Aquela manhã começara incerta, recheada de nuvens e até com finos respingos de garoa, mas ainda assim decidimos investir na nossa descida ao litoral afim de aproveitar aquele típico dia de verão de início de Fevereiro. Uma vez na Rod. Cônego Domênico Rangoni (SP-248), popularmente conhecida como “Piaçanguera-Guarujá “, bastou tocar indefinidamente rumo a Ilha de Sto Amaro. No carro, eu, Priscila, Sandro e o motora Nando observávamos a cumieira serrana da “Muralha” td encoberta, mas com eventuais frestas animadoras de céu azul.
Chegamos ao Monte Cabrão por volta das 8:30hr a procura de informações, já com o tempo dando perspectivas de melhoras. Zanzando pelas estreitas vielas q bordejam o morro em questão, encostamos finalmente no q parecia ser a “praça principal”, onde conversamos rapidamente com alguns tiozinhos. O lugar é um antigo vilarejo pescador situado as margens do Canal de Bertioga, cujo nome tem origem num tal “Zé das Cabras”, q costumava circular pelo local com seus caprinos. Com o êxodo de seus moradores jovens, o lugar hj desconhece a muvuca dos badalados balneários vizinhos e tem apenas um comercio básico, além duma ou outra pousada. Pra quem busca sossego é a pedida rústica certa, pois ali só vivem cerca de 100 famílias.
Em posse de infos mais claras, decidimos continuar de carro ao início da trilha ao invés de deixá-lo no vilarejo, conforme planejado originalmente. Foi um risco de decidimos correr, q fique bem claro. Tomamos então o asfalto sentido a Rio-Santos (SP-55), agora atentando pro lado esquerdo, onde supostamente teríamos nossa indefectível referência do começo da vereda. E assim, após rodar não mais q 5kms e passar pela enorme “Pedreira Max Brita”, chegamos ao nosso destino. Meio q escondida entre a vegetação estava a discreta entrada da Codesp rumo o pé da serra.
Deixamos então veículo encostado no mato e mandamos ver, já sentindo o ataque dos minúsculos sanguessugas alados da área. Uma placa avisando a entrada ser proibida e haver presença de segurança armada não bastou pra nos demover de nosso intuito. Sem sinal algum de qq espécie de seguranças, saltamos cuidadosamente o portão metálico de modo a não encostar no arame farpado. Uma vez no chão novamente bastou simplesmente tocar pelo precário caminho principal, sempre indo em direção ao pé da serra. O início da pernada é bem agradável, sempre em nível e cercada de abundante mata com fragrância intensa e inconfundível de lírios-do-brejo.
Uma vez no aberto temos um vislumbre do recorte escarpado da Serra do Mar espichando-se por td quadrante norte, separando o céu azul por uma fina camada de alva opacidade. Uma elétrica cobrinha no caminho redobra nossa atenção ao pisar, mesmo ainda palmilhando uma precária estrada q vai se estreitando cada vez mais conforme se avança. Mas logo após cruzar um aceiro de dutos da Petrobrás o caminho anda apenas mais um pouco pra findar numa clareira as margens do manso e cristalino Rio Trindade. Na clareira havia sinais de fogueira e até uma rústica grelha.
Aqui bem q buscamos sinais de trilha subindo o rio, sem sucesso. Dane-se, como havia q subi-lo mesmo enfiamos as botas na água até altura da canela e começamos a avançar sentido contrário ao da correnteza. E assim, ora chapinhando na margem ora pelo seu leito seco de pedras, fomos ganhando lentamente metros e metros do ribeirão com tranquilidade e muita facilidade. Mas qdo o rio começou a ficar mais agitado, com presença maior de corredeiras e cascatinhas, decidimos fazer um pit-stop num convidativo piscinão. Afinal, apesar da breve pernada até então o calor daquela manhã era forte e palpável, fazendo escorrer o suor pela ponta do nariz.
Após o tchibum continuamos nossa jornada rio acima, mas qual nossa surpresa ao encontrar uma óbvia vereda na margem esquerda do córrego. Claro q não desgrudamos dela pois era a trilha q nos passara despercebida no início e q basicamente acompanha um velho aqueduto ao largo de td trajeto. Assim, nossa pernada progrediu consideravelmente enqto o rio ao nosso lado se tornava cada vez mais e mais raivoso, repleto de cascatas e poções maiores. No caminho, a Mata Atlântica exuberante nem deu pra ser apreciada ao sermos obrigados a correr na picada devido a mesma estar coberta por um tapete de formigas num trecho.
Pois bem, foi qdo reparamos q começamos a ladear uma encosta bem íngreme (e o rio ficando mais distante, lááá embaixo) q surgiu uma rústica e precária pinguela de madeira colada á encosta q, em tese, deveria ajudar na ascensão. O troço, liso e repleto de tábuas soltas, não deve em nada àquelas pinguelas grudadas a penhascos montanhosos do Nepal ou Peru. Foi o trecho mais nervoso de td rolê devido a má conservação das mesmas, á exposição real q se tem com o penhasco e aos deslizamentos recentes na própria encosta, que obrigam a não só rasgar mato como escalaminhá-lo a meio caminho da pinguela.
Mas após este trecho o caminho aparentemente suaviza e nos leva ao outro lado do rio, onde um cabo de aço cruzando o mesmo auxilia a travessia do mesmo á margem oposta. Dali começa uma subida por meio duma escadaria de pedras tanto cavadas na rocha como dispostas de forma natural mesmo, até q se cruza uma rustica gerigonça metálica q separa pequenas pedras da água. E andando mais um pouco, já quase na cota dos 200m acima do nível do mar, a vereda em tese termina num maravilhoso poção esverdeado ao sopé duma quedinha, cuja tonalidade era lindamente realçada pela luminosidade do quase meio-dia. Na verdade era uma pequena barragem natural, q a Codesp aproveitou de represar artificialmente a água de modo a captá-la mediante o aqueduto supracitado. A cachoeira na verdade era minúscula, mas o contexto lhe conferia charme especial.
E ali ficamos nós, de boa e bem desencanados, curtindo aquele privilegiado balneário natureba, fosse nos refrescando no piscinão esmeralda fosse apenas admirando a vista bacana q se tem do vale, qdo empoleirados nos rochedos rente o rio. Ali podemos apreciar a bacia do Vale do Trindade se afunilando paralela e ruidosamente á do Rio Cabuçu, pra depois seguir seu rumo horizontal em direção ao mar. Enqto mastigávamos um lanche, logicamente q nossa imaginação se voltou em direção ao “rio acima” sugerindo boas pernadas vale adentro e, consequentemente, planalto acima. Mas estas pretensões ficam pruma outra ocasião.
Mas td q é bom dura pouco, e antes das 13hr retomamos o caminho de volta, revigorados e bastante satisfeitos por ter estado naquele recanto natureba, proibido e pouco visado. Logicamente q desta vez o bom senso nos calçou de voltar acompanhando o aqueduto o tempo td. Dito e feito, a trilha na verdade era bem batida e obvia o tempo td, pois terminou desembocando discretamente as margens do estradão principal, numa curva pra ser mais exato. Com tempo de sobra alcançamos o veículo q, felizmente, ainda estava intacto mas creio q nos finais de semana a coisa deva ser beeem diferente. Em tempo, voltamos bem cedo pq não desejávamos ficar presos no trânsito na subida de serra, no retorno derradeiro.
Retornamos então ao Monte Cabrão pra nos deliciar com uma deliciosa cerveja, isso no exato momento em q desabou uma chuva torrencial. Ali, conversando com os locais pudemos ter conhecimento de outros programas interessantes na região, tds devidamente anotados. Inclusive passeio de caiaque pelo canal de Bertioga ou mangue adentro pela bagatela de R$10!! Referente a cachuzinha do Rio Trindade não custa repetir: é programa breve e maroto q pode ser emendado com qq outro das redondezas, por exemplo, a Cachu do Cabuçu ou do Caetê, nos vales vizinhos. Vale lembrar q ali é área da Codesp e, teoricamente, proibida. Nós é que tivemos a sorte de não encontrar vivalma pois era dia de semana, mas q havia vestígios dos guardas havia. Mas aos finais de semana a coisa pode ser bem diferente pelo fluxo maior de “visitantes”. Logo, é questão de arriscar. Afinal, essa é a regra principal do mundo trilheiro e, como sempre, “quem não arrisca nunca petisca”.