O Greenpeace

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O Greenpeace é provavelmente a mais conhecida ONG (Organização Não Governamental) do mundo. Sua missão de defesa do meio ambiente tem sido praticada com agressividade em todo o mundo.

O Greenpeace é hoje uma organização internacional sediada em Amsterdam, operando em meia centena de países, com quase 3 milhões de membros e receitas anuais de US$ 400 milhões. Mantendo sua tradição de incursões navais, o Greenpeace opera três navios de longo alcance.

Ele surgiu em Kitsilano. Se você pensa que este é um local no Taiti ou no Peru, errou feio. Kitsilano é um bairro chique de Vancouver, uma próspera cidade de porte médio, situada na orla canadense do Pacífico.

A Ilha de Amchitka onde o Greenpeace Começou (Fonte: apokalink.com.br)

Nos fins da década de 1960, os Estados Unidos pretendiam realizar testes nucleares subterrâneos na ilha de Amchitka. Localizada no Alasca, fica sobre uma área tectonicamente instável. Temia-se que isto pudesse causar terremotos e tsunamis.

Entre os opositores aos testes havia três amigos que eram membros do Sierra Club. Esta é uma das mais reputadas organizações de defesa da natureza, fundada no século XIX por inspiração de John Muir. Você já o encontrou no meu primeiro livro, espero que se recorde do relato de sua vida – ele foi um dos primeiros ambientalistas.

Mas o Sierra Club não havia tomado nenhuma medida firme contra os testes nucleares. Jim Bohlen e o casal canadense Irving e Dorothy Stowe pensaram em resistir ao experimento, adotando uma tática de testemunhas passivas (ou seja, se exporem no local do teste).

Ativistas do Greenpeace contra a Caça à Baleia Minke por Japoneses (Fonte: independent.co.uk)

E foi na residência dos Stowe em Kitsilano que aconteceram as primeiras reuniões, que resultaram na campanha inaugural do Greenpeace. Os ativistas fretaram um navio e velejaram até o local dos testes, tendo sido, entretanto interceptados pela Marinha americana.

Mas esta ação despertou o interesse público e iniciou uma grande polêmica. O Governo detonou a bomba em 1971, mas este foi o último teste feito. A ilha é hoje um santuário de pássaros. Naquele mesmo ano o Greenpeace foi fundado e seu primeiro presidente foi o jornalista canadense Bob Hunter.

Navio do Greenpeace no Mar de Barents no Ártico (Fonte: Will Rose)

Os ativistas depois replicaram a campanha, velejando para a Polinésia no barco de David McTaggart. O Governo da França pretendia conduzir testes nucleares atmosféricos no Atol de Moruroa. Agredidos pela Marinha francesa, os ativistas conseguiram desta feita impedir o experimento.

Mas o Greenpeace era apenas um grupo de ativistas sem uma organização formal. O projeto seguinte contra a caça às baleias foi conduzido como uma campanha independente e, em meados da década de 1970, havia várias facções separadas usando o nome Greenpeace. Só em 1979 o Greenpeace International foi fundado na Europa, consolidando todos os núcleos.

A publicidade trazida pelas campanhas do Greenpeace acarretou um grande volume de doações. Para manter sua independência, a organização não aceita fundos de corporações, governos ou partidos políticos. Porém busca ativamente doadores, usando abordagem direta em locais públicos.

Denúncia do Greenpeace contra o Conselho de Manejo Florestal (Fonte: Greenpeace)

O Greenpeace diz que seu objetivo é criar um mundo onde toda a vida na Terra possa florescer. Especificamente, propõe evitar o aquecimento global, proteger a biodiversidade, combater o consumismo, favorecer a energia renovável e promover o desarmamento e a não violência.

Ao longo dos anos, o Greenpeace questionou o uso de inúmeros compostos que considerava prejudiciais à saúde e ao ambiente. Em particular, opôs-se ao gás fréon (CFC) usado em refrigeração. Conseguiu desenvolver um refrigerador livre desta substância, que é hoje usado em talvez metade dos aparelhos.

Protesto do Greenpeace do Reino Unido contra o Aquecimento Global (Fonte: Greenpeace)

Tem contestado as indústrias do carvão, do petróleo e da energia nuclear por seus impactos nocivos na natureza, especialmente no Ártico. Combateu o desflorestamento (incluindo as atividades das madeireiras e as plantações para óleo de palma), os alimentos transgênicos (especialmente o arroz dourado) e a disposição irregular do lixo tóxico.

Na realidade, o Greenpeace investiu contra uma quantidade enorme de grandes negócios, como a Google e a Shell, a Lego e Nestlé, o McDonald´s e a Nike, a Volkswagen e a Syngenta. Não só em função da ação global dessas empresas, mas também devido ao impacto público das denúncias.

Evolução das Despesas Anuais das Campanhas do Greenpeace (Fonte: Greenpeace)

Mas o Greenpeace tem também sido acusado de motivar-se mais pela política do que pela ciência, não tendo nenhum diretor com educação científica formal – a organização teria degenerado numa legião dogmática e reacionária de fanáticos opostos à ciência, que não se importam com os fatos e sim com a publicidade (opinião do jornalista Wilson da Silva).

Paul Watson, um dos membros originais da organização, comentou: O Greenpeace consegue mais dinheiro de sua oposição à caça das baleias do que a Noruega e a Islândia juntas obtêm da atividade baleeira. Em ambos os casos, as baleias morrem e alguém lucra.

Propaganda do Greenpeace quando de sua Chegada ao Brasil em 1992 (Fonte: Greenpeace)

Em várias ocasiões o Greenpeace foi denunciado por deturpar informações, recorrer a ações violentas, vandalizar propriedades alheias, causar horrendos prejuízos financeiros, exibir um comportamento oportunista e realizar campanhas e encenações odiosas.

Quero citar três casos. O primeiro é sua feroz oposição ao arroz dourado, um transgênico nutritivo, importante para as populações pobres da Ásia, que foi provado inofensivo. A posição do Greenpeace, inclusive destruindo campos de prova, parece ser ignorante e arbitrária.

A Guerra pelo Arroz Dourado (GMO Significa Transgênico) (Fonte: infoguerre.fr)

O segundo foi ainda pior. O Greenpeace resolveu instalar um anúncio contra os danos climáticos na zona protegida das Linhas de Nazca. Estas são um gigantesco conjunto de ranhuras lineares aberta no solo do deserto peruano de Nazca, melhor observáveis do alto. Seus membros simplesmente marcharam de forma irresponsável sobre os imemoriais geoglifos, danificando-os de forma provavelmente irreparável.

Mensagem do Greenpeace no Geoglifo de Nazca no Peru (Fonte: gizmodo)

E o terceiro se passa nos tempos atuais no Brasil, quando nossas praias foram poluídas pelo óleo derramado no mar. Evidentemente, o acidente mobilizou a população. O Greenpeace foi instado a participar da limpeza das praias. Negou-se alegando não ter expertise no assunto. Enquanto isto, meros pescadores contribuíam com os esforços, mesmo em alto mar.

Escrevi sobre o assunto para o Greenpeace – e o que chamam de resposta fala de denúncias, debates e articulações, mas não de limpeza. Pelo contrário, sua expertise parece ser pôr sujeira no ventilador.

O Greenpeace parece ser tão inescrupuloso e imediatista quanto as organizações contra as quais batalha.

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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