A Estrada do Mirante

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Dos setores menos visitados (e conhecidos) da Serra do Mogi (Paranapiacaba), o q guarda a Estrada do Mirante foi o q sempre ignorei por dois motivos: julgá-lo equivocadamente desinteressante, apenas pra dar apoio à outras empreitadas como, por ex, a subida de serra pela “Trilha do Padre”; e por se situar em área particular e, em tese, de acesso proibido. Entretanto, nada impediu neste ultimo domingo alguns desvios de rota q contornassem estes obstáculos de delimitação de propriedade, p/ assim alcançar esta via esquecida, q durante muito tempo levou num pitoresco mirante na beirada de serra, q por sua vez descortina tanto um belo visu da Baixada Santista e Cubatão como dos contrafortes da Serra do Quilombo e do Morrão. Um programinha curto e sussa q pode ser emendado com tantos outros pela região num domingo de sol e tempo limpo.

Com o programa original sendo subitamente cancelado por uma série de motivos (bestas), imediatamente lancei mão da visitação à Estrada do Mirante, roteiro breve e sussa prum dia frio de inverno q tinha apenas uma finalidade: não ficar mofando em casa. Havia, no entanto, um porém q dizia respeito ao seu acesso, pois a trip proposta se situava onde era o antigo Dallaneze Park, um velho clube de campo. No lugar, agora existe um enorme pátio da Wolksvagen, sendo portanto propriedade particular e seu acesso direto, proibido. Isto constatei nas ultimas vezes q lá estive, coisa de meses atrás. Pra complicar mais, por conta do furto de veículos a segurança do lugar fora reforçada, inclusive com guardas terceirizados (armados e ignorantes) circulando pela mata do entorno. Isso já era suficiente pra diluir td e qq esperança de adentrar na região de forma “clandestina”, mesmo com os boatos duma série de picadas nascendo no Bairro de Campo Grand (logo ao lado) dando na tal almejada via. Independente dessa suposta via mais segura, eu já tinha “meu” meio de acesso à dita cuja: tomando parte da trilha da Cachu da Fumaça e subindo o Rio das Areias até interceptar o pontilhão q passa sob a referida Estrada. Pronto, resolvido. Só havia q cruzar os dedos e torcer pra não tropeçar no caminho com os tais jagunços da propriedade.


Dessa forma eu, a Vivi e a Carol saltamos as 8:30hrs na longa via asfaltada situada entre Rio Gde da Serra e Paranapiacaba, tendo como únicas testemunhas o olhar fumegante das chaminés da Solvay, ao norte. Aquela manhã de domingo de inverno estava terrivelmente fria e parcialmente encoberta, de fato bem mais propicia a manter os meros mortais presos ao aconchego do berço naquele horário avançado matinal. Mas como trilheiro esta longe de ser considerado um mero mortal, mal pisamos no asfalto e imediatamente nos vimos enfiando o pé na água (geladissima) das trocentas poças q pontilham o comecinho da conhecida vereda q leva à cachu da Fumaça. Apesar de ser inverno e ter havido relativa estiagem na região, esta picada parece q nunca esta totalmente seca pq é inevitável sair dela com os pés molhados ou enlameados.


Pois bem, adentrando pro sul cada vez mais por aquela velha picada já palmilhada vezes sem conta, mal passamos sob o zunido eletrostático das torres de alta tensão q a vereda mergulhou na mata encharcada de orvalho, perdendo altitude imperceptivelmente. Conforme avançávamos íamos colocando antigos (e novos) causos em dia, principalmente babados referentes ás meninas. O fato é q o tempo passou voando e mal nos demos conta qdo interceptamos o largo e raso Rio das Areias, as 9:10hrs, q corria mansamente em seu sinuoso trajeto sentido sudoeste, pra depois despencar espetacularmente serra abaixo na ilustríssima Cachu da Fumaça.
Foi aqui q abandonamos a picada principal e, após alguns ajustes aqui e ali, começamos a subir o rio propriamente dito, sem gde dificuldade. Esta subida plena do rio já descrevi detalhadamente noutra aventurinha dominical, portanto aqui vou me restringir as particularidades desta ocasião em especifico. Pois bem, o avanço pelos sinuosos meandros deste simpático rio foi feito do modo mais pratico possível, ora pelo seu leito pedregoso seco, atraves dos onipresentes bancos de areio na margem ou simplesmente chapinhando pela água fria e gelada, pra total desgosto de quem quisesse manter os pés secos e úmidos durante mto tempo.


E lá fomos nós, chapinhando os tênis e botas rio acima. Os destaques do trajeto ficaram por conta das inúmeras pegadas de pequenos mamíferos e aves nos bancos de areia das prainhas fluviais, do aspecto místico q a neblina impunha aos contornos sinuosos do ribeirão, das elevadas encostas dos barrancos q nalguns trechos mais lembravam pequenos cânions e das onipresentes piscinas de água translúcida q surgiam a cada curva do rio. O único obstáculo de fato durante esta subida sussa de rio foi um enorme gigante da floresta tombado bem no meio do rio e q, por ter carregado metade da vegetação e do barranco junto, teve q ser transposto pelo lado menos coberto de mata, ou seja, pela encosta esquerda, onde alias havia um vestígio de passagem recente.


O tempo passou no mesmo compasso em q o rio estreitou-se a pto de tornar-se um pequeno ribeirão cercado de mata. E as 10:30hrs eis q finalmente interceptamos o pequeno pontilhão q passa neste comecinho da Estrada do Mirante. Peço gentilmente pras meninas pararem de tagarelar (ou ao menos q o fizessem em tom mais baixo!) e, sorrateiramente, abandonamos o rio pra então pisar definitivamente na almejada via e tocar calmamente por ela pro sul, rumo a beirada da serra. O pátio da Wolks estava a apenas 500m à nossa esquerda, mas a gente sensatamente se pirulitou no sentido oposto, torcendo pras brumas remanescentes encobrirem nossa presença do campo de visão de uma guarita localizada no alto de um morro, ligeiramente próximo. “Com esta neblina os caras não vão enxergar nem o próprio nariz!”, pensei. Mas de qq maneira td cuidado era pouco, tanto q mantivemos nossa conversa em baixo volume. Tom baixo q se manteve durante td percurso, ainda mais qdo passamos por uma placa repleta de chumbo de espingarda!


Na sequencia seguiu-se uma pernada tranqüila através de uma sinuosa e precaria estrada q percorria o abaulado terreno deste setor planáltico q antecede a borda serrana, sempre tendo audível o rumorejo de algum borbulhante correguinho próximo. A via, por sua vez, alternada trechos terrivelmente enlameados com outros firmes e compactos, compostos de uma areia de tonalidade bem clara, parecendo areia. Visivelmente caminhávamos por terreno descampado e aberto, embora cercado de mata em volta, mas o fato de estarmos envoltos pelo véu opaco das brumas causava uma sutil impressão de estarmos em mata fechada pela ausência de luz natural direta. A floresta de fato veio logo depois, onde o alto arvoredo perdia suas copas no manto claro do brumado, e foi aqui onde tropeçamos com uma vereda emergindo pela direita, as 10:50hrs. “Olha aqui a saída da ´Trilha do Padre`!”, apontei pra Vivi, lembrando-a de uma trip feita a muito tempo na qual subimos da foz do Rio Mogi até ali, galgando cristas e encostas sucessivas do paredão serrano. “É ela mesmo?”, espantou-se Vivi. “Nossa, nem lembrava disso!”, emendou nossa avoada amiga.


Mas finalmente as 11hrs nossa jornada chegou ao fim, qdo a estrada alcançou um pequeno patamar concretado onde não havia mais continuidade da mesma, ao mesmo tempo em q as vistas se ampliaram mesmo q parcialmente encoberta de brumas. Uma enorme torre (radio? telefonia celular?) domina o lugar, apontando altivamente prum céu de nebulosidade clara, ao lado do q restou de um velho quiosque de palha, confirmando q o lugar já fora outrora um tradicional pto turistico local. Um discreto corrimão de madeira disposto na beirada da serra separa aquele belo mirante dos abismos e penhascos do Vale do Rio Mogi, logo adiante, cobertos de verdejante e espessa mata. A paisagem aqui deve ser realmente deslumbrante, mas o mesmo tempo q nos encobriu em nossa “molecagem” perante a segurança do lugar agora tb impossibilita largas e generosas vistas. Ainda assim, com algum esforço é possível avistar o escarpado recorte silhuetado da Serra do Quilombo e do Morrão sendo cortados paralelamente pela linha férrea do Funicular, logo adiante, assim como a geometria incofundivel da Baixada Santista e das fumegantes fabricas de Cubatão, a sudeste.


Sem gdes vistas mas satisfeitos pelo simples fato de estar ali, nos sentamos no largo piso concretado pra dar inicio ao ritual da comilança. Foi ai q a Vivi (ao “regar a moita”) parece q tropeçou num sensor de movimento próximo à torre pois imediatamente soou o estridente som de um alarme. “Fudeu! Já já os caras vão aparecer aqui ver o q aconteceu!”, pensamos quase em unissono. “Dane-se! Ao menos vamos ter carona pra sair daqui!”, completou a Vivi, pouco ligando pra barulheira q havia provocado. Mas logo o alarme parou de tocar e a gente aguardou, aguardou e aguardou. E nada. Nada de ninguem vir checar o q havia ocorrido. E assim continuamos nossa comilança, despreocupados e sem pressa nenhuma.


La pelas 11:45hrs retomamos o caminho de volta, refazendo o mesmo trajeto pela estrada so q em sentido contrário. Estavamos ressolutos a sair pela entrada principal na cara-de-pau e não pelo rio, q foi apenas um meio de adentrar ali sem passar pelos guardinhas da Wolks, q certamente barrariam nosso acesso. Mas como já havíamos concluído a trip proposta o q viesse a partir dali já era lucro. No máximo seriamos gentilmente escoltados até a saída, como nas outras vezes em q ali estivera. E la fomos nos, já preparando a desculpa esfarrapada do motivo de estarmos ali, propriedade particular e sem permissão, qdo fossemos interceptados pelos seguranças do lugar, algo q agora seria inevitável. “Vamos dizer q estávamos perdidos e acabamos saindo por ali!”, falei. “Não, vamos falar q íamos pra Fumaça e tomamos a trilha errada!”, sugeriu a Vivi. “Cala a boca td mundo! Deixa td comigo q minha lábia é melhor!”, finalizou a Carol, com uma confiança q deixaria qq palestrante de auto-ajuda orgulhoso.


O fato é q td aquela preocupação e queima de neurônios qto a desculpa q seria dada havia sido totalmente desnecesaria. Mal chegamos no pátio da Wolks vimos q ele havia sido transformado provisoriamente num estacionamento pros veículos da galera q tava indo prestigiar o famosérrimo “Festival de Inverno de Paranapiacaba”!!! Como não havia lembrado disso! Senpre q tem algum gde evento em Paranapiacaba o ex-Dallanezze Park vira mega estacionamento pra turistada desafogar o transito (já inexistente) na vila inglesa! E assim, desencanados e despreocupados totalmente, nos misturamos a turistada q descia dos seus veículos particulares e embarcava nos busos e vans disponibilizados pela prefeitura de Sto André pra levar até a vila inglesa.


Mal deixamos os portões do Dallaneze Park e nos prostramos no pto de bus logo adiante dele, as 12:30hrs. Não deu nem 10min embarcamos no latão q num piscar de olhos nos deixou em Rio Gde da Serra. Pra variar e manter a tradição, antes de embarcar no trem pra Sampa encostamos na padoca Barcelona pra bebemorar com brejas a empreitada, mesmo estando uma friaca desgraçada q nos obrigou a agasalhar novamente e secar rapidamente os pés! Deixamos Rio Gde da Serra trancando as pernaa pra então retornar á “Terra da Garoa” meados da tarde, ainda com tempo de sobra pra terminar o domingão com qq outro programa caseiro rotineiro. No meu caso, assistindo filmes até tarde da noite.

Pois então fica a dica de visitação da Estrada do Mirante, mas desde já bem avisado q o lugar continua sendo propriedade particular e, não havendo gdes festejos na vila inglesa, seu acesso é terminantemente proibido. E q tem guardas circulando armados ou com cachorros em seu interior, algo q eu já mesmo constatei noutra ocasião. Como já mencionei anteriormente, o acesso ao lugar deve se valer dos subterfugios supracitados q contornem (e evitem) a entrada principal do Dallaneze Park, seja pelo Rio das Areias ou pela suposta picada q sai logo ao lado, pelo Bairro Grande. Independente de acessibilidade, a região do entorno da Estrada do Mirante merece nova e detalhada visitação. Por se tratar de uma borda de planalto é certo q pelas redondezas existam mais vestígios de picadas interessantes e, principalmente, cachoeiras desconhecidas despencando serra abaixo. Mas pelos riscos inerentes de qq entrada clandestina em lugar proibido, é provavel q estas explorações sejam raras e até, inexistentes. Exceto, claro, pros legítimos e autênticos andarilhos, q fazem deste pequeno detalhe apenas mais um tempero pruma adrenada e emocionante aventurinha dominical.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

 

 

 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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