Trata-se de uma travessia preciosa, na porção meridional da Serra do Espinhaço. Em janeiro, quando lançada, ainda como proposta de travessia, as 19 vagas de pré-reserva se esgotaram em menos de duas horas. A lista de espera, aberta quando as vagas findaram, cresceu de forma inaudita, em pouco tempo alcançando mais de uma dúzia de candidatos, torcendo que a desistência de uns e outros permitisse a própria participação.
No mesmo azimute, também começaram gestões para que a administração do grupo Arcanjos, planejasse uma segunda van, em sentido inverso, considerando que a imensidão da caminhada permitiria a dispersão dos participantes. Dessa forma, o impacto ambiental ficaria parcialmente atenuado, não sobrecarregando ambientes sensíveis e maximizando o caráter imersivo da caminhada no ambiente de cerrado.
A Amanda fez os primeiros contatos com os gestores de ambos os parques, começando pelo Tonhão, gestor do Parque Estadual do Rio Preto, conhecido quando fizemos a travessia entre os Parques Estaduais do Itambé e o do Rio Preto, em 3 dias de intenso trekking.
::LEIA AQUI: Inter-parques: do Parque Estadual do Itambé ao Parque Estadual do Rio Preto em 2,5 dias.
Acordou com os gestores uma exploratória ligando os parques, fornecendo subsídios para que avaliassem a implantação dessa nova travessia, de forma regular. Nesse papel, a EQUIPE ARCANJOS contribui de forma positiva para o Montanhismo Nacional, somando ao habitual fomentar do montanhismo autônomo e responsável, a avaliação sobre a viabilidade dessa nova travessia. Esse relato documenta parcialmente o observado, trazendo transparência para etapas de bastidores que as gestões dos parques percorrem quando buscam maximizar os em conformidade com o preconizado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação quanto a maximizar o acesso responsável da Sociedade às áreas naturais.
Levantados os primeiros registros parciais empregados como referência no planejamento, a Amanda montou uma proposta de logística, com uma equipe começando por Diamantina (PE Biribiri) e uma segunda equipe começando por São Gonçalo do Rio Preto (PE Rio Preto). Pelo ineditismo da travessia, os gestores sugeriram que todos fizessem no mesmo sentido, em um único (e grande) grupo. Dessa forma, aproveitar-se-ia o intento para avaliar a viabilidade de tornar esse trajeto uma rota consolidada, ligando esses dois parques, à exemplo da fantástica ligação entre o PE do Itambé e o PE do Rio Preto, franqueada à prática de montanhismo autônomo e responsável, mediante prévio agendamento.
A logística pensada, ainda em janeiro/25 contemplava o início em Diamantina, no PE Biribiri, com o primeiro pernoite no povoado de Medanha, após percorrer cerca de 20 quilômetros. O segundo pernoite, após 25 quilômetros percorridos, foi previsto para o próprio PERP, com a entrada pela Portaria das Abóboras. Para o terceiro dia, reservado para as extensas e encantadoras trilhas do PERP, foi definido o pernoite em trânsito, já na volta à SP. Dessa forma, mesmo considerando a enorme distância, teríamos tempo hábil para descansar algumas horas antes de retornar à labuta, na segunda-feira.
Às 6h, ao passarmos pelo acesso a Brumadinho, o dia nascera há pouco. Ainda sonolento, refletia sobre a desmesura da ganância humana que resultara em um dos maiores desastres ambientais da história moderna do Brasil. Sem eufemismos, um crime, mesmo. Crime cuja punição não retornará os entes queridos que se foram sob incontáveis toneladas de lama. Na natureza, restaram as cicatrizes que a desastrada e ominosa gestão ambiental do estado das mais belas e alterosas montanhas mais oculta que honra, com o recorrente licenciar de novas cavas e barragens sobre as áreas ainda preservadas.
Dia 1 PE Biribiri (Diamantina) a PE Biribiri (Medanha)
O dia já estava pela metade quando chegamos a portaria principal do Parque Estadual do Biribiri, onde aproveitei a gentileza dos guardas-parque para utilizar o espelho e colocar minha lente de contato no pequeno e organizado banheiro. Fizemos o devido registro do grupo, informando nossa pretensão de cruzar o parque no primeiro dia, pernoitando em Medanha, já fora dos limites do Biribiri. A pernada que pretendíamos era longa e o horário avançado de início desassossegava a uns e outros. Com a experiência de travessias extensas nos ensinara, a melhor forma de lidar com essa ansiedade é colocar o pé na trilha e caminhar focado no vivenciar do presente, em apreciar cada descortinar de horizonte e claro, no refrescar-se nas muitas cachoeiras.
Nosso tracklog de referência desviava da primeira queda do parque, pelo registro de contaminação das águas do Córrego do Tijuco e do Rio das Pedras, cujas águas recebem parcialmente os efluentes da cidade de Diamantina, prejudicando sua balneabilidade. A informação provinha do Plano de Manejo recém-revisado (2023). Adicionalmente, renunciei à Água Limpa para reduzir a extensão da pernada em estrada, dando preferência a trilhar, tanto quanto possível pelas veredas que o caminhar de muitas décadas abrira no agreste. Esse ajuste de trajeto acrescentava alguns quilômetros à proposta inicial, já extensa, de forma que poucos optaram por enfrentá-lo. Em pouco tempo, cruzamos as águas do Córrego da Água Limpa, algumas centenas de metros à montante da queda em que nossos companheiros de expedição se banhariam.
Na bifurcação de acesso à Cachoeira dos Cristais, optamos por manter a esquerda, em direção ao Poço do Estudante, Cachoeira da Sentinela, Vila de Biribiri que, caso tomássemos a vereda da direita, deixaríamos de conhecer.
Na bifurcação seguinte, novamente tomamos o caminho da esquerda, descendo para uma rápida passagem no Poço do Estudante, onde às 12h58 aproveitamos para nos banharmos a primeira vez nessa travessia. Seguindo o habitual proceder de trilhas sob sol intenso, o fizemos totalmente vestidos, de forma que as roupas, ao secarem, aliviassem parcialmente o forte calor, reduzindo o consumo de água para refrigerar o corpo. Tratamos de repor a água consumida, para assegurarmos que a qualquer momento contássemos com pelo menos ½ litro de água por cabeça como reserva frente ao forte calor que o começo de tarde com poucas nuvens nos brindava.
Retomamos altitude, sobre os nossos passos de ida, dobramos à esquerda na bifurcação, descendo suavemente na direção Nordeste, deixando de perceber o acesso à direita que nos levaria à Cachoeira do Tombador e chegando, às 14h16 na base da Cachoeira da Sentinela, onde fizemos nova pausa para banho e contemplação. Aproveitamos a pausa para um lanche, com direito a limonada instantânea, repondo açucares e sais que a ingesta apenas de água não cobria. Mesmo com o forte calor, nossas roupas molhadas evitavam o maximizar da sudorese que poderia, num cenário extremo, nos expor a uma hiponatremia. Risco praticamente nulo naquele momento e situação, mas prefiro manter a disciplina e formar hábitos de maior segurança.
Pelo que soube, a toponímia da queda alude ao severo controle imposto sobre as terras do Arraial do Tijuco, futura Diamantina, para minimizar os descaminhos das riquezas, controlando o fluxo praticamente na origem. Si non è vero, è ben trovato.
Na estrada, ao partimos da Cachoeira da Sentinela, pouco mais de uma vintena de metros à frente, notamos um rastro batido à direita, que rapidamente nos franqueou acesso aos primeiros registros pictóricos dos humanos que viveram e socializaram naquela região, há alguns milhares de anos. Nas pinturas rupestres, com algum esforço e um parco conhecimento da fauna do nosso país, penso identificar capivaras e tatus, inclusive atividades de caça. À esquerda das pinturas, o escurecido da rocha evidencia a dicotomia do conflito entre a presença dos mocós e a preservação dos registros pictóricos. Esse pequeno roedor também é objeto de caça ilegal e ver rastros de sua presença, numa região de tão fácil acesso traz esperança que a caça esteja deixando de fazer parte dos costumes da sociedade local.
Retomamos o caminhar pela estrada de terra que, até o interditar da ponte sobre o Córrego dos Cristais, ligou Diamantina a Medanha para veículos de tração animal ou auto propelidos. Seguimos em frente e, às 15h27 passamos ao lado da estrutura de uma antiga ponte sobre o Ribeirão das Pedras. Na sequência, a Vila de Biribiri se desvenda aos nossos olhos com sua arquitetura bem preservada.
O nome da vila tem origem na grande depressão que o terreno apresenta, sendo uma corruptela para biri-biri ou “buraco fundo ou buracão” em tupi. A expressiva depressão, associada a uma oferta constante de água, permitiu a instalação de uma fábrica de tecidos em 1877, pela família Mascarenhas. Empreendimento inovador, empregava mulheres e crianças órfãs. Em 1973, com os elevados custos de operação, decidiu-se por fechá-la. A Igreja do Sagrado Coração de Jesus data de 1876, tendo sido tombada em 1947 e conservando ainda, à exemplo dos demais prédios, boas condições de preservação, com a pintura em azul e branco tão difundida em nossos prédios rurais.
A exemplar conservação do conjunto arquitetônico da vila, a tornou cenário de pelo menos dois filmes: “Xica da Silva”, de Cacá Diegues e “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Vinícius Coimbra – este último baseado na obra homônima do mineiro Guimarães Rosa. Na televisão, a Vila do Biribiri teve pelo menos duas aparições: na telenovela Irmãos Coragem, da TV Globo, e na Série Rosa dos Rumos, da TV Manchete. Pedacinho da História, preservado.
Na simpática vila, fizemos uma pausa para tomar café, refrigerante e sorvetes, enquanto outros aproveitavam o sombreado das arvores para almoçar. Sabedores que o final de nossa jornada estava muito distante ainda, logo retomamos o caminhar. Durante o planejar soubemos que, em 1994, um movimento organizado por moradores de Diamantina resultara no tombamento do conjunto arquitetônico e paisagístico da Vila do Biribiri pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.
Já próximo da estrada, percebi que esquecera chapéu, luvas e bastões no banco do restaurante e tratei de fazer uma claudicante corrida para buscá-los e alcançar a Amanda e o João que demoraram um tanto a perceber que eu ficara para trás. Nesse momento, meus pés já reclamavam intensamente do aperto na região dos dedos, e eu optara por soltar, tanto quanto possível, a amarração que fizera ao começar a caminhada. A dor na ponta dos dedos reduziu-se por algum tempo, mas logo retornaria e, com ela, passaria a perceber que o maior atrito produziria bolhas.
Passamos por uma extensa área aberta, de campo, em processo de recuperação ambiental. As placas esclarecem que o pastoreio ali é proibido e são uma lembrança de uma das ameaças antrópicas a que o PE do Biribiri resiste. Às 16h50 alcançamos a Cachoeira dos Cristais, fizemos nova parada para banho e cruzamos o Córrego Soberbo, à vau, pela esquerda da ponte interditada. Seguimos a trilha até a base da queda, percebendo que havíamos deixado passar algum acesso à esquerda. Retomamos sobre nosso passo e logo identificamos o acesso, pelo qual ganhamos a cabeceira da Cachoeira e logo em seguida, a trilha bem batida que prosseguia em direção à Medanha. A estrada que até ali seguia ampla, deu lugar a uma trilha por onde se notava rastros da passagem de motos e cavalos. Nosso pequeno grupo, nesse momento se apresentava como um quarteto: eu, Amanda, João e Renan.
Uma sucessão de pequenas pontes, por vezes objeto de obstruções, como cercas e cancelas, foram vencidas quando necessário, por desvios à esquerda. Após algum tempo, uma estrada mais batida nos encontra, surgindo pela esquerda e objeto de um portão metálico para regular o acesso. Prosseguimos pela estrada por mais algum tempo, até encontrarmos a Eliane e a Alacy que retornavam ao perceber que haviam perdido o ponto em que nosso caminho deixava a estrada para perder altitude em direção ao cruzo do Córrego Palmital.
Após cruzarmos o córrego, subimos declinando para a direção leste, até alcançarmos o Caminho dos Escravos e uma antiga linha de telégrafo que fora substituída pela rede de alta tensão. Ao alcançarmos o Caminho, dobramos para norte, em direção a Medanha, perdendo altitude primeiramente de forma suave até que, já com a noite nos envolvendo, o caminho apresentou incremento substancial da inclinação. Em certo momento, a Alacy me alcançou e informou que, apesar de aguardar por algum tempo, a dupla Eliana e Renan não havia logrado alcançá-la. Orientei que continuasse no passo apertado que o nosso grupo puxava, que eu aguardaria ou retornaria para buscar a dupla. Retornei algumas centenas de metros até que o lampejar de luzes sinalizou a aproximação de algum trekker. Aguardei até que as lanternas me alcançassem e foi um alívio confirmar que eram os dois e que estavam em boas condições. Apertei o passo, buscando reduzir a distância entre nosso trio e o quarteto que estava à frente, em pouco tempo, a maior dificuldade de avançar fez com que alcançássemos o quarteto, que nesse momento passara a ser um quinteto, pois a Ariane seguia em solitário após o grupo em que estava trilhando se adiantar um tanto e por fim, se perderem à distância.
Nosso grupo, agora um sexteto composto por Ariane, Amanda, Alaçy, Elaine, Renan, João e este que vos escreve, continuou a perder altitude, no lento e zeloso passo que o trajeto exigia, pois entre as lajes rochosas, a erosão tratara de remover o solo, muito friável e de intensa desagregação por efeito das chuvas.
Às 19 horas, um cruzeiro sobre uma grande rocha à esquerda, nos homenageia, dando graças aos tropeiros que por ali passaram nos tempos idos, assim como ao nosso pequeno e dedicado grupo de trilheiros. Fiz um registro do calçamento desse trecho, onde as lajes ainda se encaixam com gramíneas crescendo pelas frestas.
De tempos em tempos, a presença de placas nos trazia o alento de que nos aproximávamos de Medanha. Às 20h46 entramos na parte urbana do distrito de Medanha e mesmo cansados e com algumas bolhas, mantivemos o passo firme, numa média de 3,7 km/h pelos aproximados 4 km que restavam até o empório Drika Adriana (38) 9930 8246, onde nosso jantar estava reservado.
Às 21h24, chegando ao sítio, logo após cruzar a estrada e contornar a casa, deixamos as mochilas e nos servimos alegremente dos pratos preparados. Além do farto buffet, com os refrigerantes e cervejas que cada um reservara, eu ainda contava com primorosa galinha caipira ao molho pardo que tratei de devorar, alternando goles de refrigerante. Sem esquecer dos vegetarianos, no buffet havia omeletes com queijo e legumes.
Às 22h30 seguimos para nosso ponto de pernoite, no amplo CHALÉ DA SOL, parte do Receptivo Medanha estruturado pela simpática D. Solange (38) 99834-4299, onde nos distribuímos pela casa e pelos chalés disponibilizados. Alguns guerreiros ainda encontraram pernas para ir ao forró da vila, aproveitar da famosa hospitalidade mineira, trocando um dedo de prosa, provando quitutes e comemorando a vida, sempre intensamente vivida. As administração da Equipe Arcanjo, sempre atenta, ajustou a saída para café às 7h30 de forma que mesmo os que ainda não haviam chegado tivessem tempo de descansar antes de entrentar as pernadas do dia seguinte, fosse na ligação Biribiri x Rio Preto, fosse no próprio parque do Rio Preto.
Dia 2 PE Biribiri a PE Rio Preto, cruzando a APAM Rio Manso
Como de hábito em trilhas, acordei ainda de madrugadinha e tratei de arranjar as coisas na mochila para a caminhada. Pouco após as 7h30 estávamos no empório Drika Adriana, nos esbaldando no generoso café da manhã, também em sistema de buffet, com queijo minas, biscoito de polvilho, ovos mexidos, café com leite, sucos de laranja e de acerola, melancia, banana, acerola, manga, mangaba, bolos e tortas. Em verdade, parecia que aguardavam um batalhão para o café da manhã.
O Parque Estadual do Rio Preto tem muitos atrativos e percorrê-los em apenas um dia é bastante exigente. Sabendo que vários pares de pernas e pés já estariam sensibilizados pela jornada do primeiro dia, a precavida administração do grupo Arcanjos, havia viabilizado transporte entre Medanha e o PERP. Dessa forma, a ligação seria percorrida apenas por aqueles que se soubessem realmente preparados, física e emocionalmente para a empreitada. A extensão da jornada do segundo dia, somada ao caminhado no primeiro dia tornava o desafio expressivo, mesmo para os intimoratos Arcanjos. Iniciado o caminhar desse segundo dia, não vislumbrávamos facilidade para abandonar a jornada antes de alcançar o alojamento do Rio Preto. Alguns racionalizaram a decisão de seguir direto para o Rio Preto, com o transporte rodoviário, justificando para si mesmos que “seria apenas um andar por estradas”.
Eu e a Amanda sequer cogitamos seriamente essa alternativa, pois o diferencial dessa travessia era exatamente testar e avaliar a ligação, por trekking autônomo, entre os dois parques. A nós, se juntou João Gabriel companheiro na íntegra do primeiro dia e, quando já acreditávamos que nosso trio coligia os únicos insensatos e intimoratos a enfrentar o desconhecido desse trecho, um segundo trio, composto pelos experientes e desenvoltos montanhistas Ronald, Danilo e Tati Arita decidiu também fazer a ligação com os próprios pés.
Partimos do Empório Drika Adriana, às 8h35 caminhando com cuidado à beira da estrada e apreciando o curso do Jequitinhonha e suas praias. Discutíamos se à margem da estrada as abundantes flores roxas e amarelas nos arbustos eram de lobeiras, o que acabou por se confirmar. O segundo trio aproveitou uma curtíssima carona do ônibus antes de se juntar à nós. Em um passo mais cerrado, eles logo se adiantaram, baseando-se no track de referência, em grande parte baseado no registro de wikiloc do CHICO TREKKING, com alguns pequenos ajustes baseados nas imagens de satélite e cartas topográficas. Sem a pretensão de liderar a pernada, mantivemos nosso passo tranquilo, fazendo recorrentes paradas para nos deliciarmos com as frutas que encontrávamos à beira do caminho.
Percebia-se que nosso caminho ligava antigos ramos de estradas de manejo, que caíram em desuso com a abertura e pavimentação da BR 367. Ligando os ramos de estradas de rodagem, mais amplas, trechos de trilha faziam as vezes de atalhos por onde observamos escassos rastros de passagem, ora dos pés dos nossos colegas de expedição, ora de motos ou cavalos.
Foram inúmeros os pés de gabiroba, jambo amarelo, pitangas e acerolas, até nos aproximarmos do trecho marcado com “trilha suja” onde o track de referência seguia o que parece ter sido uma estrada de serviço aberta para a instalação de uma rede elétrica ou de telégrafo. Nesse trecho, nossos colegas, que seguiam à nossa direita, mais próximos da estrada se juntaram a nós e, por algumas dezenas de metros, buscamos abrir passagem pelos arbustos ressequidos do cerrado. O progresso, extremamente lento, dependia que alguém, à frente, avançasse quebrando os galhos secos e abrindo passagem para os demais. Conforme os demais do grupo progredissem, a vanguarda faria o mesmo, de forma que aos últimos do grupo restaria avançar lentamente, porém através de uma trilha “aberta”. Segui fazendo as vezes de “ponta”, avaliando a passagem e preparando a passagem para os demais. Ao atingirmos um ponto mais elevado, divisei um poste à uma trintena de metros e busquei atingi-lo, pois esperava que sob os fios, o remanescente da estrada de serviço aberta durante a instalação nos permitisse avançar de forma menos árdua.

Antes de alcançar a base do poste, interceptamos uma fenda, com uma parede de cerca de 6 metros de profundidade que exigiu que desviássemos para direita, em direção à BR 367. O rastro seco de uma corrida d’água permitia avanço mais desimpedido e na direção que precisávamos. Subi pela esquerda do rastro e avancei mais alguns metros para então perceber que o segundo trio optara por abandonar o vara-mato e seguir pela estrada. Com isso, a conveniência de continuarmos a abrir passagem pela quiçaça se tornou extremamente desfavorável, pois estávamos apenas em 3, num trecho de maior exposição à ferimentos, de progressão morosa e ainda nos quilômetros iniciais de uma jornada bastante extensa. Reconheci que seria imprudente forçar a mão contra a sorte e tratei de nos levar, de forma tão eficiente quanto possível à BR 367, através da corrida d’água que havíamos trilhado parcialmente pouco antes. De volta à corrida d’água, prosseguimos subindo até encontrar a passagem por sob a estrada. Ali, dobramos à esquerda e seguimos em passo acelerado, morrote acima, buscando sair da região mais exposta aos veículos que trafegam à considerável velocidade.
Percorridos pouco mais de 300 metros pela estrada, a redução de altura do matagal, sob a linha de energia que seguia na direção que precisávamos me fez propor deixarmos a estrada e voltarmos a nos embrenhar, na conveniência pela trilha que corria paralela à estrada. Sem vacilar, meus companheiros de pernada anuíram e nos lançamos pelos campos e sob cerca para prosseguir pela trilha, paralelo à estrada. Percorrido 1,2 km deixamos a estradinha de manejo, novamente por sob a cerca e cruzamos, cuidadosos, a BR 367. Nosso trajeto prosseguia do outro lado, primeiro por uma estrada vicinal até alcançarmos o Córrego dos Vaqueiros, onde fizemos nova parada, curta, para banho e preparamos um refresco.
Mais à frente, uma vez que a estrada declinava para sudoeste enquanto nosso caminho se mantinha na direção leste, abandonamos a estrada, passamos por sob a cerca e voltamos a trilhar por remanescentes de veredas antigas, esporadicamente encontrando tênues rastros de passagem. Às 11h50, após percorrermos pouco mais de 1,5 km através de veredas, retornamos à estrada, dobramos à esquerda, no sentido oeste e passamos a perder altitude, de forma constante, em direção ao vale do Rio Manso. Assim que passamos uma corrida sazonal de água, à esquerda, notei um pequeno arbusto e identifiquei o primeiro pé de Jaboticaba-anã-do-Cerrado (Plínia nana) que passamos a encontrar de tempos em tempos, sempre com poucos frutos, raramente excedendo uma dúzia em cada pé.
Ao contrário da “jaboticaba-anã-do-cerrado” que havíamos encontrado, o puçá é de família distinta da jaboticaba (Plinia Caulifólia), apesar de ser conhecido como jaboticaba-do-cerrado, tem a polpa amarela. Já os pequenos pés de jaboticaba-anã, fazendo jus à alcunha, não ultrapassam 1 m de altura e seus simpáticos frutinhos lembram muito a jaboticaba, tanto na apresentação do fruto quanto no sabor, contendo cerca de 3 a 4 sementes cada. Passei a acompanhar a vegetação à beira da estrada, fazendo curtas paradas para coleta e depois apertando o passo até alcançar a dupla Amanda – João que seguia na dianteira em passo mais constante. Nesse revezar entre coletas e corridas, alcançamos a Cachoeira da Fábrica às 12h56, onde o trio Ronald/Danilo/Tati fazia uma pausa para banho e lanche.
Alguns minutos após a nossa chegada, eles retomaram a caminhada, enquanto fazíamos uma longa e dedicada parada para banho e lanche. Aproveitamos as muitas quedas do Rio Calmo nesse trecho, descendo pelas margens do rio por pouco mais de 400 m, registrando a beleza que as águas escavaram no leito rochoso, com o passar de milhares de anos. Nos obrigamos a interromper a exploração, pois a sequência de quedas e poços parecia não ter fim e, caso não o fizéssemos, poderíamos acabar por nos afastar demais do propósito da jornada do dia, avaliar a ligação entre o Biribiri e o Rio Preto.
Às 14h02, refrescados e revigorados pela aprazível pausa na jornada, retomamos as cargueiras e tratamos de voltar ao caminho, agora em direção à Lapa dos Cabritos, onde dispúnhamos da informação que também havia pinturas rupestres. Avançando sem pressa, em pouco tempo, às 14h18 alcançamos o Rio Manso num trecho em que restara apenas a cabeceira de uma ponte de madeira. Com cuidado, atravessei sem a cargueira, testando a profundidade do trecho. O fundo de areia era firme e na parte mais profunda a água chegava aos ombros. Retornei, recuperei minha cargueira e cruzei novamente as águas, lançando minha cargueira na trilha do outro lado do curso d’água. Cruzei uma terceira vez, agora auxiliando a Amanda com a sua mochila. Subi à margem e me preparei para apoiar o João, que cruzava com a mochila sobre a cabeça.
Todos do outro lado certo do rio, esperei o João sair d’agua para fazer a graça “xi, cruzamos para o lado errado, vamos ter que voltar”. Ante o arregalar de olhos do colega, tratei de garantir que estávamos certos, era só andar um tantinho mais. Em verdade, para findar nossa jornada desse dia, ainda havia 19,7 km a serem palmilhados. Alguns casebres, todos fechados e sem nada indicar o uso frequente se espalham por ali. De qualquer modo, não nos detivemos muito na região, era nosso suposto “crux” quanto à segurança, e havíamos colocado como “estratégico” passar por ali com dia claro.
Durante os estudos de planejamento e preparo, baseados na leitura dos Planos de Manejo (PE Biribiri e PE Rio Preto), relatando a possibilidade de ilegalidades como caça, garimpos clandestinos e coleta de espécimes e disputas fundiárias não totalmente pacificadas, consideramos que a região da Área de Preservação Ambiental Municipal de Uso Sustentável Rio Manso (APAM Rio Manso), na ausência de informações mais acuradas, incorria em todos as ameaças dos parques próximos. Consideração conservadora, talvez. De qualquer modo, nos planejamentos buscamos sempre maximizar a segurança, deixando a margem possível para o acaso, sempre presente em atividades outdoor, e principalmente de caráter exploratório, como essa travessia.
Cruzado o rio Manso para sua margem direita, seguimos nos afastando um pouco do curso d’agua, mirando a Laje dos Cabritos, onde tínhamos a informação da existência de pinturas rupestres. Ali, às 14h36 fizemos uma parada para contemplar as pinturas e registrar em fotografias. Infelizmente, são muitas as pixações nas rochas. Retomando o caminhar, pouco depois (15h18), nova parada para banho em um grande poço, onde nos despedimos do Rio Calmo. Nosso rumo, nesse momento passa a ser preponderantemente nordeste e as águas do Rio Calmo provém da direção Sul.
Às 15h38, onde a trilha que seguíamos encontra uma estrada em aclive, observamos uma placa de sinalização do Caminho do Rio Manso à esquerda, parcialmente coberta pela vegetação. Subimos pela estradinha por 1,3 km, na direção norte, para deixá-la pela direita e continuar a ganhar altitude, até que, ao começar a descer, notamos que havíamos deixado passar uma bifurcação à esquerda. Notado o erro de navegação, nos detivemos alguns segundos para avaliar se retornaríamos para a bifurcação ou se iríamos prosseguir pela estrada. Decidimos retornar e tocamos pela trilha, talvez um aceiro, ganhando mais algumas vintenas de metros de altitude, antes de começar a descer. Pouco após o ponto mais elevado, a carcaça de uma rês nos trouxe, novamente à reflexão, quanto a efemeridade da nossa presenta nesse planeta.
A trilha passou a perder altura de forma suave, buscando a estrada que corria à direita, atingida às 16h29. Continuando o caminhar em passo constante, alcançamos o primeiro portão às 16h41 e, agora dentro das terras da Fazenda Abóbora de Geraldo F. de Freitas (pela carta topográfica) até o açude (17h01), com um considerável pomar de jaboticabeiras à jusante. Cruzado a barragem do açude, retomamos altitude até às 17h38, alcançando o limite da APAM Rio Manso, e passando a trilhar nas terras do PE Rio Preto, acessado pela portaria Abóboras.
Ainda caminharíamos uma hora, dentro do PE Rio Preto até alcançar a Sede da Gerência às 18h47, sob a luz das lanternas. De forma inesperada, pois haviam partido da Cachoeira da Fábrica pouco mais de uma hora à nossa frente, alcançamos o trio Ronald/Danilo e Tati que seguia em uma velocidade um pouco menor. Por algumas centenas de metros, o Danilo seguiu conosco, trocando impressões sobre a trilha que havíamos palmilhado e o que havíamos desviado um pouco para conhecer, como as pinturas rupestres da Lapa dos Cabritos e o último poço de banho, com sua paradisíaca prainha, do Rio Manso.
Com a menor celeridade deles nesse finzinho de jornada e, dado que estávamos todos em trechos mais antropizados, com estrada e sinalização frequente, optamos por manter nosso passo e pouco mais de vinte minutos à frente, às 19h10 passamos pela bifurcação de acesso à Portaria Principal, que ficou à nossa esquerda e prosseguimos pela direita até passar o Centro de Visitantes, depois a Casa do Pesquisador e finalmente ao Restaurante do Parque, na vizinhança de nosso chalé para hospedagem.

Cheguei às 19h17 no restaurante do PE Rio Preto, sob uma inesperada aclamação dos amigos que estavam jantando. Como administradora do grupo Arcanjos, a Amanda seguira até a base dos guardas-parque para reportar a nossa chegada, assim como que o trio Danilo/Ronald/Tati Are mita estavam próximos, já na área interna do parque. Pequei uma mesa vazia, com 4 lugares, para jantar. O João optou por sentar-se em outra mesa. Na mesa vizinha, o trio Tati, Ronald e Danilo se instalou para jantar. Brindamos com coca zero, gelada e a responsável pelo restaurante me explicou como funcionava o sistema de buffet, ali: à exceção da mistura, que seria um pedaço de frango assado, uma porção de carne de panela ou, para os vegetarianos, uma omelete, o comensal poderia servir-se livremente. Depois, me reportariam que esse “livremente” não se efetivara tão livre assim, pois o retorno ao buffet era objeto de controle e, ainda pior, o próprio tempo de jantar, restrito. Também foi questionado o fato de que nem todos os colegas de trilha teriam jantado, apesar de que, em momento algum, foi acordado dessa obrigatoriedade. O valor cobrado, de R$ 40 por cabeça para um serviço de buffet frente à qualidade do serviço prestado, destoava imensamente da véspera. O café da manhã do dia seguinte seria muito pior: um misto quente, uma banana e uma fatia de bolo por pessoa, ao desproporcional custo de R$ 30/cabeça. Mesmo considerando a distância entre o restaurante e a cidade, não se justifica os valores. Nesse aspecto, notei uma piora considerável frente ao tratamento que recebemos em 2023, quando efetuamos a travessia entre o Parque Estadual do Itambé e o Parque Estadual do Rio Preto.
Dia 3 Parque Estadual do Rio Preto
O terceiro dia de nossa travessia foi reservado para retornarmos em alguns atrativos de maior beleza que havíamos conhecido em 2023 e conhecermos outros pontos que na visita anterior não fora possível conhecer, frente ao horário que partiríamos para o retorno a São Paulo. Como o João, que já trilhara conosco no primeiro e no segundo dia, questionou se poderia caminhar conosco, decidimos seguir pelos principais atrativos, de forma que a experiência dele no Rio Preto fosse a melhor e mais completa possível.
A má impressão do jantar se cristalizou ao limite com o café da manhã. Mesmo sem ser meu hábito fazer uma refeição mais lauta, o grau de mesquinhez do servido impressionava. As administradoras do grupo, constrangidas com a divergência entre o que havia sido proposto e o que estava sendo entregue, foram obrigadas a modificar a logística de retorno, buscando algum restaurante após sairmos do parque. Sei – e entendo – que o restaurante dentro do parque é uma concessão à iniciativa privada e que não deve haver ingerência da equipe do PR Rio Preto sobre os procedimentos do concessionário, mas, como a experiência do visitante é o somatório natural dos vários serviços e interações que vivencia, fica o alerta, pois foi o ÚNICO SENÃO em uma experiência, fora isso, perfeita. Recomendo aos próximos visitantes que verifiquem esse ponto e, caso entendam mais prudente, levem seu próprio alimentos e utensílios de cozinha.
Café da manhã tomado, às 7h50, partimos em direção à Cachoeira do Criolo, alcançada às 9h35. Fizemos uma boa parada para banho, antes de retomar sobre nossos passos até alcançar às 10h47 o acesso da Cachoeira da Sempre Viva. Deixamos a trilha principal e fizemos a descida até o leito do rio, para depois prosseguir por dentro do leito, seguindo as setas amarelas até a cachoeira, alcançada às 11h10.
Fizemos nova parada para banho e registros, antes de retomar a caminhada. De forma a maximizar a experiencia do João e cobrirmos todos os poços e quedas a jusante, optamos por prosseguir por dentro do Rio Preto. Seguimos aproveitando vários poços para breves mergulhos, alternando o papel de “frente” de forma a trazer a experiência de buscar as passagens e liderar a cada um dos três. Sem forçar o passo nem estressarmos com o caminho, às 12h30, enquanto a Amanda e o João aproveitavam a comodidade do sanitário próximo ao poço Areias, colhi alguns jambos amarelos, para petiscar na subida de retorno ao alojamento.
Ao passarmos pelo restaurante, a Amanda reportou o desconforto do grupo, objeto de reiteradas críticas, recebendo como resposta que decidira-se mudar a forma de cobrança, deixando de ser “por pessoa” para ser “por peso”. Restado infrutífero a tentativa de alertar à responsável quanto à insatisfação do serviço prestado, tocamos para o outro lado do parque, buscando o Váu das Éguas, alcançado às 14h47, voltamos aproveitando os poços do Rio Preto, com maior mora no poço dos Veados. Sem forçar o passo, chegamos novamente no alojamento às 16h26. Aproveitamos o tempo excedente para um banho quente e preparar as mochilas para o retorno. Eu resolvi fazer a volta com apenas uma mochila e uma sacola para itens de acesso imediato para a longa viagem de retorno.
Mapas, tracklog de referência e trilhados
Nas proximidades da BR367, acreditamos que a oportuna abertura de uma pequena vereda, com extensão aproximada de 200 metros evitaria o caminhar pela rodovia, tornando a travessia mais segura. Observamos a possibilidade de um trajeto alternativo a esse trecho, destacado na imagem em AZUL. Também ensejaria a abertura de uma pequena vereda, de forma análoga ao trajeto percorrido.

CALTOPO, base OpemStreetMap, com isoípsas de 5 m. Tracejado roxo, tracklog de referência. Verde e vermelho, registros de GPS independentes. Traçado alternativo avaliado em amarelo e azul (trecho de vara-mato ou abertura de trilha).

CALTOPO, base imagem de satélite, com isoípsas de 5 m. Tracejado roxo, tracklog de referência. Verde e vermelho, registros de GPS independentes. Traçado alternativo avaliado em amarelo e azul (trecho de vara-mato ou abertura de trilha).
Durante o planejamento foi estudado um caminho alternativo, que também apresenta um trecho de vara-mato ou abertura de trilha de extensão similar (cerca de 100 metros. Os trechos destacados ema amarelo, apresentam, nas imagens de satélite, rastros de passagem remanescentes de atalhos ou estradas de manejo ainda visíveis. Sempre que possível, buscamos equilibrar o traçado por áreas de com menor impacto antrópico, prestigiando trilhas, rastros de manejo de animais e aceiros em relação a estradas. Evitou-se, tanto quanto possível, a abertura de novas passagens e, nesse sentido, entendemos que o traçado original se apresenta mais oportuno, pois seguiria sob uma linha de transmissão de energia, com sua “suja” estrada de implantação/manutenção.
Arquivos de navegação – GPS
Tracklog de referência: https://loc.wiki/t/239082705?wa=sc
Tracklog trilhados:
Amanda Rossi Mascaro https://loc.wiki/t/241256063?wa=sc
Rogério Alexandre Francisco da Silva https://loc.wiki/t/243504946?wa=sc
CONCLUSÃO
Entendemos que a travessia entre o PE do Biribiri e PE do Rio Preto, cruzando a APAM Rio Manso é totalmente viável e positiva, apresenta expressivo potencial ao montanhismo, como esporte. Efetuamos a ligação em 1 dia, percorrendo 39,5 km com ganho de altimetria de 1400 metros. O trajeto foi inteiramente percorrido à pé, em trio, em 12h11 de caminhada autônoma. Com o auxílio de um tracklog não nos parece que um excursionista mais desenvolto encontre qualquer dificuldade na navegação. De qualquer modo, a sinalização da TRANSESPINHAÇO, observada algumas vezes, poderia ser intensificada.
A beleza cênica da ligação, associada ao caráter preservacionista do montanhismo nos faz crer que a ligação entre os parques contribuiria fortemente no desenvolvimento sustentável da região. Destacamos a criticidade de que eventuais acampamentos/pernoites, caso se entenda necessário, sejam efetuados em regiões com maior impacto antrópico e infraestrutura, haja vista o potencial de dano a que se expõe a flora e fauna caso a cocção de alimentos não seja efetuada de forma segura.
Rogério Alexandre Francisco da Silva – Engenheiro e Montanhista Amador.
Amanda Rossi Mascaro – Engenheira e Montanhista Amadora
João Gabriel – Insensato e Montanhista Amador


































