Começo aqui uma série de oito colunas sobre o Centro-Oeste: o Parque dos Veadeiros, Pirenópolis, o Parque das Emas, Serranópolis, Barra do Garças, Alcinópolis e Caiapônia. Logo ao sul do Jalapão está o PN da Chapada dos Veadeiros, numa região enorme e ondulada, com belos visuais e cachoeiras espetaculares.
Em prosseguimento à interiorização do progresso trazida por Brasília, Juscelino Kubitschek quis criar enormes parques no Centro Oeste brasileiro.
Um deles foi o PN da Chapada dos Veadeiros, iniciado com dez vezes seu atual tamanho, que já é muito grande. Agora o PN será ampliado para 250 mil ha (ver figura). A região está assentada sobre uma imensa placa de quartzo, o que talvez explique as experiências místicas que o povo de lá descreve.
Vou citar um exemplo. Existe um grupo de rochas à beira do ponto mais alto da principal rodovia, num local chamado de Paralelo 14. Dizem que, ao pôr do sol, é possível aos iniciados conhecerem a quarta dimensão.
Sim, eu fui lá, mas devo ter sentado na rocha errada, pois só cheguei a 3½ dimensões. E, é claro, você ouvirá com frequência que é possível chegar a Machu Picchu por algum conduto misterioso, pois ambos os lugares repousam sobre o mesmo paralelo.
Mas é triste a história original desta região. Ela foi antigamente povoada pelos avá-canoeiros, tribo guerreira dizimada pelos bandeirantes. Conhecidos como o povo invisível pela sua habilidade em se esconder na mata, foram resgatados na década de 1980 e transferidos para uma enorme reserva ao norte da Chapada.
Despojados de sua cultura e reduzidos a menos de dez, vivem hoje miseravelmente – como disse deles o chefe do Posto Indígena: Não se reproduziram. A quem ocorreria deixar a seus filhos uma herança dessas?
O nome da região foi dado pela Fazenda Veadeiros que existia ao norte. Estes eram cães farejadores dos veados campeiros, caçados durante quase um século. O couro dos veados era mais valioso que sua carne, por ser usado na confecção de bolsas, selas e calçados.
A Chapada abriga um conjunto espetacular de cachoeiras, como em nenhum outro local no país que eu conheça. Os locais são Cavalcante, São Jorge e Alto Paraíso. Há travessias no interior do PN, a maior sendo de 2 a 3 dias.
São quedas formidáveis, de águas puras e volumosas, em cenários estranhamente áridos: Cataratas dos Couros, Vale dos Macaquinhos, Almécegas, Santa Bárbara e Capivara, Abismo e Janela, Segredo e tantas outras – algumas distantes porém com caminhos curtos e outras com longas trilhas.
Luciano Neiva cunhou o termo Águas Coloridas para representar as diferentes cores dos poços da Chapada. Existem as deslumbrantes águas azuis de Santa Bárbara, as verdes do conjunto do Prata, as amarelas do pequeno Rio Curriola, as pretas do Rio Preto que banha o Parque Nacional e, por fim, as transparentes do frequentado Vale da Lua.
Mas acredito que o local mais bonito não esteja nos vales e sim no Jardim de Maitreya. Ele é uma deslumbrante vereda decorada por buritis.
Vale a pena subir ao Morro da Baleia para contemplá-lo lá de cima. Como em nenhum outro local, você sentirá uma grande paz ao olhar este panorama de mansa beleza. Acho que será aqui onde você poderá finalmente alcançar alguma nova dimensão espiritual.