Chegando lá, Sr. Despaul se encontra com mais um voluntário, Sr. Rivoli, que é designado num sorteio a ser a “cobaia” da experiência, enquanto Despaul é designado o monitor.
A experiência consta em analisar a possibilidade de Sr. Rivoli aprender com pequenas punições que vão se tornando acumulativas com o número de seus erros. Sr. Despaul fala 30 nomes e dá a eles adjetivos, de forma que Rivoli é obrigado a decorar. Se ele esquecer algum dos nomes, sofrerá um choque de 15 volts, que é acumulado, de forma que se ele for errando, receberá descargas de 30, 45, 60, 75, 90… até o limite de 450 volts!
Despaul vai executando o teste, sempre com a presença do Dr. Julius que está ao lado. Os erros de Despaul vão conduzindo a choques muito fortes, até que por volta dos 150 volts, Sr. Rivoli vai demonstrando sinais de dor e pede para parar.
Em dúvida, Despaul pergunta se o teste não está afetando a saúde da “Cobaia”, mas Sr. Julius pede que ele prossiga o teste. Despaul já dá sinais de que não deveria executar o teste e por isso vibra quando Rivoli acerta uma questão, mas fica bravo quando ele erra, até que por conta de um choque, Rivoli solta sua mão do braço da cadeira elétrica e o Dr. Julius pede que ele vá até a cadeira e ate novamente o nó que prende a vítima em seu instrumento de tortura.
Este é o momento do contato entre o carrasco e sua vítima. Um momento em que o executor tende a desistir de seus atos. Ele retorna a mesa e pergunta à autoridade, o Dr. Julius se deve prosseguir, e enfático, o Dr. pede para que ele prossiga, e diz que qualquer problema que ocorra com a saúde de Rivoli será transferida à ele a responsabilidade.
Despaul volta à mesa, com medo de contrariar a autoridade. Ele ajuda a vítima tentando dar dicas sobre a resposta que Rivoli precisa dar, mas ele não responde mais… É outro momento de reflexão em que o comandado pode desobedecer, mas Despaul executa as ordens, pois confia no conhecimento e na responsabilidade da autoridade superior.
Após os 360 volts a vítima já não reage mais aos choques. Aos 405, o Dr. Julius e outro cientista entram em conflito de opinião. Um pede para parar o teste, pois a Cobaia esboça problemas cardíacos, mas o outro é enfático. É preciso continuar para não falsear os resultados!
Quando as autoridades esboçam estar confusas, os subordinados começam a não mais respeitar regras, mas mesmo assim, 63% deles, já tendo notado que estão impondo castigos severos à uma vítima indefesa, vão até os 450 volts, o limite do teste.
No vídeo acima, temos o fragmento deste teste extraído do filme Ícaro, de Yves Montard. Este teste muito bem representado no cinema, existiu de verdade e recebe o nome de Experimento Milgram, devido seu idealizador, o psicólogo Stanley Milgram da Universidade de Yale nos Estados Unidos.
Com esta experiência, Milgram pôde concluir usando centenas de cobaias, que na verdade são os monitores como Despaul, qual é o limite da obediência do ser humano: Ou seja, não há limites e isso pode ser catastrófico!
Este teste foi realizado em diversos países ocidentais, civilizados e democráticos e mesmo sob estas circunstancias, 2/3 da população nesta amostra, estão sujeitas a obedecerem à ordens, mesmo que elas pareçam ser absurdas.
A maioria da população mundial acredita na autoridade e num conhecimento supremo. Estas pessoas acham que por uma pessoa estar numa posição hierárquica superior, ela toma decisões acertadas e mesmo que perceba que esta não é a melhor maneira, lava suas mãos, pois sabe que a culpa cairá sobre as costas dos outros e assim segue obedecendo, pois obedecer é fácil, contestar é difícil.
Se obedecer é fácil, isentar-se da culpa é hipocrisia. Um tirano precisa de milhões de pequenos tiranos que executem suas ordens para por em prática um genocídio, como foi o caso de Hitler e os judeus no fim da segunda Guerra. Para o soldado que executava a prisão de um judeu, ele estava apenas cumprindo sua função de “prender”. Para um maquinista de trem que levavam milhares de milhões para os campos de concentração, ele estava apenas executando sua função de conduzir o trem. Para o diretor de um campo de concentração, ele estava apenas administrando um presídio. Separadas uma por uma, são todas tarefas triviais, sem remorsos, mas resultam em atos terríveis.
Meses mais tarde, os verdadeiros cobaias são questionados se tinham ideia da crueldade que estavam praticando, a resposta comum para todos que vão longe no experimento é: Eu achei que vocês (cientistas) sabiam o que estavam pedindo para que eu fizesse. Quem sou eu para contestar uma autoridade?
Há mais de 2 anos eu estou decidido a lutar contra uma das maiores injustiças que acometem o montanhismo e a escalada brasileira. Para mim, montanhismo é aventura e liberdade, mas estes dois pilares principais desta cultura está ameaçado no Brasil.
Isso tudo por conta de conflitos que advém do paradigma da crise ambiental onde, no caso, os administradores das áreas naturais protegidas enxergam com maus olhos a presença de montanhistas dentro das Unidades de Conservação.
Isso advém de uma visão Preservacionista que de acordo com Antonio Carlos Diegues é uma filosofia que pretende reverenciar a natureza no sentido de sua apreciação estética e espiritual da vida selvagem, protegendo a natureza contra o desenvolvimento moderno, industrial e urbano.
Esta filosofia é oposta a visão Conservacionista, que presa o uso adequado e criterioso dos recursos naturais. A ideia de mínimo impacto dos montanhistas organizados e de desenvolvimento sustentável de vários cientistas sociais vão de encontro com esta filosofia, entretanto as ações de quem administra as áreas naturais são unilaterais e não leva em consideração nem a filosofia e nem a história do montanhismo, que no Brasil existe há mais de 130 anos (Leia mais sobre o Mito Moderno da Natureza Intocada, Leia mais sobre a cultura do Montanhismo no Brasil).
Alguns montanhistas ainda são confusos em suas posições e me chamam de anti parques. Isso não é verdade, sou a favor sim de áreas naturais protegidas, sou contra apenas a política de proibição do montanhismo, pois tenho certeza eu nossa atividade não degrada o meio ambiente, pelo contrário, ajuda a proteger (Leia: ambientalismo da destruição das montanhas).
Parque s são áreas públicas de grande valor paisagístico. São locais para a
gente visitar, para apreciar e ter qualidade de vida.Trilhas que não podem ser percorridas, cachoeiras que não podem ser vistas, montanhas que não podem ser escaladas, a paisagem sem o homem não tem valor (falando na teoria de valor) e se não é valorizado pode ser destruído.
Se um parque fechar por questões ambientais, ou seja, para não ter mais nenhum impacto da minha circulação por lá, os valores da cultura do montanhismo não existirão mais lá…
Quanto vale a cultura do montanhismo?
Ela não tem preço….
Quanto vale um pote de palmito? uma tora de imbuia? Um caminhão de minério de ferro ou um caminhão de brita de granito? Ora sabemos quanto custa!
Tudo é uma questão de valores e na ausência de um, predomina outro. Qual deles vocês preferem?
Escaladores são presos por escalar. Montanhistas são denunciados no Ministério Público por percorrerem uma trilha. A Cultura do Montanhismo é marginalizada e proibida e os parques são destruídos, abandonados e esquecidos, ficando sob domínio do garimpeiro, da motosserra e da espingarda.
Regras não devem ser cumpridas sem questionamentos. Cumprindo proibições absurdas, você está apenas contribuindo para institucionalização do absurdo, pior, o culpado é você!
Qual é seu limite de sua obediência?