Não demorei muito para levantar, pois os passarinhos e a claridade não deixavam mais dormir. Tomamos nosso café e guardamos os equipamentos na mochila mais rapidamente do que nos dias anteriores. Tínhamos que fazer render aquele sábado para chegar a tempo para encontrar o nosso resgate.
Descemos a Garganta 235 e logo chegamos ao rio Mãe Catira.
E por trilha, chegamos à falha geográfica do Diabásio. Este, por sua vez, um verdadeiro espetáculo da natureza, consistindo em um paredão de rocha que se estende por dezenas de quilômetros e coberto por lindo musgo verde. Maravilhado, o Tiago tirou várias fotos. Enquanto isso, segui um pouco à frente para vistoriar aquele incrível local.
Logo à frente vinham dois rapazes vindo do sentido da Graciosa. Quando chegaram mais perto, pude reconhecer Élcio Douglas e Jurandir Constantino, duas feras do montanhismo, que realizaram a grande travessia Alpha Crucis (a mais difícil do Brasil). Foi uma grande surpresa encontrá-los ali, na verdade, foi uma agradável surpresa para todos.
O nosso grupo ficou conversando com eles por uns bons minutos, sobre a nossa travessia, sobre aquele lugar maravilhoso no qual estávamos, Alpha Crucis, Farinha Seca e entre outros. O Élcio nos falou que também passou pelo Sérgio, que estava a uns 20 minutos a frente de nós. E nos informou que faltavam apenas umas três horas para chegar até a Graciosa. Ficamos super felizes com a notícia, pois era um pouco mais de 10:00 da manhã e estávamos com muita sobra de tempo até o nosso resgate.
Tiramos fotos com nossos amigos para registrar o momento e em seguida nos despedimos deles que estavam indo abrir a trilha para o Morro Tangará. Espero, em breve, poder prestigiar a trilha nova.
Em pouco tempo chegamos ao topo da cachoeira Mãe Catira e descemos pela sua esquerda.
Essa cachoeira é muito bonita, possuindo cerca de 25 metros. O Tiago se posicionou na sua frente para tirar fotos. Eu pedi uma foto minha olhando para ela. Fui escolhendo cuidadosamente as pedras que ia pisar para chegar na posição certa, pois algumas ali estavam um sabão.
Logo apareceu o Marcelo, que também pediu uma foto. Na pressa, acabou escorregando em uma pedra. A risada foi geral.
Na sequência chegou o Fábio, que também queria foto em frente à cachoeira. Ele conseguiu cair em alto estilo na mesma pedra em que o Marcelo escorregou.
Mais adiante da cachoeira, haviam poços muito bons para banho (dica do Élcio) e como tínhamos tempo de sobra até o resgate, resolvemos curtir um pouco o local e tomar um banho.
Tirei a bota e coloquei o pé na água. Ela estava muito gelada! No relógio do Tiago a temperatura da água era de 12 graus! Apesar dos quatro dias sem banho, não me encorajava mergulhar com roupa e tudo naquela água gelada. O jeito foi ir aos poucos. Almoçamos ali mesmo.
Depois de quase duas horas descansando retomamos a trilha rumo ao final de nossa travessia. Faltavam somente 9 Km até o Marco 22 da Estrada da Graciosa. E a trilha era bem marcada e bem fácil de caminhar. Além disso, passava por uma mata atlântica nativa muito linda. Haviam xaxins gigantescos, arvores de troncos grossos, cogumelos de proporções anormais. Assim enchemos nossos olhos com a belíssima mata no trecho final de nossa travessia.
Chegamos ao Marco 22 da Graciosa por volta das 15:00. Se não tivéssemos feito aquela longa pausa no Mãe Catira, teríamos terminado em torno das 13:00.
A estrada da Graciosa estava bem movimentada e cada carro que cruzava por nós dava uma buzinadinha ou as pessoas gritavam para nós.
Assim que chegamos no primeiro Recando, local combinado para o resgate enviamos uma mensagem para a Sandra avisando que havíamos concluído a travessia. Mandei uma mensagem para a minha mãe ir preparando o rango.
Enquanto esperávamos nossa amiga nos resgatar, eu e o Marcelo compramos água de coco. Assim que cada um terminou, resolvemos aproveitar a poupa do fruto, enfiando o canivete pelo buraco do coco e puxando as lascas com as mãos. Umas senhoras turistas que estavam na fila do banheiro nos assistiam apavoradas a nossa fome.
E assim terminou nossa jornada. Pegamos 5 dias de tempo maravilhoso, coisa rara de acontecer nessa região onde chove em 270 dias por ano.
A dificuldade da travessia nos fez crescer, tanto na pratica do montanhismo, tal qual como pessoas. Uma experiência ímpar. Mesmo tendo sido uma travessia bem difícil, na minha opinião foi a melhor que já fiz!
Esta foi a nossa homenagem do Clube Trekking Santa Maria RS para a Semana da Montanha do Paraná 2014. Uma bela travessia e sem dúvida uma das mais difíceis do país.
Agradecemos especialmente as pessoas que tornaram essa travessia uma experiência em sucesso:
A Sandra Elize (Mulheres na Montanha), pela ótima logística que nos proporcionou para que tivéssemos êxito.
Elcio Douglas, pelos roteiros de trekking, paciência em tirar todas as dúvidas e pela abertura da trilha do Colina Verde até o Marco 22 junto com o Mildo Junior e Jurandir Constantino.
Getulio Rainer Vogetta (Associação Montanhistas de Cristo), sempre muitíssimo prestativo seja pela ajuda com todo roteiro e as dezenas de dicas e informações sobre a travessia.
Também Geraldo Protzek e ao Natan Fabricio Loureiro Lima (Nas Nuvens Montanhismo) pela disposição em ajudar e retirar dúvidas.
Dados do 5º dia da travessia:
Distância: 10,2 Km a pé.
Altimetria: 694 metros de aclive acumulado e 936 metros de declive acumulado.
Dados finais da Travessia Bairro Alto x Marco 22 PR:
Distância total: 48,30 Km a pé.
Aclive acumulado total: 6566 metros
Declive acumulado total: 5888 metros