Gêmeos Turner escalam Pico Mera para testar roupas que Mallory usou em 1924

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Quando relembramos a história das grandes conquistas do montanhismo, é impossível não pensar na coragem dos primeiros exploradores e em como eles conseguiram vencer enormes desafios sem as informações e os equipamentos modernos que tornam as ascensões mais acessíveis atualmente. Essa também é uma das dúvidas que ainda rondam a emblemática expedição de George Mallory e Sandy Irvine, que faleceram durante uma escalada ao Everest em 1924. Afinal, será que Mallory e Irvine chegaram ao cume? E como conseguiram enfrentar o frio intenso dos 8 mil metros usando as roupas e equipamentos disponíveis na época?

Hugo e Ross Turner com as roupas de 1924 e 2025. Foto: The Turner Twins @theturnertwiins

Foi pensando nessas perguntas que os gêmeos Turner realizaram a expedição “George Mallory Reimagined”, uma expedição científica que consistiu em escalar o Mera Peak (6.476 m), no Nepal, para investigar como as roupas de montanhismo evoluíram nos últimos 100 anos. Para isso, Hugo Turner utilizou apenas roupas e equipamentos semelhantes aos de Mallory, confeccionados à mão, com fibras naturais, enquanto Ross Turner seguiu com itens modernos de alta tecnologia.

Camisas de seda, suéteres de lã, camisa de flanela, jaqueta e calças de gabardine: cada item do vestuário de Mallory foi cuidadosamente recriado para essa expedição. E, claro, não poderia faltar a peça mais icônica do montanhista, a sua bota. De acordo com os irmãos Turner, foram quase 18 meses de pesquisa e desenvolvimento da réplica, com 40 pessoas envolvidas no projeto.

A réplica da bota de Mallory. Foto: The Turner Twins @theturnertwiins

A construção da réplica foi feita pela tradicional fabricante de calçados inglesa Crockket & Jones. Foto: Divulgação Crockket & Jones

Durante os dez dias de expedição, os irmãos utilizaram equipamentos e monitores de saúde fixados ao corpo para rastrear como reagiriam às roupas de 1924 em comparação às modernas. Além disso, câmeras térmicas avaliaram o desempenho externo das peças e botas. O objetivo foi medir a eficiência térmica e resistência dos materiais em condições extremas, além de analisar como o vestuário afeta as funções físicas e cognitivas do montanhista.

Em 03/11, os Turner e a equipe de apoio chegaram ao cume do Mera Peak ao nascer do sol, enfrentando temperaturas de -15 °C e condições climáticas adversas. “Depois de dez dias nas montanhas, finalmente chegamos ao cume do Mera Peak. As roupas e botas da Mallory chegaram ao topo! É incrível pensar que essas botas podem ter chegado ao topo do Everest há mais de 100 anos”, disseram os irmãos.

Os irmãos próximo do cume. Foto: The Turner Twins @theturnertwiins

Agora, os gêmeos afirmam que irão analisar os dados coletados durante a expedição para avaliar o desempenho das roupas e equipamentos, tanto das peças inspiradas nos anos 1920 quanto dos modelos atuais.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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