A escalada mostra um crescimento na última década em todo o Brasil. A prática em paredes artificiais é um exemplo desse aumento. Porém, como não havia uma pesquisa que mostrasse claramente essa expansão, foi realizada uma investigação, cujos dados são apresentados aqui.
Responderam ao questionário 28 espaços de escalada indoor do Estado de São Paulo, sendo:
Ginásios de escalada | 21 |
Paredes em academias de ginástica | 3 |
Paredes em Universidades públicas e entidades sociais | 4 |
A inauguração de 15, das 28 paredes, ocorreu a partir de 2016, ano em que foi oficializada a escalada como modalidade olímpica, o que mostra a relevância da escalada competitiva ser mostrada ao público no crescimento do esporte. Destaca-se também que 2 paredes em Universidades públicas, 1 parede em academia de ginástica e os 2 primeiros ginásios foram construídos na década de 1990, sendo as pioneiras e de alguma forma influenciando no desenvolvimento do esporte no Estado.
A montagem de paredes de escalada de boulder e de top rope/guiada ocorre em 60% dos espaços, sendo que outros 35% têm apenas paredes de boulder e 5% apenas paredes para top rope/guiada.
O spraywall, isto é, agarras colocadas na parede, sem necessariamente ter vias montadas nelas, para que os escaladores tenham autonomia na escolha dos movimentos, existe em 85% dos espaços de escalada, mostrando a importância dos espaços em dar liberdades a quem escala.
O tamanho médio das paredes ficou em 133m², porém há discrepância grande, com locais com cerca de 10m², até grandes ginásios com mais de 600m² de paredes de escalada.
O número de agarras total das paredes chegou a 90000, e, em média, somando as agarras das paredes com o estoque ficou em 3000. Novamente as diferenças são grandes entre as maiores com até 50000 e as menores com aproximadamente 120. De todo modo, as agarras são um capital decisivo na montagem de um espaço de escalada, motivo pelo qual as empresas que as produzem estão se aperfeiçoando a cada dia no país.
Custos para praticar:
Média da mensalidade | R$ 186,00 |
Média da diária avulsa | R$ 39,00 |
A quantidade média de frequentadores é 150 clientes, por espaço, mostrando um público crescente na escalada indoor.
Encontrou-se que 64% dos espaços oferecem escalada em rocha aos clientes e que 78% desenvolvem algum tipo de campeonato ou festival em suas instalações. Há em 42% dos locais, frequentadores que são filiados à ABEE, isto é, dedicam-se aos campeonatos oficiais de escalada, por outro lado, 58% não tem esses atletas, talvez pelo porte do espaço, ou pelo maior interesse em desenvolver a escalada como opção de lazer.
Há cerca de 21% de crianças nos locais de escalada indoor, no Estado de São Paulo e para esse público, 42% dos espaços oferecem festas e 53% desenvolvem escolinhas.
As mulheres são 39% do público e parecem, a cada dia, se interessar mais pelo esporte. Por outro lado, apenas 6% contam com pessoas com mais de 60 anos, sendo um desafio para a escalada aproximar-se dos idosos, que são um público ávido por exercícios, qualidade de vida e bem-estar, que a escalada pode proporcionar.
A presença de um route setter próprio no espaço é encontrada em 71%, sendo que há espaços que contratam route setter para montagem de suas vias, há outros, que além dos próprios, ainda contratam outros route setters e há aqueles que não tem esse profissional, talvez pelos próprios usuários criarem as vias. Percebe-se que essa é uma função que começa a se profissionalizar no Estado de São Paulo.
Em 71% dos espaços também são encontrados profissionais de Educação Física, demonstrando um cuidado com a atividade física orientada por um profissional com formação acadêmica, já que a escalada é um tipo de atividade física/esporte e pela lei, o profissional de Educação Física é a pessoa capacitada para esse trabalho.
Há espaços que oferecem apenas a prática da escalada (39%), os outros 61% desenvolvem outras atividades como:
treinamento funcional | 42% |
Alongamento | 35% |
Pilates | 24% |
yoga, musculação, slackline | 21% |
Todos esses dados, ajudam a entender melhor como se desenvolve a escalada no Estado de São Paulo. É possível ver que a escalada indoor tem espaço para crescimento, afinal, apenas em 19 municípios houve espaços de escalada participando da pesquisa e os dados mostraram que há um investimento considerável nesses espaços nos últimos anos. A qualificação do atendimento também está em alta com route setters, profissionais de Educação Física e outras atividades, além da escalada em si sendo ofertadas.
A escalada do tipo boulder parece ter um espaço crescente no interesse dos praticantes e consequentemente, os ginásios e paredes investem nisso, porém, as paredes mais altas com top rope e guiada continuam atraindo interesse na maioria dos espaços.
O custo médio para praticar torna a modalidade pouco acessível à população, pois representa 15% de um salário-mínimo para se frequentar assiduamente a escalada. Quando se trata de olhar para a diária avulsa, o valor representa cerca de 3% do salário-mínimo, tornando uma experiência de escalada mais próxima da população, mas talvez não uma prática do cotidiano. A possibilidade de praticar em espaços gratuitos existe, mas não aparece como política pública de interesse social na maior parte do Estado, mantendo a escalada ainda elitizada, pois mesmo dentro das Universidades públicas o acesso acaba ficando restrito a estudantes, que já representam uma parcela de maior poder aquisitivo no país.
Verifica-se uma atenção crescente às crianças no esporte com atividades especiais para elas e um espaço cada vez mais apreciado pelas mulheres, ficando apenas os idosos mais distantes da modalidade, talvez por preconceito, ou falta de capacidade de atender esse publico com segurança e competência.
Autores da pesquisa:
Dimitri Wuo Pereira, Yasmin Brito Souto Maior, Julia Maria Rosa da Silva
Referências Bibliográficas
PEREIRA, Dimitri Wuo. Revelando a escalada em paredes artificiais. Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 22, n. 02, p. 61-72, mai./ago., 2018.
MARINHO, Alcyane; BRUHNS, Heloisa Turini. Escalada urbana – faces de uma identidade cultural contemporânea. Movimento, Porto Alegre, v. 7, n. 14, 2001.
Agradecemos aos responsáveis pelos ginásios e paredes de escalada de academias, Universidades e entidades sociais que gentilmente colaboraram com esta pesquisa.