Quem ama estar nas montanhas ou em ambientes naturais sabe o quanto um acidente com serpentes pode ser perigoso. No entanto, cientistas anunciaram um avanço significativo no tratamento contra picadas de cobra com o desenvolvimento de um antiveneno recombinante baseado em nanocorpos.
Um estudo conduzido pela Universidade Técnica da Dinamarca (DTU) e publicado na revista Nature revelou que o novo composto é capaz de neutralizar com eficácia uma ampla gama de venenos de cobras da família Elapidae como najas, mambas e rinkhals, ou as cobras-corais encontradas no Brasil.
De acordo com Andreas Hougaard Laustsen-Kiel, coautor do estudo, embora a pesquisa tenha sido focada nas elapídeas, a mesma abordagem pode ser aplicada às viperídeas (víboras), como as jararacas, cascavéis e surucucus, permitindo futuramente um antiveneno de amplo espectro.
Atualmente, estima-se que mais de 300 mil picadas de cobra ocorram anualmente na África Subsaariana, resultando em cerca de 7 mil mortes e 10 mil amputações. No entanto, os próprios pesquisadores reconhecem que esses números podem ser até cinco vezes maiores, devido à subnotificação dos casos.
Os antivenenos tradicionais são produzidos a partir do plasma de animais hiperimunizados, como cavalos, o que gera limitações. Entre elas estão o alto custo, a eficácia restrita a determinadas espécies, o risco de reações imunológicas graves e a baixa proteção contra os danos locais causados pelo veneno, como necroses e inflamações severas.
Como foi desenvolvido o novo antiveneno
Para superar essas limitações, os pesquisadores imunizaram uma alpaca e uma lhama com misturas de venenos de 18 espécies de cobras elapídeas, incluindo najas, mambas e rinkhals, algumas das serpentes mais temidas da África.
A partir dessas amostras, eles construíram bibliotecas de nanocorpos utilizando a tecnologia de phage display. Após diversas etapas de seleção, foram identificados oito nanocorpos com alta afinidade e ampla reatividade cruzada, que, combinados, deram origem a um coquetel oligoclonal experimental, o novo antiveneno recombinante.
Em modelos de pré-incubação, o produto preveniu a letalidade provocada pelos venenos de 17 das 18 espécies estudadas. Além disso, em testes mais realistas de “resgate”, ou seja, quando o tratamento é aplicado após a injeção do veneno, o desempenho foi superior ao dos antivenenos comerciais atualmente disponíveis.
Outro destaque foi a redução significativa da necrose cutânea, um dos efeitos mais difíceis de conter com os tratamentos convencionais.
O avanço representa um passo importante para tornar o tratamento de picadas de cobras mais eficaz, seguro e acessível, sobretudo em regiões de baixa renda, onde os acidentes são mais frequentes e os recursos médicos mais escassos.
Entre as principais vantagens do novo antiveneno estão a alta estabilidade, o baixo risco de reações adversas e o potencial de produção em larga escala com custos reduzidos, segundo os autores do estudo.
Por outro lado, ainda há desafios a serem superados. A meia-vida curta dos nanocorpos no organismo pode exigir doses repetidas, e até o momento, os testes foram realizados apenas em modelos animais. Assim, será necessário avançar para ensaios clínicos em humanos antes que o antiveneno possa ser comercializado.
Confira o estudo completo aqui.


















