A Cachu do Quilombinho

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Afluente menor do majestuoso Rio Quilombo, o Rio Quilombinho corresponde ao primeiro gde córrego q cruza a “Trilha dos Carvoeiros”, despencando serra abaixo de forma tão imperceptível qto discreta. Negligenciado e até desprezado em prol de outras veredas do entorno, o trajeto deste simpático regato detém uma respeitável queda q não deve me nada as q pontilham a tradicional “Volta na Serra”, e q guarda gde semelhança com outra cachu mais notoria da região, a Pedra Lisa. Falamos da Cachu do Quilombinho, queda de relativo facil acesso q foi apenas uma das atrações dum circuitao pesado (e quase 500m de desnível) q percorreu td Rio Quilombinho ate o fundo do vale q lhe empresta o nome, e retorna pela vereda do “Rancho 71”.

O sol brilhava radiante no alto daquela manhã  dominical isenta de qq vestígio de nuvens qdo desembarcamos do latão, as 8:45hrs, em Paranapiacaba. Imediatamente eu, Vivi, Fabio, Vevê e Lucas pusemos as pernas p/ trabalhar, rasgando a pitoresca vila inglesa, q por sinal recém despertava pra receber seus visitantes daquele dia promissor. O Fabio acionou prontamente seu aparelhinho de posicionamento global, q marcava exatos 740m de altitude. No caminho, um pulguento com alguma mestiçagem de beagle colou no nosso vácuo, e como nossos esforços em afugenta-lo mostraram-se infrutíferos acabamos nos conformando com a idéia dele agregar um “charme pet” ao nosso intrépido quinteto. Por falta de criatividade ou nome melhor, batizamos o novo e peludo integrante de Totó.

Num piscar de olhos deixamos a vila pra trás, colocando então os pés na tradicional Estrada do Taquarussu, bucólica via palmilhada vezes sem conta e porta de entrada de inúmeras aventuras vindouras pela região. Em tempo, um curioso detalhe chamou a atenção da galera qdo tds repararam a ausência de botas do Lucas. “Ele vai fazer a trilha descalço!”, disse Vevê. Tds achavam q ela estivesse tirando onda, mas não é q o rapaz a meio caminho retirou um frágil All Star e começou a saltitar feito gazela pelo cascalho da precária via? “Ok, só quero ver na hora q tivermos q varar mato, pisar em bromélias ou andar por terreno agreste! Ta fudido!”, pensei. Como cada louco tem sua mania, percebemos q o Lucas queria a td custo fazer jus à sua fama de “Mogli, o Menino-Lobo”. Então tá, né?

O frescor matinal daquela estrada revigora ate o mais desestressado ser humano, e isso embalado em agradavel e prazerosa conversa faz o tempo passar voando. Resultado, qdo demos conta já havíamos serpenteado quase 3km, tropeçando finalmente com a entrada da famosa “Trilha dos Carvoeiros”, as 9:30hrs. Mergulhamos enfim na mata a paso firme e determinado, tendo como trilha sonora o canto metálico das arapongas brindando ao novo dia. O Totó td elétrico e serelepe se pirulitou na dianteira, eventualmente adentrando na mata da encosta afim de surpreender alguma rolinha ou bicho qq no mato, pra depois retornar correndo e reivindicar outra vez sua posição como “guia” oficial da pernada.

As 10:30hrs interceptamos a famosa “bifurcação das bananeiras”, pto de referencia fundamental da região e divisor de destinos do Vale do Quilombo. Tomando a esquerda, em menos de 5min desembocamos no borbulhante e cristalino regato chamado de Córrego Quilombinho, a exatos 970m de altitude, alcunha pelo qual o conheço desde meus primeiros rolês pela região. É aqui após uma merecida pausa de descanso e de molhada de goela, abandonamos a picada em favor das nascentes do referido curso dágua. A idéia era a sgte: descer td o riozinho até o fundo do vale, algo q nunca havia feito antes; e uma vez no Rio Quilombo avaliar a possibilidade (conforme o tempo de luz natural ainda disponível) de retornar por alguma outra trilha conhecida, realizando um circuito exploratório. Na pior das hipóteses retornaríamos pelo mesmo caminho, se o tempo estivesse apertado demais. Pronto, resolvido.

Dito e feito, pusemo-nos a chapinhar pelo Rio Quilombinho, q neste trecho inicial é bastante raso e se mantem em nível por um bom tempo, sem gde desnível ou perda de altitude. Apesar das pedras afloradas e pouco volume, tds sem excessão enfiaram a bota na água, principalmente por causa ardiloso limo q deixava as rochas lisas feito sabão. É, era melhor pisar na segurança do fundo do regato a andar pelas rochas q alem de escorregadias, apresentavam-se soltas. Apesar disso, o avanço foi bem satisfatório, onde a desviada de mata tombada no caminho era recompensada pelas pequeninas quedas de encosta q somavam sseu precioso liquido ao regato então palmilhado. Isso sem falar no estupendo visual do próprio rio em si, iluminado parcial e maravilhosamente pelos raios filtrados pela densa vegetação em volta.

Pois bem, não deu nem 20min percorrendo o sinuoso rio sem gde desnível qdo tropeçamos com uma batida e bem-vinda picada q o cruzava perpendicularmente! Essa vereda foi um gde achado pois alem de evidentemente acompanhar o Quilombinho pela esquerda, facilitaria horrores a descida qdo a declividade apertasse. A curiosidade ficou por conta de proveniência ou origem dessa picada, e de onde ela daria se tomássemos o ramo da direita. Pronto, esta dada a dica pruma próxima empreitada exploratória.
Mas como nossa idéia era descer o rio, não pensamos duas vezes e tomamos a picada pela esquerda. E assim fizemos, percorrendo a óbvia trilha onde o avanço progrediu mesmo. Bem roçada e ausência de qq vestígio de lixo, a vereda acompanha o Quilombinho o tempo td, sem se afastar dele. Eventualmente o intercepta e tangencia, nos obrigando a saltar de pedra em pedra, mas logo ela é reencontrada adiante, onde retoma o mesmo caminho e ritmo anterior. Nalguns trechos vivivelmente percebe-se estarmos percorrendo uma suave crista descendente, com mato caindo de ambos lados. Nessas horas temos a impressão dos horizontes se abrirem bem a nossa frente e descortinarem o visu do litoral, mas a espessa vegetação do degrau serrano sgte se encarrega de nos privar desse privilegio. Aos poucos, o rio q ate então marulhava mansamente torna-se mais barulhento, sinalizando um terreno mais acidentado q o anterior.

Mas td q é bom dura pouco pq aos poucos o terreno começou a inclinar, inclinar e inclinar, ate q finalmente a vereda embica pra baixo numa piramba quase vertical, onde td cuidado é pouco. O chão de terra ora mostra-se instável ou escorregadio, nos obrigando a segurar no arvoredo ou qq mato firme ao redor. Simultaneamente à brusca queda de serra, q é vencida em sucessivos ziguezagues ingremes, ouve-se um poderoso rugido ao lado vindo do rio, q aumenta conforme avançamos na trilha. E é ai em meio a vegetação q tenho um leve vislumbre do véu alvo de uma enorme cachoeira bem ao nosso lado! “Pára tudo, galera! Vamo dar um visu nessa queda!”, falei pros demais, q descia a serra no piloto automático. Pô, uma bela cachu bem do nosso lado não podíamos deixar passar batido, né? Bastava apenas saber q ainda era cedo e q com a trilha chegaríamos em tempo hábil ao fundo do vale.

Abandonamos então a trilha em favor de um caminho dagua coberto por algum mato, mas facil de transpôr, e logo nos vimos as margens do Rio Quilombinho, q aqui despenca em meio as pedras numa sequencia de quedas bem mais furiosas q lá em cima. A cachu é perfeitamente visível e seu véu reluz lindamente à luz daquele horário, e pra alcançar sua base basta ou escalaminhar as gdes e escorregadias rochas no caminho ou se embrenhar pelo mato da encosta, q é por onde a maioria decide ir.
Finalmente, as 11:40hrs emergimos da mata pra desembocar no simpático pocinho na base da Cachu do Quilombinho, onde nos brindamos com um merecido pit-stop pra descanso e contemplação. O Fabio imediatamente prostou-se sob o jato dagua despencando do alto, enqto o “Menino-Lobo” empolou-se perigosamente numa pedra, a altura considerável da cachu. Eu e os demais nos contentamos em apenas prestigiar aquele belo espetáculo natureba, principalmente pelo fato da agua estar tinindo de gelada! A queda em si deve ter algo de 30m mas decerto tem mais, pois consiste numa larga e espaçosa laje de pedra q faz um arco pro alto. Portanto é de se supor q seu topo seja bem mais acima do trecho avistável por baixo, e é por este motivo q imediatamente vi mta semelhança dela com a famosa Cachu da Pedra Lisa, atração do Pq Municipal das Nascentes de Paranapiacaba.

Retomamos a pernada algo de 15min depois, voltando á trilha principal pelo mesmo caminho. A descida então suavizou um pouco, mas manteve-se sempre acompanhando o rio pela esquerda. Mas não demorou a picada cruza-lo e, saltando de pedra em pedra, prosseguir agora pela margem direita, novamente com o terreno apresentando-se mais e mais íngreme. Andavamos agora pela beirada da encosta serrana, tendo o rio agora caindo bem mais abaixo, cavando cânions e despencando em meio a pedras e mais pedras, de tds os tamanhos e formas possíveis.

Num destes trechos encachoeirados percebemos uma discreta ramificação q aparentemetne levava a outra suposta gde queda avistada ao nosso lado, as 12:40hrs. Claro q abandonamos a principal e nos pirulitamos pela mesma, embora o ultimo trecho de acesso ao rio fosse no mais puro vara-mato íngreme e espinhento, onde to removendo lascas da mão ate hj. Mas q valeu a pena, valeu. Estavamos numa enorme lajona na base de duas enormes pedras q obstruiam o curso normal do Quilombinho, obrigando-o a prosseguir seu rumo atraves de uma bonita cachoeira (pela direita) e atraves de uma  fenda nas rochas q resultava num pequeno cânion (pela esquerda). Pausa pra fotos e mais contemplação, claro! Com direito ate a “dança break” (é isso mesmo?) da Vivi e do Fabio, e exploração da queda por parte da Vevê e do nosso Mogli tupiniquim. E o Totó? Bem, ele se divertia indo e vindo pra td lugar, alem de fazer carinha de coitado, “know-how” infalível com o único intuito de filar alguma comida de quem tivesse próximo.

Nosso tempo de permanência nesta ultima cachu foi menor em virtude da necessidade de alcançar logo o fundo do vale e ficar despreocupado qto o tempo necessário pra retornar. Afinal, o pernoite ali sem mato (embora com cachorro) estiva totalmente fora de cogitação. Prosseguimos então nossa jornada serra abaixo, sempre pela obvia e evidente vereda q agora acompanhava à distancia o Quilombinho. Sempre bordejando a encosta, percebemos q a vereda foi se afastando lentamente do rio, agora despencando ruidosamente a nossa esquerda, bem abaixo, ate o mesmo ficar quase inaudível. Pensamos q estivéssemos no rumo errado mas não; a trilha, apesar de mais confusa e repleta de bifurcações, realmente aqui acompanha o rio à distancia, pois o vale vai se abrindo aos poucos afastando-se do curso dágua principal. O destaque do caminho ficou por conta de uma arvore quebrada pela metade, com o tronco formando um “pórtico natureba” sobre a trilha.

Mas não demorou ao terreno novamente suavizar e se aproximar outra vez do rio, agora mais calmo e manso. E as 13:30hrs finalmente alcançamos a foz do Quilombinho, ou seja, o local (assinalado por uma pequena cachu) onde o rio palmilhado despeja suas águas no majestuoso Rio Quilombo. O GPS do Fabio assinalava exatos 400m de altitude, confirmando o respeitavel desnível percorrido ate então, q por sinal totalizava 13km terrivelmente acidentados. Felizmente ali era um local q eu conhecia de ocasiões anteriores e, ao redor de um belo poção de águas estupidamente geladas, nos presenteamos com uma demorada pausa pra descanso, tchibum e lanche. Afinal, tds estavam cientes q teríamos quase 600m ascendentes ainda pela frente!
Eu, Ricardo, Fabio e Lucas honramos o q tínhamos no meio das calças mergulhando (rapidamente) na água gelada. Já as meninas sequer quiseram saber de tchibum naquelas águas q tavam ate deixando o osso doendo, embora a Vevê fosse contemplada com um quase mergulho “forçado” na volta. Na sequência, o Fabio se pirulitou pra fazer fotografias pelas redondezas – fosse da paisagem, das trocentas aranhas ou das sujeirinhas q os bichos deixavam ali na margem – enqto a Vivizita cozinhava um suculento miojo; enqto isso o resto apenas lagarteava nas rochas, curtindo aquele bucólico remanso do Quilombo. E o Totó? Bem, o espivetado pulguento não tirava o olho do miojo da Vivi, do sanduba q eu comia, do chocolate da Vevê, do salgado do Ricardo e da granola do Lucas. Td ao mesmo tempo! Na verdade o Totó era uma draga devoradora de qq coisa, um saco sem fundo q comeu insaciavelmente mais (e melhor) do q eu.

As 14:45hrs iniciamos o árduo e duro caminho da volta. Como ali era um local q conhecia, abandonamos a idéia de retornar pelo mesmo caminho. Voltariamos por uma picada conhecida como “Trilha do Rancho 71”, por conta da existência perto dali de um acampamento desativado de palmiteiros e caçadores, dos qual apenas restam lonas plasticas, algum lixo e vestígios de camas e mesas improvisados com paus e galhos. O momento lacrimejante da trip ficou por conta de um cãozinho q encontramos entocado nas pedras, á margem do rio. Fraco, sujo, magro e tremendo de frio, provavelmente estava perdido ou havia sido deixado ali por alguem. Nos bem q tentamos tirá-lo da toca, sem sucesso, mas parecia q não tinha forças nem pra isso. E se tentássemos removê-lo corríamos serio risco de sermos mordidos, pois o bicho tava assustado ou quiçá ferido, sei lá. E agora, José? Com o tempo rolando, não podíamos permitir q a noite nos surpreendesse ali por conta do infeliz animal. Resultado: deixamos alguma comida com ele de modo a q isso garantisse alguma energia extra ao bicho, embora eu mesmo ache q não dure ali naquelas condições mais q uma semana. Paciência.
Pois bem, a partir dali iniciou-se uma forte e íngreme subida quase vertical q imediatamente ensopou nossos corpos, fazendo o suor escorrer pela ponta do nariz num piscar de olhos. A paso lento, porém constante, fomos lentamente ganhando e ganhando altitude. A Vevê foi quem mais sentiu o tranco da subida, q parecia não ter fim, mas retada e decidida não entregou os ptos e subiu no seu proprio ritmo até o fim. No caminho, enqto as frestas da vegetação revelavam a neblina tipica de final de tarde envolvendo o vale e impossibilitando qq tentativa de visu, o Totó nos alertava de um intruso, ou melhor, uma intrusa bem no meio da trilha! Uma robusta e vistosa caninana descansava preguiçosamente no caminho, e prontamente ficou em posição de ataque assim q nos viu. Logicamente q desviamos da bichinha, de modo a não obrigá-la a sair de sua zona de conforto. Mas claro, somente após uma saraivada de fotos, q quiça devam ter deixado cega a lustrosa peçonhenta.

E assim, devagar e quase parando, alcançamos os 950m do alto da serra por volta das 16:30hrs, mais precisamente as margens das nascentes de onde iniciamos a descida de rio, já no Quilombinho. O som do arfar da respiração ofegante foi substituído pelo aprazivel marulhar do regato misturada à algazarra dos bugio, ao longes, nalgum lugar do fundo do vale. Após um breve descanso e de beber litros do precioso liquido retomamos a pernada em definitivo, pra finalmente desembocar na Estrada do Taquarussu as 17:45hrs, com tempo suficiente de apreciar o sol repousar lindamente atrás da serra, a oeste. Antes, porém, topamos com a esdruxula cena dum alemão marombado pronto pra fazer o numero dois, ao lado da trilha! Mas q assim nos viu fez cara de paisagem fingindo estar apreciando a paisagem, embora ao redor nao tivesse nada a nao ser mato. "Eu estarrrr sentado apenas apreciando a naturrrreza!", disse o sueco (como depois soubemos),  provavelmente segurando o esfincter ate onde sua ferrenha vontade européia aguentasse.

Chegamos em Paranapiacaba pontualmente as 6:20hrs, no exato momento em q tanto o manto negro da noite qto as brumas se debruçavam sobre a vila inglesa, trazendo a tiracolo aquele friozinho gostoso típico de borda de serra. Desabamos no outrora tradicional Bar da Zilda estranhando o pouco movimento, onde mandamos ver inconsequentemente brejas pra molhar a goela e salgados pra forrar o estômago. Mas não tardou pra descobrir o motivo do pouco movimento assim q chegou a conta, estupidamente alta! Meu, R$ 7 uma breja?! Isso é preço de Vila Madalena! Ah, vai se catar! Portanto fica a dica aqui de fugir dos preços abusivos da Zilda. E olha q a primeira breja chegou ruim de choca e o atendimento é uma bosta. Pronto, falei. Dali pra casa foram quase dois palitos, embalados nos sonhos de Morpheus, claro! E o Totó, vcs se perguntam? O ingrato sumiu tal qual apareceu na nossa vida..

E dessa forma economicamente nababesca terminamos mais uma peripécia singular pelo Vale do Quilombo. Um circuito q teve de td um pouco: desde  surpresas naturebas como trilha na mata, cachu imponente, banho de rio e até cobra no caminho; assim como particularidades pitorescas e esdruxulas, tal como cia canina, pés descalços, cachorro perdido, sueco cagão e preço de breja mega-inflacionado! Pois é, são estes pequenos detalhes q tornam um simplório e prosaico bate-volta na serra numa aventura única e inesquecível. E se for pra considerar o numero de afluentes menos conhecidos e distantes do Quilombo q ainda devem ser explorados, façanhas e proezas por Paranapiacaba estarão ainda garantidas por um bom tempo.

Jorge Soto
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http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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