A dica foi do Nando, q está sempre circulando pro litoral e já havia me dado o toque de explorar essa cachu a partir do rio q a acolhe. Na verdade, os contrafortes da Serra do Cubatão, uma enorme cordilheira q se espicha sentido nordeste, está repleta de quedas dágua visíveis de longe, mas aquela de fato é a q mais se destaca num enorme risco alvo rasgando a verdejante montanha serra abaixo. Analisando a carta de Riacho Gde percebe-se q não se trata do Rio Passareúva, conforme inicialmente acreditávamos, e sim da mistura dos rios Cágado e Marcolino, por sua vez acessíveis pela estrada q é interliga a Rod. Anchieta à Rod. Imigrantes.
Dessa forma zarpamos do Term. Jabaquara, apinhado de gente no horário de rush, num dos vários ônibus q descem pra Cubatão. No caso, um da viação Breda às 8hrs. Bem q tentamos ir numa das várias lotações clandestinas q fora da rodoviária são anunciadas no grito, mas o preço abusivo e horário incerto de partida pesaram bastante pra decidir ir no velho e bom latão. A breve viagem foi td embalada no mundo dos sonhos, já q o motora havia sido deixado de sobreaviso do nosso pto de desembarque. Nesse meio termo a paisagem cinza do concreto de Sampa deu lugar ao verde da mata salpicado pelos espelhos d´água das represas q antecedem a descida derradeira da serra.
Pois bem, não deu nem meia hr de viagem e saltamos no asfalto da Interligação, quase 3km antes de sua conexão com a Imigrantes. Pequenas frestas de céu azul espiavam timidamente em meio ao céu daquela manhã acinzentada com sinais de chuva a qq hora, mas independente disso estávamos resolutos a concluir nosso objetivo ainda naquele dia. Após andar um pouco pelo asfalto e identificar a enorme ponte sobre o Rio Marcolino, estudamos qual extremidade era melhor pra descer ao mesmo e daí chegamos a conclusão q a menor declividade se dava pelo trecho sentido litoral.
Indo então na dianteira fui varando mato sem mta dificuldade, me firmando na vegetação nos poucos trechos de desescalaminhada e num piscar de olhos já pisava no leito arenoso do largo e raso Rio Marcolino. Agora bastava tocar rio abaixo, seguido pelo meu colega. Na verdade este trecho no alto da serra é praticamente plano, sem declividade alguma. No entanto, nos demos conta q a caminhada seria no meio do q parecia um cânion cavado pelo rio, emparedados por íngremes encostas forradas de mato. Desde q não chovesse torrencialmente, perfeito.
E assim fomos avançando rio abaixo, ora chapinhando pela água até o joelho ora pelas margens arenosas sem mta dificuldade, desviando da mata tombada e dos enormes piscinões formados ao longo do trajeto. Nos vários remansos fluviais, pegadas enormes de antas significam a provável presença de carrapatos, q nos deixa meio ressabiados já q somos alérgicos a esses malditos insetos. Mas infelizmente a presença de lixo tb é constante, pneus, embalagens, garrafas e até calotas de carro denunciam dejetos lançados pelos motoristas e trazidos ate ali pela correnteza.
Apesar disso, a pernada nesta primeira meia hr é bem agradável e bastante desimpedida. No entanto, um tempo depois , o cânion começa a se estreitar cada vez mais represando enormes poções q nos obrigam a escalaminhar a encosta, ora varando mato ora nos firmando nas raízes e troncos dos paredões, de modo a desviar destes obstáculos. E assim sucessivamente o avanço prossegue nesse ritmo, chapinhando água, caminhando pela areia da margem ou escalando encostas.
Mas td q é bom dura pouco, pois apos uma hora naquele ritmo inipterrupto baixou um denso nevoeiro q conferiu ao cânion um aspecto q beirava o místico e ate lúgubre. Mto bonito. Não bastasse isso o mesmo foi se estreitando cada vez mais, nos emparedando agora com maciços verticais de pura rocha e com praias fluviais cada vez mais escassas. O som de uma enorme queda d´água corroborava q estávamos quase no fim de nossa jornada, mas é justamente este ultimo trecho o mais difícil e duro de transpor. Pq? Pelo simples fato q aqui houve necessidade de escalar as paredes do cânion feito lagartixas pra transpor os poços fundos q surgem na nossa frente, e os piscinões onde dava pé só foram vencidos com água até o pescoço, literalmente, nos obrigando a levar as mochilas de ataque na cabeça! Q tola esperança foi a minha de sair seco dali.
Mas após este trecho adrenado veio a bonança. Seguiu-se uma fácil escalaminhada pela margem pedregosa, desviando das cachus, onde o rio se afunilava em cânions menores e pronto, alcançamos o alto da Cachu Sem Nome, q apelidamos convenientemente de Marcolino por volta das 10hrs. Infelizmente a neblina não permitiu vislumbrar a bela e privilegiada paisagem q deve se descortinar dali, como td litoral da baixada assim como a própria Rod. Anchieta cortando o contraforte oposto da serra.
Debruçando-me nos lajedos do topo pude constatar a altura impressionante da cachu, algo em torno de 100m divididos em vários níveis e patamares. Foi ai q nossa idéia principal, q era de descer a cachu e retornar pelo Rio Cágado (q deságua no Marcolino logo abaixo) foi pro espaço, uma vez q desescalar aqueles enormes paredões verticais e besuntados de limo era tremendamente perigoso. Pela encosta tb sem chance, uma vez q tb eram verticalizadas e forradas de mata pouco espessa, alem de q não dispúnhamos de corda. Mas e daí? Estar ali já valia a pena.
Após descansar, beliscar algo e curtir o alto da cachu começamos a retornar pelo mesmo caminho de ida, as 10:30, embora nosso retorno foi forçado pela fina chuva q começou a cair engrossando cada vez mais. O q menos precisávamos naquela era ficar ilhados ou presos num cânion pelo aumento súbito de água no rio. E de fato, o aumento de volume foi logo sentido ao cruzar os remansos onde a água antes batera na canela agora batia na coxa! O curto trecho q foi cruzado com água ate o pescoço tivemos q varar mato pela encosta íngreme cheia de mato espinhento e bem escorregadia, algo q demandou um pouco de sangue frio e coordenação.
Novamente no rio, pra não retornar pelo mesmo caminho resolvemos tomar um pequeno afluente q desaguava no principal e, q segundo a carta, tb dava próximo da estrada. E la fomos nos, chapinhando sem mta dificuldade e com mais segurança neste tributário menor do Marcolino, cruzando inclusive com um belo remanso provido de um bucólico lago com cachu. A chuva, q havia dado trégua, voltava a cair sem dó. Não q isso fizesse diferença pois àquela altura já estávamos ensopados dos pés à cabeça.
A medida q serpenteávamos o sinuoso riachinho começamos a ouvir novamente sons de veículos vindos do asfalto, ruídos estes q passaram a servir de referencia de q direção tomar. Pois bem, após andar um tanto desembocamos num trecho onde faltavam apenas algo de 300m ate o asfalto. Antes de abandonar o rio lavamos os tênis e pés, repletos de areia, e começamos a varar-mato no sentido dos sons da estrada. Este trecho de rasgação de mato foi meio hard em virtude da abundância de taquarinhas espinhetas e mta bromélia cortante, mas devagar e sempre desembocamos no asfalto um pouco depois do meio-dia, totalmente sujos e cobertos de mato. Fim da exploração, mas não do perrengue.
Nos limpamos um pouco e foi aqui q começou a via-sacra da volta pelo asfalto. Andamos algo de 2km em meio a garoa ate a conexão da rodovia com a Imigrantes, onde pegamos a Estrada do Mirante, as 13hrs, onde esta em construção uma guarita do Nucleo Itatinga-Piloes, do Pq. Est. Serra do Mar. Pelas infos, tomando esta estrada daríamos em 5km nos Caminhos do Mar, onde tem um pto de bus pra retornar pra Sampa. Pois bem, la fomos nos em meio a chuva naquela interminável estrada de terra no meio do nada e lugar nenhum. Meia hora depois fomos barrados pela portaria da Usina Henry Bardem, q se interpunha ao nosso destino. Explicamos nossa intenção de cruzar ate o pto de bus da “Caminhos do Mar” aos seguranças (da empresa Vanguarda) , q se mantiveram ignorantes e irredutíveis em nos deixar passar. Resultado: voltamos td q andamos novamente ao asfalto pensando numa solução de como voltar pra Sampa.
As 14hrs estávamos de volta no asfalto e nos prostamos la pra pedir carona ou tentar embarcar algum bus, batendo o queixo de frio no meio da chuva fina q voltava a cair. Q perrengue! Diante de nossa aparência maltrapilha eu mesmo via pouca esperança de carona, uma vez q nem eu mesmo daria carona pruma dupla de cabeludos sujos, molhados e com cara de maloqueiros. Diante disso torcíamos prum ônibus parar, embora o Nando confiasse piamente q um caminhoneiro no máximo nos desse carona. E o tempo foi passando, passando e passando. Nada de carona, claro. Mas um pouco antes das 15hrs conseguimos embarcar num busão vindo de Praia Grande com destino ao ABC, após negociar um preço com motorista pra nos poupar alguns bons kms de pernada.
Saltamos um pouco depois em Riacho Grande, pequeno bairro as margens da Represa Billings, onde fomos pro terminal de bus trocar nossas vestes úmidas por outras mais secas e aconchegantes, comer algo e tomar uma cerveja. Na seqüência veio a via-crucis de entra-e-sai de bus. Primeiro o Rudge Ramos (nº 29) q nos largou em Ferrazopolis, e depois outro q nos deixou no Jabaquara. Desnecessário dizer q pegamos td transito de final do dia e q so chegamos a nossas respectivas residências após 3hrs intermináveis de rush. Um inferno.
Resumindo, a região da Serra de Cubatão as margens da Rod. Imigrantes vislumbra fantásticas perspectivas de bons roteiros de pernadas e circuitos pra vários gostos. Essa foi a nossa primeira incursão e mal arranhamos o lugar, alem do Rio Marcolino há o Ribeirão Cágado e o próprio Rio Passareúva pra ainda explorar, entre varias outras alternativas e variantes.
Entretanto, há ainda de se pensar numa forma mais apropriada de resgate ou retorno, uma vez q não é sempre q se pode contar com tempo de sobra ao confiar na sorte de caronas pra vencer as gdes distancias da região. Mas quiçá isso nos garanta uma certeza absoluta: com tantas dificuldades de acesso, a paz e as belezas desse pequeno paraíso da Serra do Mar estará sempre preservada.
Texto e Fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos