Encontrei a Renata naquela manhã ensolarada as 9:30hrs, na conexão da linha esmeralda da CPTM com a lilás do Metrô, na estação Sto Amaro. Juntos, zarpamos até a Estação Capão Redondo, onde chegamos em menos de meia hr. Viagem breve mesmo, ou quiçá a sensação se deva ao fato da nossa animada conversa colocada em dia, tanto q por pouco nos passa desapercebida a hora do desembarque. Dali pra integração (gratuita) com o terminal rodoviário foi um piscar de olhos, onde tomamos o (TRO-001) “Itapecirica – Pq Paraiso” em direção ao Valo Velho, as 10hrs, local da nossa próxima baldeação. Sim, é possível ir pra Juquitiba de buso, mas é uma camelagem só…
Nova viagem rápida e não tão demorada conforme o previsto – quiçá por conta de não ser horário de pico – saltamos enfim no tal Valo Velho as 10:20hrs. Mais especificamente no limite municipal de Sampa e Itapecirica da Serra, sinalizado laconicamente por uma placa no meio duma agitada avenida. Dali bastou apenas cruzar pro lado “itapecericano” e nos dirigir pra sequência de ônibus perfilados em frente ao Supermercado Ricoy. Ali operam as linhas q basicamente atendem Juquitiba e imediações.
A espera não tardou muito e embarcamos no (C-030) “Juquitiba-Barnabés” as 10:30hrs. Pois bem, se tds os translados anteriores foram breves, a viagem neste buso se encarregou de ser totalmente o contrário. Prepare-se: serão quase 2horas chacoalhando no latão, motivo pelo qual é bom garantir lugar no banco, levar um livro, toneladas de músicas no player ou simplesmente encostar a cabeça na janela e curtir um cochilo. Contudo, se serve de alivio, é interessante ver a paisagem mudar radicalmente do cinza pro verde a medida q deixamos os limites de Itapecerica da Serra pra finalmente adentrar no asfalto da BR-116, mais conhecida como Rod Régis Bittencourt.
Pois bem, após interminável sacolejo e passar pelo centro de São Lourenço da Serra e Juquitiba, saltamos do busão qdo este enfim abandona a rodovia de forma derradeira e adentra no Bairro de Barnabés, no distante km 337. Eram 12:20hrs e agora nossa jornada se daria pelo asfalto da BR-116, mas claro, pelo acostamento. Aqui vai um aviso: a gente foi na aparente segurança da margem esquerda da rodovia, mas ela engana bem; são poucos os trechos de fato seguros, sendo q mtas vezes nos vimos palmilhando o mato beirando a rodovia, em espaços cimentados bem estreitos. Foi meio tenso e adrenado, pq o trafego é predominantemente de caminhões em alta velocidade e mais duma ocasião o vácuo da passagem dos mesmos nos desequilibrava. Sem contar q este lado é mto mais sujo, seja de lixo jogado por motoristas, restos de acidentes e até carcaças fedorentas de bichos atropelados. Prefira o acostamento da margem direita, muito mais seguro.
Enfim, após exatos 3kms de chão pela rodovia, abandonamos a mesma no km 340 por volta das 13hrs. Há um pto de ônibus e uma placa marcando a divisa de Juquitiba com Miracatu como referência. Dali em diante começa a famosa descida da Serra do Cafezal, conhecida tradicionalmente pelo seu trânsito infernal sentido Curitiba. Mas a gente toma uma estradinha paralela á rodovia e começa a retornar, sentido norte. O asfalto não tarda a se tornar terra e alguns metros adiante é preciso atentar numa saída de curva acentuada nascendo da estradinha principal. Abandonamos a mesma (q continua pro norte) em prol desta ramificação e a acompanhamos até o fim, rumo oeste.
Uma vez nesta simpática estradinha de chão não tem mais erro. Sombreada, agradável e cercada de mato, percebemos q adentramos num bucólico vale q por sinal atende pelo nome do ribeirão q o banha. É o Córrego do Engano, q marulha mansamente a nossa esquerda e vai nos acompanhar o resto do rolê. Após uma suave e imperceptível subida começamos a descer ao fundo do vale, numa piramba bem acentuada. O até então manso córrego ao nosso lado não demora a emitir furioso rugido, sugerindo uma sucessão de quedas a medida q se perde altitude.
Neste início de descida agora é preciso atentar a uma picada (a esquerda) q vai de encontro ao ribeirão. E após uma íngreme descida de menos de 1min – onde ao menos não houve necessidade do uso das mãos – desembocamos num belo remanso do Córrego do Engano marcado por um pequeno laguinho. Na verdade, estávamos no alto da Cachu do Engano, pois dali as águas represadas do laguinho despencam furiosamente duma altura de quase 30metros, através de 3 patamares de enormes paredões rochosos. A vista do alto é fantástica e descortina uma bela panorâmica do Vale do Engano. Desnecessário mencionar q paisagem emoldurada me recordou a q se tem do alto da Cachu do Vale (ou dos Cristais), em Paranapiacaba.
Retornamos a estrada e continuamos descendo, doidos pra alcançar a parte baixa da cachu. Mas não demorou pra nosso desejo ser atendido, pq numa curva acentuada da via supracitada encontramos a picada q nos levaria ao poço principal da cachu. Nos mesmos moldes da anterior, esta vereda era mais curta e menos íngreme , e assim desembocamos no sopé da belíssima Cachu do Engano, cujo véu d’água era realçado pela luminosidade impar do sol das 13:20hrs! Uma gde clareira sombreada com restos de fogueira completavam o bucólico cenário.
Vestígios de algum lixo e restos de despachos (malditos macumbeiros!) eram o contraponto daquela belezura de lugar. Tb pudera, uma cachu de acesso tão fácil deve ser bastante freqüentada pelo povão nos finais de semana. Não era o caso. E não me pergunte a origem do nome da queda pq desconheço. O q sei é q sem vivalma e donos absolutos daquele pequeno pedaço do “paraíso juquitibano”, eu e a Renata não pensamos duas vezes em nos refrescar no convidativo lago no sopé da cachu. Raso pros padrões serranos (a água batia no peito na parte funda), de água límpida e com chão forrado de areia grossa, aquela piscina natureba era recompensa mais q merecida diante da camelagem e do calor daquele dia ensolarado.
E após demorado e delicioso tchibum mastigamos nosso lanche pra em seguida começar a longa jornada de volta, coisa de 14:30hrs. Reparei q havia picadas q nasciam de ambas margens do Córrego do Engano, q agora seguia seu sinuoso curso vale abaixo de forma mais comedida. Dali só posso tecer possibilidades da existência de mais remansos e pequenas quedas rio abaixo. Mas são apenas especulações das quais quem sabe numa próxima ocasião (e melhor planejado) sirvam de alento pruma nova visita ao lugar. Por ora e com tempo mais q apertado o negócio era voltar à cidade gde, já prevendo transito na maior parte do trajeto.
Retornamos os 3kms de asfalto até Barnabés, onde bebemoramos num boteco aquela simplória e despretensiosa travessura em Juquitiba enqto aguardávamos qq condução q nos deixasse no Valo Velho. Só de pensar q ainda teríamos mais de 3hrs intermináveis pra retornar a Sampa já desanimava. Viagem q seria certamente feita no mundo dos sonhos. As responsas e pendências ao final do dia estavam em xeque. Mas e daí? É verdade q um veículo a mão facilitaria as coisas, mas a ausência dele tb nunca foi fator limitante pra deixar de cair no mato. Pra td dá-se um jeito. Pura questão de desprendimento, paciência e determinação. Mas a pergunta q não quer calar é, no final das contas: valeu mesmo a pena rodar mais de 6hrs pra apenas curtir 1hr de cachu? Sem dúvida.