A História do Himalaismo Brasileiro – Parte X

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Décima parte do especial sobre o histórico das expedições brasileiras às maiores montanhas do mundo…

::Leia o especial sobre a História do Brasil no Himalaia desde o começo.

:: Leia a nona parte do especial Brasil no Himalaia.

 

Texto: Rodrigo Granzotto Peron

Capítulo 31 – EVEREST 2005 (8.850m)

Em um emocionante ano repleto de expedições brasileiras e conquistas tivemos três participações diferentes na primavera do Everest.

A primeira delas – e a única escalando pela rota normal nepalesa (colo sul e aresta sudeste) – foi protagonizada pelos paranaenses Waldemar Niclevicz e Irivan Gustavo Burda, em comemoração aos 10 anos da primeira subida brasileira na Grande Montanha. Esta rota era a pedra no sapato de Niclevicz, tentada sem êxito em 1991 e 2002.

Chegaram no Nepal no final de março e realizaram a marcha de aproximação a partir de Lukla. Ao invés de prosseguir diretamente para Namche Bazaar, resolveram escalar em preparação o Mera Peak (6.476m), cimo atingido no dia 4 de abril de 2005. Dalí prosseguiram até o Everest, alcançando o acampamento-base no dia 11 de abril.

Montaram quatro acampamentos de altitude na rota tradicional, com o auxílio dos sherpas Pemba Chhoti e Dawa Gyalzen, dois irmãos nepaleses. O último acampamento foi instalado no colo sul, a cerca de 7.900 metros.

Foi uma das temporadas mais conturbadas em termos de clima, com tempestades e nevascas tão constantes que a primeira ascensão bem sucedida deu-se somente no final de maio (um mês mais tarde que o normal). Assim, o duo brasileiro ficou quase seis semanas parado nos acampamentos mais baixos, congelando ante o tédio e o péssimo tempo, sem nada poder fazer a não ser esperar. O nervosismo ionizava o ar do Everest, com todas as expedições impacientes esperando uma janela de bom tempo que parecia nunca chegar. Muitos perderam a paciência e foram embora.

Waldemar e Irivan partiram ao cume no dia 1º de junho, às 10 da noite, atingindo-o no dia 2, por volta das 10 da manhã, com utilização de oxigênio engarrafado, após doze horas de luta, em uma manhã de céu claro, mas muito gelada e ventosa. Ficaram lá no alto por duas horas, apreciando a paisagem e fazendo fotos e filmagens. Nesse meio tempo ocorreu um dos momentos mais emocionantes do montanhismo brasileiro. Vitor Negrete, que vinha do outro lado da montanha, também chegou ao cume, e houve encontro de brasileiros no ponto mais elevado do planeta.

A descida foi complicada, devido às rajadas de vento, que de tão fortes chegavam a derrubar os brasileiros. Além disso Waldemar apresentou problema de congelamento no olho esquerdo, o que dificultava sua visão. Felizmente conseguiu descer a salvo.

Com isso, Waldemar Niclevicz se tornou o primeiro brasileiro e o segundo sulamericano (atrás de Ivan Vallejo) a subir o Everest tanto pelo flanco tibetano quanto pelo flanco nepalês.

Capítulo 32 – EVEREST 2005 (8.850m)

Após inúmeras grandes conquistas no Aconcágua (subida da dificílima face sul e subida invernal), a dupla Rodrigo Raineri e Vitor Negrete resolveu partir para um desafio mais consagrador. Montaram time sob a liderança de Raineri, e também integrado por Clayton Conservani, repórter da Rede Globo de Televisão, e Guilherme Setani, o “Totó”. Contaram, também, com a colaboração de dois tamangs, Lila e Man Bahadur (os tamangs são uma etnia do Nepal, assim como os sherpas. Também são considerados grandes alpinistas e participam ativamente de várias expedições).

A rota escolhida foi a padrão tibetana, pelo colo norte e aresta nordeste. Espremidos entre o mau tempo da primavera (quase que só nevou por 40 dias) e a proximidade da monção (que torna inviável qualquer escalada), conseguiram uma brecha no apagar das luzes da temporada.

O processo de aclimatação foi diferente para cada membro do time. Conservani desistiu aos 7.600m, no dia 30 de maio, por causa dos ventos fortes. Setani chegou apenas até 7.100 metros. A dupla melhor aclimatada e mais motivada, Rodrigo e Vitor, fez ataque ao cume na madrugada do dia 1º para o dia 2 de junho. Por volta das 10 da manhã, Rodrigo Raineri, não se sentindo seguro para prosseguir, por conta de estar perdendo a sensibilidade nos pés, resolveu retornar, a 8.800 metros (apenas 50 metros abaixo do cume). Foi uma decisão muito difícil de tomar, mas sensata. Muitos alpinistas são acometidos pela “febre do cume” e prosseguem a qualquer custo, sacrificando a segurança e muitas vezes a saúde, ou até mesmo a vida.

Vitor Negrete prosseguiu sozinho os metros finais do Everest, atingindo o cume por volta das 11:15h de uma clara e ventosa manhã, utilizando oxigênio suplementar. Manhã esta que foi palco para três brasileiros no cume do Chomolungma.

Capítulo 33 – EVEREST 2005 (8.850m)

No prolífico ano de 2005 outra expedição tentatava o Everest pelo flanco tibetano, formada pelos famosos Paulo Coelho e Helena Coelho, o Casal Coelho de tantas aventuras e conquistas. A chegada ao acampamento-base foi no dia 14 de abril (a última das expedições brasileiras a chegar) e também foram vítimas do péssimo tempo, que os prendeu nos campos inferiores por quase 40 dias.

Premidos pela necessidade de retornar aos afazeres profissionais no Brasil, fizeram uma tentativa no dia 29 de maio, com desistência a 7.900 metros, por volta das 3 da tarde, devido à ventania inclemente. Não foram até lá em cima, mas mostraram garra e perseverança, sem oxigênio suplementar, como de costume. Nas palavras do casal, “pois quem leva, usa. Acreditamos que o oxigênio suplemntar diminui a altura da montanha e nosso objetivo é sentir o prazer de conseguir escalar, literalmente, a altura exata da montanha” (revista Aventura e Ação, edição 126, de 2005, p. 20).

Capítulo 34 – CHO OYU 2005 (8.188m)

As surpresas de 2005 ainda não haviam terminado. No segundo semestre a paulista Ana Elisa Teixeira Boscarioli, para ganhar maior experiência e tentar o Everest futuramente, foi primeiro escalar o Cho Oyu. Ana Elisa já era conhecida por ter sido a primeira brasileira a escalar o Aconcágua, em 2003, pela via Polacos Direta. Também já havia estado em 1999 no Nepal, onde se encantou com o montanhismo, e subido as colinas Kalla Pattar e Gokyo Ri.

Para enfrentar o Cho Oyu recrutou os serviços da empresa de montanhismo guiado Adventure Consultants, uma das mais renomadas a prestar serviços de guias na Ásia. Foi para a montanha em expedição liderada pelo neo-zelandês Mike Roberts. Também participavam outros clientes: um australiano, um inglês e dois americanos. A equipe era blindada por cinco guias sherpas, um dos quais o famoso Chuldim II Sherpa, que já esteve no cume da sexta maior montanha por cinco vezes. Chegaram no acampamento-base da rota padrão no dia 6 de setembro.

Ana Elisa se adaptou muito bem em todas as etapas de aclimatação, pernoitando no acampamento mais elevado no dia 24 de setembro e partindo para o cume à uma da madrugada do dia 25. Após subir por quase sete horas e atravessar todo o platô do topo, chegou ao cume por volta das 8:45h da manhã, com utilização de oxigênio extra.

Com isso tornou-se a primeira mulher brasileira e a segunda sulamericana a culminar o Cho Oyu. Também a primeira brasileira a coroar um pico 8.000. Por fim, a quarta pessoa do Brasil a pisar no ponto máximo da sexta maior montanha do planeta.

Capítulo 35 – CHO OYU 2005 (8.188m)

A guerreira Helena Coelho, apesar do susto tomado no ano anterior com os frostbites, retorna ao Cho Oyu para mais um intento, mais uma vez pela rota Tichy tradicional e sem oxigênio suplementar. Chegou no acampamento-base no dia 13 de setembro, motivada e confiante.

Na sua terceira subida rumo ao cume, no dia 30 de setembro, devido ao frio excessivo, achou por bem dar meia-volta a cerca de 7.300 metros. No acampamento-base avançado foi acometida por forte dor de cabeça, que não cedia de jeito algum, nem com analgésicos, obrigando-a a dar por finda a expedição, com retorno a Katmandu no dia 11 de outubro.

Capítulo 36 – AMA DABLAM 2005 (6.812m)

No final de 2005 tivemos ainda uma outra participação brasileira no Nepal. Os montanhistas mineiros Rodrigo de Mello e Jadar Silveira Simonelli, e o paulista Arnaldo Adams Ribeiro Pinto foram tentar escalar o Ama Dablam.

O Ama Dablam é considerada uma das montanhas mais bonitas do mundo, e se ergue no Vale do Khumbu a pouca distância do Everest. Apesar de ter sido desvirginada somente em 1961, é bem popular, contando até 2007 com 2.140 ascensões registradas, por cerca de 1.900 escaladores distintos.

O período de escaladas normal é o final do ano, a partir de outubro, pela rota sudoeste, que segue o ombro “esquerdo” da montanha.

Em sua tentativa os brasileiros contrataram os serviços da Himalayan Guides, de Henry Todd, a mesma empresa comercial que colocou Mozart Catão e Waldemar Niclevicz no cume do Everest em 1995.

A expedição era chefiada pelos experientes Todd e Vic Saunders, e composta por cinco britânicos, um norte-americano e dois escaladores sherpas experientes Gurmin Dorje (4 cumes no Ama Dablam e 3 no Everest) e Lhakpa Thundu (5 cumes no Everest e também cume no perigoso Annapurna).

Ao campo-base chegaram em 10 de outubro de 2005 (a 4.600m). Além desses dois outros acampamentos fazem parte da rota normal: campo 1 (5.600m) e campo 2 (6.300m). Estiveram no Ama Dablam por 48 dias. Entre os dias 1º e 4 de novembro sete membros da expedição fizeram cume.

Os brasileiros conseguiram ir apenas até o primeiro acampamento, de onde desistiram por problemas de aclimatação.
:: Continua…

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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