Lionel Terray nasceu em Grenoble, em 25 de Julho de 1921, e integrava uma família de intelectuais burgueses que não imaginaria a vida que Lionel levaria no futuro. Durante sua juventude, muitas vezes desafiou sua família para ir caminhar na montanha ou escalar alguns penhascos… (como se encontra no prefácio da Guérin Publishing para o livro “Os conquistadores do inútil”).
Desde muito jovem, ele se revelava como uma promessa do esqui alpino e, de fato fez parte da seleção francesa em diversas competições internacionais, em 1960 foi o primeiro a descer esquiando a vertente norte do Mont Blanc.
Entretanto, não foi sobre as pistas de esqui que se tornou referência para as gerações posteriores, mas sim como alpinista, escalador e guia de montanha. Junto com Gastón Rebuffat, representa o exemplo de guia que sente a montanha e sabe trasmitir isso aos outros. Sua visão da natureza e da escalada ficou eternizada em sua obra “Os conquistadores do inútil”, um livro que apesar dos anos transcorridos, devolve ao leitor a essência do alpinismo e demonstrado através de sua sensibilidade e sua honestidade.
Em 1940, ele se instalou no vale de Chamonix. Em 1941, ele retornou ao Jeunesse et Montagne (Juventude e Montanha), de treinamento militar em que ele conhece Gaston Rebuffat.
“A conversa levou-nos a falar sobre nossos projetos, suas idéias me pareciam completamente extravagantes… A concepção do montanhismo, agora comum, era muito à frente do seu tempo, que é inteiramente novo para mim.”
Ele casou em 1942 com Marianne (uma professora de Saint-Gervais-les-Bains), e completava no inverno o rendimento da exploração agrícola com os ganhos das estações de esqui.
Em 1945, o alpinismo se tornou sua vida inteira. Ele já era um instrutor da Escola de Alta Montanha e esqui.
Em 1946, Lionel Terray torna-se um instrutor de esqui na ENSA. Então ele deixou a França e rumou para Quebec no Canadá, depois foi treinador da equipe nacional de esqui.
Retornou à França em 1949 e, finalmente permanece como guia independente.
Terray foi um pioneiro e um escalador fora de série. Muito além de vias clássicas, ultrapassou as fronteiras de seu país e se lançou a escaladas que ainda hoje em dia são consideradas muito comprometedoras, mas realizadas sem o apoio tecnológico nem os materiais que hoje desfrutamos. O que hoje se considera “o futuro das expedições”, a escalada em montanhas tecnicamente muito difíceis, baseada muito mais no nível da via escolhida do que no fato de alcançar o cume, é exatamente o que fez Terray há cinquenta anos atrás. Lionel se preocupou menos de ser o primeiro a fazer um cume, mas a encontrar a chave para escalar montanhas que, como a Oeste do Chacraraju, que o resto do mundo alpinístico considerava “impossíveis de escalar”.
Embora tenha escalado muito com o citado Rebuffat, seu principal companheiro de cordada foi Louis Lachenal. Perfeitamente compenetrados em seus diferentes estilos, juntos começaram fazendo grandes vias nos Alpes, como a quarta repetição da Walker (1946), a primeira repetição da Norte do Eiger (1947) e a Cassin no Piz Badile (1948). Assombravam seus contemporâneos pela rapidez e eficácia com que escalavam.
Após várias conquistas alpinas, conjugadas com seu trabalho como guia de Chamonix (sua fama cresceu tanto que se tornou o guia mais cotado da região), em 1950 se viu imerso numa aventura que se tornou um épico: a expedição francesa de Maurice Herzog ao Annapurna, o primeiro oito mil conquistado. Juntamente com Maurice Herzog, Louis Lachenal, Rebuffat Gaston, Marcel Ichac (cineasta), Jean Couzy, Marcel Schatz, Jacques Oudot (médico), Francisco de Noyelle (diplomata) e Adjiba (Sherpa), numa também épica ascensão em que o papel cumprido por Terray (e por Rebuffat), que renunciaram ao cume para ajudar Lachenal e Herzog se tornou num dos resgates mais emocionantes da história do montanhismo.
Desse momento em diante, seu campo de ação se extendeu às grandes cordilheiras do mundo. Em 1952, nos Andes (onde algumas de suas ascensões foram realizadas com clientes), escalou pela primeira vez o Huantsan, o Nevado Pongos e nada menos que o Fitz Roy (fazendo cordada com Guido Magnone), em uma escalada esgotadora física e psicologicamente. A esta altura já era muito conhecido pelo grande público, mas nem por isso deixou de escalar. pelo contrário, foi acumulando viagens e primeiras ascensões a um ritmo surpreendente.
Outra primeira escalada absoluta de renome mundial foi a conquista do Makalu, com Couzy, em 1955. No ano anterior tinha escalado o Makalu II e o Chomo Lonzo. Sem reduzir o ritmo, no ano seguinte voltou aos Andes para escalar o Nevado Soray, o Nevado Veronica, o Taulliraju e a “impossível” Oeste do Chacraraju.
O monte Jannu, um sete mil e um dos picos ainda hoje considerados como de dificuldade extrema no Himalaya, resistiu à primeira tentativa, mas voltou para vencer o “leão dormente” três anos depois, em 1962. Para Terray, existia um antes e um depois do Jannu, que ele considerava a síntese da dificuldade e a escalada mais complicada que nunca faria.
Além de outras aberturas de rotas no Nepal e nos Andes, em 1964 viajou ao Alaska para escalar o complicado Monte Huntington. Aquela foi sua última grande montanha. Não teve tempo de seguir acumulando aberturas de rotas, porque morreu um ano depois, no dia 23 de Setembro de 1965, junto com o seu amigo de cordada Marc Martinetti, escalando em uma via de dificuldade média em uma de suas escolas favoritas, sofrendo um acidente em um arco, as bordas dos Gerbier, no Vercors. Tinha 44 anos. Uma rua, em Saint-Egrève, presta homenagem a ele. Seu túmulo está localizado em Chamonix.
Não chegou ao dia no qual, como ele mesmo disse “velho e cansado, encontrarei a paz entre os animais e as flores, e(…) serei o simples pastor que imaginava ser em meus sonhos de criança”. No entanto fez em uma só vida muito mais que muitos outros bons alpinistas, em atividade durante por muitos anos mais. Suas escaladas tem o sentido do extremo, do inatingível, exceto para alguns poucos gênios da rocha e da neve, mas também nos contam de cumes virgens, territórios inexplorados e de heróicos guias com piolet de cabo de madeira, meditando no cume de alguns Alpes ainda solitários.
Principais expedições
1942 – primeira na Nordeste do Cayman. Primeira do lado oeste da Aiguille Purtcheller.
1944 – primeira ao esporão leste-nordeste do Pan de Sucre. A primeira na face norte da Aiguille des Pèlerins e do norte do colo do Peuterey com Maurice Herzog.
1946 – esporão norte do Droites, com Louis Lachenal, em oito horas! E face norte do Grandes Jorasses.
1947 – o terço da face norte da Aiguille Verte. O segundo a subir a face norte do Eiger com Lachenal.
3 de junho 1950: Lionel Terray parte com o seu amigo francês Louis Lachenal na expedição ao Annapurna. Ele e Maurice Herzog serão os primeiros franceses a ganhar um pico de 8000m. Mas o papel desempenhado por Lionel Terray nesta expedição fez dele um exemplo.
1952 – Terray escala o Fitz-Roy. Subida ao Aconcágua.
1954 – em reconhecimento ao Makalu, Chomo Lonzo com sucesso.
1955 – o sucesso no Makalu com Jean Couzy. Nos dois dias seguintes à primeira chegada ao cume, todos os membros da expedição atingiram o cume.
1956 – no Peru, a ascensão do Nevado Chacraraju 6.110 m, Taulliraju de 5.830m.
1959 – Expedição ao Jannu, 7.710 m, parando nos 7.400m. Em 1962, sob a direção de Terray, sucesso.
1964 – na cadeia do Alasca o Monte Huntington (3.731m).
Fontes de Pesquisa:
“Os conquistadores do inútil”, por Lionel Terray,
Archives of St. EGREVE,
cuadernos técnicos Barrabes,
grenoble-montagne.com,
monsaintegreve.fr
não ambicionava qualquer glória, e as mais modestas escaladas deixavam-me louco de alegria. Para mim a montanha não era mais que um reino maravilhoso onde, por qualquer mistério, eu me sentia mais feliz.
Lionel Terray