A lua ainda brilhava sob a forma dum disco prateado perfeito e destacava-se perfeitamente no breu do firmamento qdo o Nando pegou eu e o Ronaldo em casa, por volta das 5hrs da madru. A viagem pelas Rod. Régis Bittencourt e Pde Manoel da Nobrega, diferentemente da semana passada, transcorreu sem nenhum percalço ou atraso sequer. Motivo pelo qual a única parada q fizemos foi as 6:30hrs, na pacata e simpática Pedro de Toledo q, envolta em brumas esparsas daquele inicio de manhã, recém despertava pra mais um dia de labuta.
Numa padoca local tomamos o desjejum, materializado num delicioso pão-na-chapa q foi mastigado entre vários goles de pingado fresquinho. Pedro de Toledo se assemelha muito com Miracatu e as demais cidades daquele setor norte do Vale do Ribeira, com aquele ar interiorano indefectível e poucas novidades. Alias, a vibe daquele final de semana agitado seria a iminente vinda do tal Mr Catra e uma micareta sertaneja combinação de estilos minimanente curiosa.
Antes de deixar a cidade, o Nando foi atrás de cigarros e qual surpresa deles q ali não haviam marcas “oficiais”, apenas contrabandeadas.. “Merda, nenhum Malboro! Entao vai esse aqui mesmo..”, conformava-se ele.
Seguimos viagem ate Três Barras, na sequencia pela precária Estrada do Rio do Peixe e, num piscar de olhos, caímos na malfadada Estrada do Despraiado, onde o valente Peugeot desta vez não raspou a lataria em nenhuma pedra, provavelmente pelo veiculo estar mais leve q na ocasião anterior. No caminho, uma rápida parada pro Ronaldo faconar um suculento cacho de bananas madurinhas, q serviu pra complementar nosso café-da-manhã com uma frutinha fresca básica.
Após chacoalhar mais um tanto, chegamos no Bairro Despraiado por volta das 8hrs, e estacionamos novamente sob a sombra do frondoso abacateiro q antecede o “Bar do Cumpadi”, a “xiboca” mais conhecida dali. Alias, a única. Qual a surpresa do Reginaldo, dono do precário estabelecimento, nos ver novamente e convidar pra tomar mais uns goles de café fresquinhoi. Ali tb se encontrava seu pai, um senhor de idade q era o tal “Cumpadi” q empresta seu nome ao bar, abastecendo a “xiboca” com produtos da cidade. O sol brilhava forte no firmamento e o calor logo se fez sentir, assim como o ataque impiedoso dos borrachudos atrás de sangue fresco. No entanto, já vacinados qto este percalço, tds nós (sem exceção), viemos munidos
com repelente na mochila. “Eles adoram a cor preta!”, me alerta o Reginaldo, qdo percebi uma nuvem de sanguessugas orbitando ao meu redor. Valeu pelo aviso tardio, pois so uso blusa preta.
Pois bem, a idéia inicial era subir algum pico local, mas tds as infos coletadas naquela mesma manhã davam conta de q as picadas aos mesmos tavam bem fechadas por desuso. “Eita, a ultima vez q subi na Serra do Itatins foi a 3 anos atrás. Alem de trilha cheia de bifurcação, o mato tomou conta de td.”, alertou Reginaldo. Esta informação foi corroborada pelo John, seu jovem vizinho e igualmente monitor local. Como não estavamos preparados pruma verdadeira expedição bem planejada (quiçá com pernoite) pra este caso, abandonamos a idéia do pico indo atrás dalguma coisa bem mais refrescante, ou seja, alguma outra cachu. Ai nos foi sugerida a tal Cachu do Pastor Raimundo, uma queda situada numa das primeiras dobras da
encosta da Serra do Itatins. Beleza, pegamos as infos e la fomos nós.
Após ajustar as botas e ajeitar as mochilas, pudemos pé-na-estrada meia hora após ali chegar, cruzamos a Ponte do Peixe, e seguimos pela Estrada do Despraiado em diante. Mas não deu nem 1km q a abandonamos em favor duma cerca a nossa esquerda, onde uma placa anunciava ali ser um tal “Sitio Ecologico dos Menezes”. Não bastasse isso, outra placa (mais discreta) logo atrás mostrava a direção pra tal Cachoeira do Pastor Raimundo. Ate ali já suávamos em bicas devido ao calor matinal. E a tendência era a temperatura somente aumentar no decorrer do dia.
Cruzamos então um campo de futebol improvisado, onde um par de cavalos esquálidos parou de pastar pra nos observar, curiosos, pra então mergulhar numa picada em meio ao frescor da mata fechada. Ai q alivio andar na sombra! A partir dali uma obvia e estreita trilha começou a galgar suavemente uma evidente crista ascendente, cercada de vegetação por tds os lados. Mas não demorou pra declividade apertou e o suor tornar a escorrer novamente
com fartura, mesmo na sombra.
A subida prosseguiu sem maior percalço naquele mesmo compasso. Vez ou outra o mato ameaçava invadir a vereda, o q nos forçou a vários desvios e faconadas providenciais, mas a trilha era sempre perceptível. Foi ai q após quase 150m de desnível o caminho nivelou e assim se manteve por um bom tempo, costeando os contrafortes da montanha, tocando sempre pra sudoeste. No caminho cruzamos um pequeno correguinho num enorme bambuzal, q molhou
nossa goela pela primeira vez, pra então dar continuidade a pernada na sequencia.
Não tardou e logo nos vimos palmilhando uma estreita picada bordejando uma encosta serrana bem íngreme, alternando subidas e descida. O som de agua correndo com fartura logo inundou nossos ouvidos, sinal q finalmente adentrávamos nalgum vale interno do Itatins. Um imponente gigante da floresta tombado foi o único obstáculo deste trecho, q foi vencido com alguns lances de escalaminhada da mesma. Foi ai q a picada começou a descer de vez pro tal vale interno, indo de encontro aquele som de agua borbulhante.
E assim, após quase 1hr de caminhada desde o começo da trilha, a vereda desembocou na confluência pedregosa de dois riachos, ambos oriundos de encostas opostas daquele estreito vale. Num deles era facilmente visível uma belíssima queda não mto distante. Era a tal Cachu do Pastor Raimundo.
Saltando cuidadosamente pedras lisas feito sabão e transpondo mais uma enorme arvore tombada foi possivel chegar perto dela e bater algumas fotos.
Na verdade não era uma queda q destoasse pelo tamanho e sim pelo contexto em q estava situada, mas a verdade era q se assemelhava muito com a Cachu do Banquinho e a Cachu Escondida, ambas mocadas em encostas serranas parecidas de Paranapiacaba. A agua derramava-se por sobre as lajes duma enorme rocha suavemente inclinada pra depois correr, marulhando sobre o leito raso de pedras, e se represar em simpáticas piscinas de porte médio, na confluência dos riachos, mais adiante. Com relação a origem do nome, pelo q me recordo da explicação do Reginaldo era pq a queda estava situada na propriedade do mesmo, uma vez as águas da mencionada queda terminavam sendo tributarias do sinuoso Rio Despraiado.
Após mais cliques, um breve descanso e de mastigar mais alguma coisa, emprendemos a volta pelo mesmo caminho e assim por volta das 11hrs já estavamos novamente na estrada de terra. Ao invés de retroceder pela mesma, mergulhamos noutra picada q ladeava o Rio Despraiado, cruzamos o mesmo com agua ate o joelho, e prosseguimos por uma vereda q o subia pela margem direita. Não demorou a cair numa vereda maior, transpôr uma casebre, uma
igreja evangélica pentecostal e, finalmente, a “xiboca” do Reginaldo. Com o calor das 11hrs a pino, não nos fixzemos de rogados e mandamos ver umas 4 brejas trincando de geladas e 2 doses de Cambuci.
Aproveitei tb pra complementar nosso refresco c um tchibum no enorme piscinão próximo da ponte. Mas o Ronaldo, q não conhecia a Cachu Despraiado, insistiu pra mergulhar por la. E la fomos novamente praquela queda próxima q fomos semana passada. Enqto ele e o Nando davam seu tchibum, fui bisbilhotar as redondezas e achei uma discreta picada q não vi na ocasião anterior e q, andando não mais q 1 minuto, dava na parte alta da Cachu Despraiado, com belo visual das corredeiras ribeirão acima.Mas foi ai q um negrume medonho tomou conta do então céu azul e o mundo desabou de vez, sob a forma dum aguaceiro nervoso. Logicamente q voltamos rápido pro boteco do Reginaldo e la aguardamos a tempestade passar. Foi ai q demos graças a Deus não termos subido pico algum pq naquela hora do campeonato estaríamos amargando um perrengue inesquecível e bem molhado, pelo visto. Nesse meio termo, preparamos um suculento macarrão sob o ronronar do fogareiro q, alias, encantou o Reginaldo! “Nossa, q lampião baana pra cozinhar esse ai!!”, dizia ele, enqto reclamava duma inconveniente dor no dente como da falta de assistência da prefeitura local ao bairro. Mas seus olhinhos cintilaram cifrões qdo sugerimos q com a divulgação devida a região teria mais turistas e, consequentemente, mais renda. Atrativos naturebas eles tinham de sobra, logo…
A chuva aparentou dar uma trégua, coisa das 14hrs, decidimos q já era hora de começar a voltar. Mas não estrada adiante, pois o nível do Despraiado visilvelmente aumentara e a travessia de suas águas (agora turvas) com o veiculo não seria possivel como da vez anterior. Voltariamos então estrada acima, rumo Tres Barras e Pedro de Toledo. Nos despedimos do velho Reginaldo, prometendo breve retorno, e assim foi. Logicamente q voltei com a mochila recheada com as compras da “feira” mensais, com os bolsos abarrotados de bananas e abacates fresquinhos, colhidos direto do
pé.
O retorno pela precária via foi algo tenso, mas a habilidade no volante do Nando impediu q atolássemos em mais duma ocasião, pois as rodas agora patinavam seja na lama acumulada como pelo cascalho umedecido pela chuva. So respiramos aliviados mesmo qdo alcançamos o asfalto, um pouco antes de Pedro de Toledo. Confirmando a previsão, a chuva voltara sob a forma de fina garoa e dali decidimos o q faríamos, já q ainda era cedo pra voltar de vez pra Sampa. E dessa forma o Nando decidiu “democraticamente” irmos pra Prainha, em Peruibe, relativamente perto dali.
Chegamos em Peruibe e o tempo tb não estava colaborando muito, mas qdo tomamos a Estrada do Guaraú a garoa fez a gentileza de parar um pouco. Num desvio bem sinalizado adentramos uma precária estrada q logo nos deixou num estacionamento, de onde uma curta e breve trilha nos deixou na praia, as 15:30hrs. Claro q éramos os únicos naquela pequena praia urbana, de areia escura e chão compacto, vazia. Eu e o Ronaldo descansamos enqto o
Nando foi o único a mergulhar naquele mar meio agitado. Olhei pra trás e vi o tempo novmente fechando feio, alem do majestuoso Pico do Guararu totalmente encoberto.
Voltamos pra Peruibe, onde mandamos ver mais um lanche e partimos de vez da “Região Metropolitana da Baixada Santista”, agora em definitivo pra Sampa, la pelas 17hrs. A chuva insistia em nos seguir e assim foi. Pegamos um transito nervoso e bem estressante na Rod. Anchieta pois havia um trecho interditado da Rod. Imigrantes por conta dum alagamento. Resultado: so cheguei em casa por volta das 21hrs, cansado e exausto da viagem de
carro. Pernada q é bom, bem pouca naquele dia. Mas e daí? A idéia era apenas sair e descontrair no Despraiado naquele dia quente de verão. E claro q uma terceira visita á região decerto será inevitável. As possibilidades ali são inúmeras. Seja pra desfrutar mais cachus escondidas ou tributários cristalinos q singram aquele belo vale q dá inicio á Reserva Ecológica da Juréia. Ou quem sabe finalmente subir algum pico local.
Jorge Soto
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