O Parque Estadual de Ibiporã

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Ibiporã é um município que dista algo de 17km de sua ilustre vizinha, Londrina, da qual equivale o mesmo q Mogi das Cruzes representa pra Sampa. Situada na sub-bacia do Rio Tibagi, de economia basicamente agrícola e servindo de “cidade-dormitório” pros seus habitantes, Ibiporã possui dois atrativos naturebas q passam desapercebidos a maioria devido a pouca (ou nula) divulgação q tem: o Morro do Guarani e uma unidade de conservação q leva o nome do município. E foi nestes dois rolês sussas e despretensiosos q encerrei minha breve passagem pela “Pequena Londres”, deixando até um pitaco oficial às “ôtoridades” estaduais.

Na primeira saída em direção ao Morro do Guarani tive a companhia da Lau, e juntos nos dirigimos não necessariamente cedo pro Terminal Central da cidade. Do lado de fora, embarcamos num dos vários coletivos q seguem em direção a Ibiporã, onde a viagem demorou cerca de 40 minutos. Saltamos então no centrão de Ibiporã, na frente da Praça Pio XXII, as margens da Rua Paraná, q por sua vez é a via principal q corta td cidade. Após algumas fotos da bela Igreja Nossa Sra da Paz, tocamos pela Rua Souza Naves praticamente até seu final, na direção noroeste.
 
Ali, já quase saindo do perímetro urbano local, é possível já avistar nosso destino, o Morro do Guarani, elevando-se no horizonte feito um singelo calombo na retidão interminável do Terceiro Planalto Parananense. O sentido então é meio q óbvio, onde começamos a descer suavemente em direção ao Conjunto Pedro Esplendor pra então cruzar o pontilhão de concreto q passa por cima duma movimentada BR-369. O asfalto a mto deu lugar a uma via de chão, q bastou acompanhar interminavelmente na direção norte. No caminho, ovelhas e boizinhos ruminam nas fazendas q margeiam a estrada, pela qual não circula quase nenhum veículo e diluem qq esperança de eventual carona. 
 
Mas não tem problema, pq aquele início de manhã tá bem agradável e o cenário do orvalho reluzindo ao sol nos cultivos em volta tornam a pernada bem inspiradora.
Mas após cruzar sobre um manso e cristalino Córrego Jacutinga e passar por uma singela represinha, a estrada embica um pouco pra então nos levar a um mundão horizontal interminável. Campos, plantios e cultivos preenchem td horizonte até onde a vista alcança, paisagem da qual destoa apenas um caroço alguns “kaemes” a nossa frente. Esse caroço é o Morro do Guarani, q por sinal aparece como motivo natural no brasão do município. E tome chão, chão e chão. No caminho, corujas e td sorte de passarinhos se empoleiram nas cercas, postes e arvoredo a beira de estrada, observando curiosos aqueles dois espécimes mochilados andando no frescor das 10hrs da matina daquele domingo.
 
E assim, após passar por um campo de trigo, um milharal e um pomar recheado de laranjas, chegamos na base do morro almejado por volta das 11hrs. Mais baixo q o Morro do Saboó (São Roque, SP), o Guarani requer menos de 7 minutos pra ser “vencido”, e isto se dá através duma precária trilha q nasce a beira da estrada e sobe pela sua aresta menos abrupta. A subida em meio ao alto capinzal é agradável e não requer mto fôlego, principalmente qdo a brisa soprando do sul ameniza o sol brando daquela manhã. O topo do singelo morro é marcado por uma enorme clareira e um cruzeiro recém colocado, dada a terra batida ainda escura ao seu redor. Pelas infos coletadas havia antes aqui uma capelinha ou igreja, a mto demolida. Um banquinho de madeira a sombra dum frondoso arvoredo convida a ficar ali, apreciando a bela panorâmica q se tem de td entorno. A vista privilegia a pequena Ibiporã, Londrina e outros minúsculos lugarejos q mal recordo nome, mas é impressionante constatar q vestígios de civilidade aqui correspondem a pequenas “ilhotas” em meio a um oceano de cultivos, q domina a paisagem onde quer q se direcione o olhar. Um lanchinho seguido dum descanso básico embalou a breve permanência no alto do simplório morrote, isso antes de encarar os 7km de volta pra Ibiporã.
 
O retorno, pra variar, se deu sem pressa alguma pelo mesmo caminho, agora sob o sol escaldante do meio-dia e pouco. Uma vez no centrão de Ibiporã, uma merecida parada num boteco pra entornar umas ao lado da Lau, antes de tomar o buso pra Londrina. Bebemoração não por ter alcançado ou vencido um pico desafiador. Longe disso. Bebemoração por apenas ter tornado um domingo diferente, pois sentir a brisa acariciando o rosto e os músculos pulsando, mesmo num ambiente rural, tem um valor significativo aqui, na Terceiro Planalto Paranaense.
 
Alguns dias depois e já sabendo como chegar, retornei a Ibiporã (só q desta vez sozinho) atrás do Parque Estadual local q é tb carinhosamente conhecido como “Horto”. Pra isso saltei na tal via principal, a Avenida Paraná, só q ao invés de tocar pra noroeste me mantive nela, seguindo até seu final, ou seja, indefinidamente pra nordeste e acompanhando as indicações “Jataizinho”. Após o cemitério, e já fora do perímetro urbano, eis q me deparo com a discreta entrada da unidade de conservação, já as margens da BR-369. Uma placa escancara “Parque Estadual de Ibiporã” com o horário de visitação (2ª a domingo, das 8:30hrs ás 18:30hrs). Contudo, uma faixa logo ao lado com as inscrições “O Parque estará fechado nos finais de semana” desperta tanta perplexidade como curiosidade. Felizmente era dia de semana, e assim pude entrar.
 
Uma via calçada me leva logo de cara com a simplória casinha que serve de centro de recepção q tb serve de pequeno museu, onde o prestativo Orlando, um dos funcionários q ali estava tomando conta do lugar, me passa as infos básicas dali. Tipo q o pque possui 2 trilhas interpretativas, quiosque, banheiro, viveiro, anfiteatro, etc.. enfim, infra básica pro visitante assim como sua história e situação atual. Me chama a atenção q o parque não tem nenhum folder pra distribuir ao visitante. “Tá em falta, mas tem este xerox aqui que você pode dar uma olhada..”, explica Orlando, beirando o constrangimento. Pois é, algo não vai bem aqui.
 
Resumidamente, o parque originou-se de terras q pertenciam a uma tal Fazenda do Estado, q terminou se transformando numa unidade de conservação de proteção integral com o objetivo de preservação do q restou da Floresta Estacional Semi-decidual, mata q cobria no passado td norte/oeste paranaense, além de se prestar tb pra serviços de educação ambiental (pra grupos escolares) e até mesmo como lazer para os ibiporenses. 
Pois bem, após esclarecedora conversa me mandei conhecer o parque, cujos 74 hectares são percorridos facilmente em 2hrs (ou até menos) através duma trilha principal de 2.600ms q, em linhas gerais, palmilha td seu perímetro na direção norte. Há outra trilha menor (1300m) q faz o trajeto parcialmente. O calçamento não demora a dar lugar a uma larga vereda de terra batida e cruza um quiosque. Uma estreita ramificação pela esquerda (chamada de “Trilha da Figueira”), em menos de 300m me leva a um lugar q realmente faz jus ao nome. Uma enorme e centenária figueira surge altivamente, como se fosse a sentinela imponente de td parque. Fico imaginando qtas pessoas são necessárias pra abraçar a circunferência de seu tronco, q não deve mto as sequóias americanas.
 
Retorno a via principal e prossigo meu caminho, basicamente sempre em linha reta e sem nenhuma interrupção. A espessa floresta q me envolve é acolhedora, composta por várias espécies vegetais q vão desde perobas, jequitibás, paus-marfins, guajuviras, louro-pardos, cedros, paus d´alho, figueira branca, guricaia, jaracatiás, palmitos, paus-jacarés, sobrasis, paus-ferros, ariticuns, canafistulas, cabreuvas, entre outras. O som da mata é constante, em sua maioria de passarinhos, cujas espécies aqui são inúmeras. Uma nova ramificação a esquerda me leva ao viveiro de mudas, este ainda em fase de construção, cuja aparente finalidade é a de recuperação ambiental de espécies nativas e reflorestamento pra fins econômicos.
 
Novamente na via principal dou continuidade a minha pernada, seguindo sempre ininterruptamente em frente através da larga vereda forrada de folhas. Banheiros e banquinhos estão presentes a td momento, mas eu sigo em frente, bem-disposto na minha visitação, pois parece q naquele dia eu era dono absoluto do lugar. Mas não demora pra vereda começar a descer suavemente, onde o chão de terra compacta apresenta algumas toras de madeira q servem de escadinha nos trechos mais inclinados. Minha intuição diz que vou de encontro a um abaulado vale local.
 
Dito e feito, num piscar de olhos dou num pequeno quiosque onde uma placa ostenta laconicamente “Mina Dágua”, onde uma breve escadaria me leva num belo remanso onde mato minha sede com água cristalina vertendo duma improvável nascente. Uma bica, um pontilhão e um minúsculo laguinho cercado de verdejante mata completam aquele belo panorama, situado no extremo norte do parque, onde nasce mais um dos vários afluentes do majestuoso Ribeirão Jacutinga, q por sua vez corre perpendicularmente alguns “kaemes” mais ao norte.
 
Dali a vereda começa a virar pra voltar pro sul, bordejando o limite oeste do parque. A subidinha suave q dá adeus ao vale logo dá lugar a uma reta sem fim, com paisagem similar a da ida, sem mudança alguma. Apenas alguns detalhes deste trecho compassado destoam, como um rústico abrigo, penas de alguma ave devorada no meio da trilha e mais alguns belos exemplares de gigantes da floresta a margem da mesma, q tal qual guardiões do parque se despedem de mim antes de deixar aquele belo e raro paraíso. Se despedem sim, mas não sem deixar um pedido subentendido de socorro.
 
Assim como boa parte das unidades de conservação de Londrina, o PE Ibiporã passa por dificuldades q o governo poderia muito bem sanar, mas se esquiva confortavelmente sob falsos pretextos. O fechamento do atrativo aos finais de semana é grave sintoma duma situação paradoxal. A alegação das “autoridades” é que o parque tem pouca visitação e, espertamente, achou melhor cortar as horas extras dos funcionários, que por sua vez fazem das tripas coração pra manter o lugar operando (com ajuda de estagiários, inclusive). Pouca visitação? Claro, sem divulgação fica difícil atrair visitantes, ainda mais qdo nem folheto tem pra oferecer. Eu mesmo só tomei conhecimento do lugar através de amigos, pois na web não existe NADA. Até agora, claro. Mas a questão é política, infelizmente. A “contenção de despesas” do atual governo estadual é tanta q contraria até um dos principais objetivos duma unidade de conservação: o lazer dos próprios ibiporenses, q se vêem privados duma área pública em pleno final de semana numa região já com poucas opções!!! Pra preservar é preciso conhecer, e pra isso investir em divulgação é essencial. Da mesma forma, pra dar continuidade a um trabalho decente e honesto sem sacrificar os poucos atrativos naturais q o Terceiro Planalto Paranaense tem a oferecer, é preciso conhecer bem seu próximo candidato. Afinal, as eleições estão logo ai.
 
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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