Escaladores de El Chaltén repetem a via Royal Flush no Fitz Roy, escalada apenas cinco vezes

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Os escaladores Pedro Odell, Tomas Odell e Bauti Gregorini, todos naturais de El Chaltén, concluíram em novembro a ascensão da via Royal Flush, uma das linhas mais longas e verticais do Fitz Roy, conhecida por suas poucas repetições.

O trio deixou suas casas com o ambicioso objetivo de escalar a rota em livre. No entanto, a tentativa foi interrompida pela água que escorria por um dos trechos mais difíceis da via. Apesar de existirem alguns grampos ao longo do percurso, os escaladores optaram por realizar a ascensão utilizando exclusivamente proteções móveis.

Maciço do Fitz Roy em El Chatén.

“Nossa prioridade era chegar ao cume, mas tínhamos a intenção de tentar uma escalada em livre”, disse Pedro Odell. “No entanto, ao chegarmos à oitava enfiada, que é de grau 7A (7C Br), vimos que havia água escorrendo. Mais tarde, enfrentamos outros trechos com muita água corrente, incluindo o crux, então rapidamente descartamos a ideia de escalar toda a rota em livre”, explicou.

A via também teve mudanças recentes na rocha após um desmoronamento. “Alguns escaladores que tentavam a Royal Flush viram que o primeiro lance havia desmoronado”, disse Pedro Odell. “É como uma grande chaminé que costumava ser cheia de rochas e tinha algumas fendas que podiam ser escaladas. Agora tudo lá dentro desabou, então a chaminé está grande e oca.”

Apesar disso, os três conseguiram progredir. “Ainda assim, conseguimos escalar a chaminé muito bem”, acrescentou Odell. “Só precisamos de mais cuidado, pois algumas rochas ainda estão soltas, mas conseguimos escalá-la sem grandes dificuldades.”

Odell destacou ainda a importância das condições meteorológicas, um fator determinante na face leste do Fitz Roy. “Como em todas as outras rotas na face leste do Fitz Roy, você precisa de vários dias de bom tempo… [e]também das condições certas, já que pequenas variações afetam muito a escalada”, disse ele. “No nosso caso, talvez as condições não fossem as melhores devido ao excesso de água corrente, mas, por outro lado, a parte superior da rota estava seca e limpa. Gelo em excesso fez com que outras equipes desistissem.”

A disponibilidade simultânea dos três escaladores também contribuiu para a realização da ascensão. “A janela de tempo perfeita surgiu no momento certo, quando nós três estávamos disponíveis”, disse o escalador. “Há anos sonhávamos com a oportunidade de escalar essa rota juntos.”

O bom clima registrado em novembro facilitou o desempenho de várias equipes na região, permitindo ascensões longas logo após a chegada a El Chaltén. Para Gregorini, a conquista teve um significado especial. “Passei tantas noites sonhando com esse percurso, tantas horas conversando sobre ele”, disse o escalador, que tem uma relação afetiva com a face leste do Fitz Roy — o lado que se volta justamente para sua cidade natal.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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