recurso particular de seus fundadores.
Um país desenvolvido normalmente não operará mais de meia dezena de santuários (pelo menos oficiais). Alguns, como Quênia e Paquistão, possuem uma dezena. A exceção, naturalmente, são os Estados Unidos, com quase 150 catalogados – só na Califórnia existem 20 deles.
Mas é a Índia que exibe uma exuberante quantidade, com cerca de 550 unidades, algumas com centenas de milhares de ha. O conceito é idêntico ao deste artigo, mas suspeito que ocorra apoio ou propriedade do Governo e que haja uma confusão entre os conceitos de santuário e de refúgio (ver adiante).
Eu me impressionei ao encontrar mais de meia dúzia de santuários brasileiros, numa formatação igual à dos americanos, ou seja, sob propriedade privada e dependentes de doações voluntárias.
Em particular, em Camanducaia (MG) existem 100 mamíferos, em Itaipava (RJ) são alojados 130 animais, em Sorocaba (SP) 300 deles e em Peruíbe (SP) outros 600 – em todos os casos, com presença de aves. Vale comentar sobre a enorme área de 1.000 ha na Chapada dos Guimarães (MT), com planos para acolher 50 elefantes.
Santuários não se confundem com refúgios de vida silvestre, pois nestes casos a fauna e a flora são pré-existentes nas áreas para eles reservadas. Ou seja, são populações autóctones, selvagens e nativas. Além disto, quase todos funcionam como reservas públicas. Falarei deles numa próxima coluna.