O significado da escalada em livre da Dawn Wall

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A Dawn Wall (a parede da sombra) é uma das vias de escalada mais comprometedoras do Parque Nacional de Yosemite, local na California (EUA) considerado a meca do big wall mundial. A recente escalada em livre desta via por Tommy Caldwell e Kevin Jorgson é mais um capítulo da Dawn Wall na história da escalada mundial.

A recente escalada da Dawn Wall, via localizada no El Capitán, uma das mais impressionantes paredes de granito do mundo que fica no Parque Nacional de Yosemite na Califórnia, chamou a atenção para o altíssimo nível técnico e a superação de um grande desafio que era tido como impossível, mas a própria existência desta linha de escalada já foi uma superação ao impossível logo em sua conquista.

Em 1958, Warren Harding, Wayne Merry e George Whitmore conquistaram a primeira via no El Capitán, a famosa “The Nose”. A conquista desta via ocorreu num ambiente de disputa entre o Harding e o então mais famoso escalador de Yosemite da época Royal Robbins. Robbins já havia sido o pioneiro na ascensão da face mais inclinada do Half Dome, montanha impressionante que fica do outro lado do vale do Yosemite e que domina a paisagem por lá. Ele também era destaque por seu estilo mais puro e limpo, que influenciou bastante as futuras gerações por sua ética nas conquistas. Este perfil contrastava bastante com Harding, conhecido por ser festeiro e não se importar com as filosofias mais puristas de escalada.

Harding levou anos conquistando a The Nose, fixando corda, abrindo enfiada por enfiada. Os 12 dias em que ele e seus dois parceiros levaram na parede foi o que ele demorou para emendar tudo o que havia feito nos anos anteriores. Este estilo de escalada foi bastante criticado por Robbins, que era adepto a uma filosofia em que a conquista deveria ser feita em um só intento, sem cordas fixas e sobes e desces.

Foi neste contexto em que a Dawn Wall foi conquistada em 1970. A parede da sombra, onde está a via, é uma parede inclinada, lisa e exigente. Era tida como impossível de ser escalada naquela época. Harding decidiu abrir uma via no local em seu jeito e mostrar para Yosemite que seu método de escalar era mais eficiente que o de Robbins. Warren ficou 28 dias na parede, realizando a conquista numa só investida. Com este feito ele virou uma celebridade. Claro que no percurso ele instalou muitas chapeletas, no entanto, a via estava longe de ser um artificial fixo. Harding acabou tendo que conquistar muitas enfiadas dificílimas usando proteções móveis por conta do tempo na parede e sua falta de comida e água e isso resultou numa via moderna até mesmo para os padrões atuais, com muitos lances técnicos, difíceis e arrojados.

Após a década de 1990, quando a The Nose foi escalada pela primeira vez em livre, começou um tendência mundial de repetir vias de big wall clássicas neste estilo. “Livrar” uma via significa escalar uma via que era feita em artificial, ou seja com progressão com clifs, estribos e móveis, somente usando pés e mãos e sendo amparado pela corda em caso de queda. Uma escalada em livre não é a mesma coisa que escalada em solo, estilo em que não se usa corda e uma queda não tem amparo de nada.

Tommy Caldwell já vinha tentando “livrar” a Dawn Wall há muitos anos, usando diversos parceiros, ele era impedido devido à alta dificuldade técnica das 30 enfiadas da via. Após muito trabalho estudando o percurso, ele e Kevin Jorgeson finalmente entraram na via para repeti-la neste estilo.

Foram 19 dias de escalada, onde eles dormiram na parede em portaledges e enfrentaram enfiadas de até 5.14d de dificuldade na escala americana. Um 5.14d equivale a um 9a francês, ou um 11C brasileiro, um grau de dificuldade tão alto que não há no Brasil vias neste nível. Até hoje somente um brasileiro escalou uma via esportiva neste grau, Felipe Camargo, que realizou o feito na Espanha. Isso serve a título de comparação com o que a dupla enfrentou na parede. Escalar algo tão difícil a uma altura tão elevada, é certamente algo extraordinário. Acredita-se que menos de 200 pessoas no mundo tem a capacidade de fazer uma via neste nível. Fazer isso na parede, menos ainda!

Para aumentar o nível do desafio, a dupla ainda escolheu um estilo ainda mais puro da escalada, o “red point”, que significa que se o guia sofrer uma queda, ele deve começar a escalada da enfiada em que caiu desde o começo, passando todos os lances descansando de forma natural durante a escalada, sem se apoiar na corda.

Com todo este estilo puro e arrojado, em um lugar já histórico esta via não por menos entra na história da escalada mais uma vez.

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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