A chuva, o Cisne Negro, o Garrafão e o Thundertank

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Feriadão de carnaval pra montanhistas que não gostam de carnaval, de ficar em casa olhando essa chuva desgraçada acabar com a tranqüilidade na vida de muitos, modificar a paisagem da natureza em semanas (mudanças que normalmente levariam centenas ou milhares de anos), ficar em casa na deprê pra quê? Mantiqueira neles!

A Chuva


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A chuva fez muitas vítimas na minha cidade natal, Rio de Janeiro. Mas acabamos constatando que as chuvas anormais deste verão 2010-2011 não modificaram paisagem de montanhas só na região serrana do Rio, sem querer presenciamos outro local cravado no interior da Serra da Mantiqueira que sofreu provavelmente tantas modificações quanto o Rio sofreu com uma grande diferença, na cidade em questão, os pedaços colossais de montanhas que cederam não acertaram zonas povoadas.


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A cidade em questão foi Alagoa, que fica nas proximidades de Itamonte e Aiuruoca, dentro da Serra da Mantiqueira. Mais precisamente cerca de 20 kms fora da cidade, ganhando altitude nas estradas de terra fora da zona metropolitana do pequeno município mineiro. Explico como tudo aconteceu…


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A viagem começou com pretensões bem legais, subir montanhas sem registro de cume aqui no Brasil por muito tempo. Quais são? Não interessa! Uma vez que não conseguimos encontrar o acesso, fica guardado para ser divulgado quando acontecer, já que um acesso mais longo conhecemos, mas resolvemos testar um outro. Da próxima vez, daqui há uns três meses, faremos estas montanhas e outras então será devidamente divulgado aqui e nos respectivos blogs.


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Enfim, acabamos conhecendo um cara gente boa, sua esposa e duas filhas divertidas, e fomos convidados a compartilhar de um chá quente (estávamos molhados depois de pular arame farpado pra tentar encontrar a trilha) e uma conversa. Depois de um tempo pedimos permissão pra fazer acampamento dentro da propriedade e recebemos a permissão. Só que acabou não rolando por causa da chuva ininterrupta. Acabamos bivacando na varanda da casa eu e Victor, Tácio e Paulinha dormiram dentro do carro mesmo.



A consequência das chuvas em Alagoa/MG

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Choveu a noite toda sem parar. Chuvinha fraca, mas que molha até a dignidade do homem, encharca o solo e só dá dor de cabeça. Paciência. Acordamos com chuva, tomamos café da manhã com chuva e decidimos mudar os planos por causa disso. Pra não voltar pra casa sem fazer nada resolvemos dar uma passada em outra montanha mais tranqüila, onde poderíamos fazer cume mesmo com chuva, e depois disso se o tempo ajudasse, queríamos encontrar rota para outra montanha mais próxima dali.


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O Cisne Negro (interna!)


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De dualidade que impressiona, presença constante nas conversas de paradas sob os gotejos de chuva em um bosque dentro de propriedade cercada por arame farpado recém colocado.


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Este cisne é bom com vôos, pois passou por cima do obstáculo sem problemas, chegando onde nenhum cisne jamais esteve, e retornando à sua comunidade de aves com novidades pouco encorajadoras, contando o infortúnio que passou naquelas picadas molhadas e sem esperança.


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Infelizmente ele não encontrou o caminho tão esperado para o grande, enorme vizinho de peitos e ombros cabeludos em pelo verde como de extraterrestres oriundos de Arquivos-X. Voltou pra seu pequeno lago desolado e com sentimento de ter falhado com seus companheiros. Entretanto, passou pelos quatro aventureiros que ali estavam, os aceitou em seu meio e resolveu acompanha-los em pensamento por toda a jornada de volta a cidade dos vinte e um milhões, feita de concreto, poluição, desonestidade e violência. Tudo que lhe restou fazer no resto daquele dia de céus cinzentos foi sentar-se em seu ninho aconchegante, e papear com sua vizinha a galinha, que tentava aquecer seu ovo solitária naquele buraco do carvalho cinqüentenário, perto e bem perto de dois pintinhos já crescidos.


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Nessa fronteira tríplice carioca, mineira e paulista acontece de tudo viu!


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O Garrafão


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Decisão tomada, depois da caminhada de reconhecimento nos despedimos da família e voltamos pra estrada ainda sob chuva. A idéia era chegar ao município de Alagoa e subir o Pico do Garrafão (ou Pico de Sto Agostinho) e tentar descobrir caminho para uma mais, cujo nome certamente permanecerá em segredo. 🙂


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Depois de quase duas horas na estrada e com tempo um pouco promissor até, chegamos na estradinha de terra que liga a zona metropolitana da diminuta cidade (segundo o censo realizado pelo IBGE em 2010 a cidade só tem 2709 habitantes!) e a paisagem que tivemos não foi nada agradável.


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As montanhas que cercam esta e outras cidades das redondezas sofreram drasticamente com as chuvas que destruíram a zona serrana no Rio de Janeiro. A sorte é que não existe lá uma concentração populacional tão grande quanto existe no solo carioca. É sério, a visão impressiona…


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Passamos por tudo aquilo e conseguimos chegar até a fazenda isolada no meio das montanhas do Sr Odir. Estacionamos o carro e começamos a caminhar sem chuva, sem vento, e com uma temperatura até agradável de início. O primeiro tramo ganha altitude rapidamente, o corpo esquenta e a sede pega. Fiquei um pouco pra trás, ainda fora de forma e sofrendo com o calor. Demorei pra me aproximar de novo do grupo, já na metade do caminho até o cume.


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Bem, depois que o corpo chegou a harmonia com a montanha e com o tempo que começou a nos molhar um pouco de novo, consegui manter a passada e encostar fazendo novamente parte do grupo, já a cerca de 2.100 metros. No momento que chegamos ao cume a chuva já caía como no dia anterior, sem parar mas não forte, e como essa perquira de chuva molha viu, muito pro meu gosto…


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Medição: Encontrei a altitude de 2.382 metros no meu gps, e o Tácio encontrou se não me engano 2.394 no dele. Consideravelmente mais altas do que a do IBGE que determina a altitude nominal de 2.359 metros pro pico. Pena que não pude ver a montanha, mas hoje olhando as fotos do Tácio do ano passado achei muito bonita!



Descida do cume, molhados

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Esta montanha é praticamente esquecida pela comunidade de montanhistas brasileiros, conheço algumas pessoas que subiram como o Felipe Dias (mora ali pertinho e conhece a Mantiqueira de ponta a ponta), o Tácio com a Paulinha no ano passado, sei que o Soto já foi lá com seus amigos e se não me engano o Lacaze também foi. Fora estes e salvo conduto alguém que não citei aqui, só locais freqüentam a montanha.


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Mais uma que eu precisava culminar, estava na minha lista de objetivos para este ano e acabei cumprindo antes da temporada oficial de montanhismo aqui no Brasil, que só começa no final de maio. “Adiantei o serviço!”. Culminar a montanha foi inédito pra mim e pro Victor, pro Tácio e pra Paulinha foi repetição.


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O Thundertank


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O carro do Tácio surpreendeu a todos nesse feriadão de carnaval, não só eu, o Victor e a Paulinha, o próprio Tácio viu que com esse Palio Weekend o buraco é mais embaixo!


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Como eu disse antes, no caminho de ida passamos pela estrada que dá acesso a Serra do Papagaio e a Serra de Sto Agostinho, nosso objetivo alternativo pra viagem. Quando lá chegamos tivemos uma visão apocalíptica impressionante. Pedaços inteiros de montanha desceram cobrindo estradas e levando tudo que tinha na frente. Abrindo verdadeiras valas nas encostas das montanhas da área.


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Não eram pedacinhos não, as valas abertas tinham de 20 a 50 metros de largura, e desciam as montanhas desde as partes mais altas até o vale que corta a serra cerca de 300 metros verticais abaixo, então dá pra ter uma idéia de quanta tonelada de barro e árvores vieram abaixo ali…Provavelmente centenas de milhares de toneladas de entulho.


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Na fazenda do Sr Odir ficamos sabendo que ficaram isolados lá por 18 dias, receberam comida de helicóptero até que a prefeitura conseguisse liberar a estrada de metros de entulho. Em alguns pontos, analisando as laterais da estrada, dava pra ver que o barro acumulado ali tinha as vezes até cerca de seis metros de altura! Incrível…


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Passamos sem problemas na ida, mas tinha um trecho de uns vinte metros de estrada em leve curva que preocupou mesmo na ida, quando a chuva já tinha parado. Estava bem lamacento e o risco de atolar ali era muito grande. Fomos assim mesmo e o carro passou sem titubear. Mas na volta, quando descemos da montanha pegando chuva mais forte todos calados pensavam a mesma coisa: “Será que o carro vai passar daquele ponto?”.


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Chegamos lá e resolvemos filmar o resultado. Já tinha parado de chover de novo e saiu um vídeo mesmo que mal filmado (fiquei olhando pro carro e não pra câmera! Kkk) mostrou o bom desempenho do carro que, mesmo sambando um pouco, passou fácil o lamaçal! Comemoramos bastante e o carro acabou ganhando o apelido de thundertank! Então fiz esse vídeo comemorativo abaixo, não deixe de ver!



O Thundertank na mantiqueira!

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Bem, acho que agora deu pra entender o título do texto certo?


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Depois disso tudo voltamos pra São Paulo sem muitas esperanças de melhora no tempo. Acabamos voltando antes da hora, mas isso foi até bom pois escapamos do congestionamento de hoje (08.03.2011) que provavelmente será bem complicado.


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Espero que tenham gostado e não se preocupem se não entenderem algumas partes, são na grande maioria piadas internas hehehe


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Abrazos secos a todos!


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Parofes

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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