A NOTÍCIA
 , ,  ,A Anunciada expedição dos 5 membros da Associação de Horizontes Juveniles ao cume do Cerro Colorado, foi executada com duplo êxito. Pela primeira vez o homem pisa o cume desta montanha depois de vinte anos de tentativas frustradas, sendo a maior parte das investidas feitas pelo NE e as que o atacaram pelo S somente conseguiram chegar a uma maior altitude. Apesar do Cerro Colorado ter altura de apenas 5400 metros (medições atuais o classificam como 5150m), pouco mais baixo que alguns de seus vizinhos, apresenta obstáculos e dificuldades que sucessivamente derrotaram conhecidos especialistas e graduados nos esportes de montanha.
 , ,  ,A empreitada não foi entregue a própria sorte e teve planejamento rigoroso desde o princípio quando Pablo Giannacari e Alejandro Piménides realizaram em novembro último uma investida de exploração que logrou alcançar os 5000 metros pela rota de Stepanek, reconhecendo e demarcando as passagens mais propícias para o êxito no ataque final. Assim, as encostas rochosas do Colorado que se defendem de seus atacantes com imensas pranchas de gelo, finalmente são vencidas por uma jovem expedição pertencente a uma entidade que vem ampliando a sua atuação no mais mendocino dos esportes: o andinismo.
OS EXPEDICIONÁRIOS
 , ,  ,A expedição foi organizada por Pedro Ugalde, tendo Pablo Giannacari como navegador e os escaladores Félix Fellinger, Segundo Mendoza e Luis Meteguiada. Partiram de Mendoza num automóvel a 1:00 hora da madrugada de 6 de janeiro e depois de 5 horas de viagem alcançaram Los Vallecitos, e depois duma marcha de noventa minutos chegavam ao refúgio San Bernardo, de onde Luis Meteguiada retornou com leve indisposição. Terminados os preparativos partiram as 9:10 hs pela Quebrada Los Vallecitos, chegando as 11:30 hs em sua desembocadura, ao sul do Cerro Colorado onde surgem as primeiras dificuldades para cruzar um dos braços do Rio Branco que nesta época apresenta grande volume d´água.
O ACAMPAMENTO BASE
 , ,  ,Vencendo as dificuldades topográficas sob o peso das mochilas, os expedicionários começam a subir pela quebrada que se bifurca na cota 3800 metros, seguindo para Portezuelo Nevado ao sul e na direção oposta o Gran Circo de gelo que se estende a SE do Cerro Colorado. Escalando as grandes morenas ao norte conseguiram alcançar os 4100 metros as 18:30 horas quando instalaram o acampamento base das operações.
A ESCALADA
 , ,  ,As 9 horas do dia 7 iniciaram a escalada. Durante duas horas e meia lutaram contra as grandes morenas e lagunas de origem glaciar com até 800 metros quadrados de superfície. As 11:40 horas atingiram o pé da imensa parede de gelo que ocupa toda a face SE da montanha, 4400m até os 5300m. Havia se iniciado a escalada sobre o gelo. Nestas passagens os escaladores usaram toda sua experiência e técnica para atravessar trechos do perigoso gelo cristalino. Mendoza e Fellinger sofreram uma queda vertiginosa que lhes custou grande parte do avanço que haviam alcançado. Por sorte conseguiram frear a queda com suas piquetas.
 , ,  ,As 18 horas, Giannacari e Mendoza alcançaram os 5300 metros, onde aguardaram a chegada de Ugalde e Fellinger que escalavam com muita dificuldade algumas formações de penitentes.
O ATAQUE FINAL
 , ,  ,A visão do cume erguendo-se a SO é impressionante e faltam apenas 100 metros de escalada. É uma formação de paredes verticais aparentemente incontornáveis. O navegador Giannacari observa o cume por mais de 50 minutos a procura de uma rota viável. Enfim iniciou o ataque depois de estudar três possíveis rotas de acesso.
 , ,  ,Ugalde e Giannacari seguiram deixando para trás os escaladores Mendoza e Fellinger que não se julgaram preparados para o esforço necessário nesta escalada em rocha. A pouca idade deixou abalado o psicológico dos rapazes que já se encontravam fisicamente esgotados e não ousaram superar a cota 5300m.
 , ,  ,Giannacari e Ugaldi escalaram por uma chaminé de dois metros de largura até alcançar uma pequena plataforma quando aconteceu um desmoronamento. Uma pedra atingiu Giannacari na cabeça que tratou de agarrar-se a uma saliência da cornija rochosa. A oportuna intervenção de Ugalde impediu a queda fatal.
 , ,  ,Uma bordadura de gelo lhes permitiu se acomodar na base do último paredão de aproximadamente 30 metros, porém para escalá-lo seriam necessárias ainda várias horas de árduo esforço, apesar de sua altura aparentemente insignificante. Circularam o cume por uma cornija muito exposta e tateando com os pés encontraram uma canaleta. Começava a escalada do último trecho, o mais difícil, com trechos rigorosamente verticais. A exposta franja de gelo era o único acesso e os rapazes já pensaram em desistir, amedrontados, mas com novo esforço venceram também este derradeiro obstáculo. As 19:45 horas os dois escaladores atingiram finalmente o cume, um abraço e um aperto de mãos selou a tão desejada vitória.
NO CUME
 , ,  ,No cume não descobriram nenhum sinal de anterior passagem humana, então se entregaram a doce tarefa de documentar a conquista com fotografias onde se identificam pontos de referência ao fundo. Construindo uma pirca de pedras onde alojaram uma caixa de metal contendo uma flâmula da Associação de Educação Horizontes Juveniles, três cartas (a primeira identificando os 5 expedicionários, a segunda apenas os que fizeram cume e uma mensagem assinada pelas autoridades de H. Juveniles) e uma saudação do Club Acevedo y Shaw para os próximos que alcançarem aquele cume.
 , ,  ,Do cume fica visível todos os outros cumes do Cordón del Plata com exceção do Cerro El Salto que é encoberto pelo Cerro Santa Elena. Adiante estão visíveis o Aconcágua, a pirâmide final do Tupungato, o Florentino Ameghino, o Mercedário, o Ramada e a maior parte dos picos que formam a cordilheira central.
O RETORNO
 , ,  ,As 20:10 horas se iniciou a descida e uma hora depois os quatro escaladores se reencontraram. Aproveitando as excepcionais condições apresentados por determinados setores de gelo, conseguiram descer com extrema rapidez e a meia noite já se encontravam protegidos no acampamento base.
 , ,  ,O dia 8 foi empregado para o retorno a Potrerillos, voltando a Mendoza no dia seguinte onde encontraram uma entusiástica recepção. Os expedicionários desejam ainda tornar pública sua gratidão com todas as pessoas que colaboraram para o êxito desta empreitada.
Texto de Felix Fellinger
Publicado no Diário de los Andes – 11 de janeiro de 1943
Tradução livre de Julio César Fiori