A Pedra Aguda

0

Embora fique em Minas, São Paulo é a capital mais próxima de Itajubá. Já Rio e Belo Horizonte são mais distantes. Itajubá, assim como Poços de Caldas, Pouso Alegre ou Caxambu, é uma das portas de entrada para o sul de Minas.

O Rio Sapucaí divide Itajubá ao meio e transborda a cada dez anos, alagando a cidade (Fonte – Divulgação).

Foi o bandeirante Borba Gato quem primeiro penetrou no sul de Minas à busca de ouro, mas foi Garcia Velho quem incansavelmente percorreu as serras da região.

Itagibá (atual cidade de Delfim Moreira) foi fundada por ele, até que fosse relocada já no século XIX para as margens do Sapucaí. Se a cidade prosperou nesse novo local, foi por outro lado sujeita a sucessivas enchentes, muitas delas catastróficas, em média uma a cada dez anos.

A Pedra Aguda é um maciço de forma triangular que domina a paisagem de Itajubá. Pertence à Serra da Água Limpa, uma cadeia com 80 km de extensão, paralela ao trecho principal da Mantiqueira. Corre por suas costas desde São Bento do Sapucaí ao sul até a estância de São Lourenço ao norte.

O seu prosseguimento por mais 60 km rumo sul encontra as Serras do Baú e do Selado, formações importantes e conhecidas por embelezarem as regiões turísticas de Campos do Jordão (SP) e Monte Verde (MG).

Somando estas duas extensões, a Serra da Água Limpa mediria mais de 1/3 da extensão do trecho principal da Mantiqueira. Na realidade, esta serra é última manifestação contínua da Mantiqueira a oeste de seu espigão principal.

A Pedra Aguda de Itajubá, MG, com suas duas encostas (Fonte – Divulgação).

Para além dela rumo ao interior, os terrenos elevados de Minas comportam apenas serras menores e esparsas. Uma montanha próxima, a Pedra Branca, foi uma de minhas primeiras pesquisas nesta região. Outras dessas formações dispersas são as Serras do Caracol, do Cervo, das Ninfas e de Santa Catarina, todas em Minas – e ainda não visitei nenhuma delas.

Portanto, se você estiver em algum pico da Mantiqueira dificilmente deixará de perceber esta vasta dobra azulada. Embora longa, não é uma serra alta: seu ponto culminante, o Tuiúva, não passa de 1.900 metros. É bem no meio desta extensão que fica a Pedra Aguda.

Embora elevada, a Pedra Aguda não é o ponto culminante de Itajubá. Este pertence à Pedra de Santa Rita, na Estrada do Rio Manso, com quase 1.750 metros e uma extensa vista da Mantiqueira.

Há formações de todas as cores na região: as Pedras Amarela, Preta e Vermelha. Além de muitos bichos nomeados nas Pedras do Urubu e do Tucano e nos Picos do Galo e do Garnisé.

Vista sul da Pedra Aguda, voltada para Piranguçu, MG (Fonte – Divulgação).

Aproximar-se da Pedra Aguda é fácil, uma vez que dista apenas 5 km da cidade, por boa estrada de terra rumo sul. Esta estrada é paralela ao Ribeirão das Anhumas, cuja várzea deve ficar ao seu lado, à medida que você for prosseguindo na estrada.

Logo você notará uma serra bem próxima à sua esquerda: passado o primeiro cume (a Pedra Grande), você logo verá a Pedra Aguda.

O melhor acesso é por uma estradinha que termina no terreno de uma casa de campo, onde você poderá deixar seu carro. Aliás, é ao dono desta que pertencem os campos à sua frente. Convém pedir permissão para atravessar a cerca.

A aproximação demora cerca de uma hora, devido às fortes rampas e ao capim alto dos pastos. Desta vez, não vou relatar o acesso mais fácil ao chegar na pedra, pois penso que será mais emocionante escalaminhá-la por sua face.

Você conhece isso, haverá uma sucessão de paredes curtas de rocha intercaladas com grama, que você conseguirá vencer em mais uma hora, eventualmente com alguma paciência, por não ser uma rota muito definida.

Nascer do dia na Pedra Aguda, Itajubá, MG (Fonte – Divulgação).

Você terá subido cerca de 250 metros e atingido o topo a 1.570 metros. A vista alcança em especial a cidade de Itajubá e algumas pedras de formato curioso a oeste. Uma delas, a Pedra Vermelha, abriga uma cachoeira que você poderá visitar na volta.

Tendo chegado em cima, você verá a trilha que não lhe contei, o que permitirá uma descida muito mais rápida, ela simplesmente prossegue sem desvios pela sombra da mata de encosta. Mais tarde, ela passará pela Gruta do Quilombo, que é caminho de volta da travessia de que falarei em seguida.

Chegando lá embaixo na base da pedra, siga agora pelos campos à sua esquerda, são mais fáceis e bonitos. Se puder, ao retornar viaje pelo asfalto das pacatas vilas de Brasópolis e de São Bento, assim poderá acompanhar, ao longo da estrada, o variado relevo desta bela serrania.

O Pico do Galo, ao longo da travessia da Pedra Aguda (Fonte – trekkingnamontanha.blogspot).

Tempos depois, foi inaugurada uma travessia que sai da cidade e passa pelo Morro das Antenas, prosseguindo pela crista da serra até o cume da Pedra Aguda. Seu trecho mais crítico é a empinada subida do Paredão, que fica no início da via. Por ser um caminho alto, não dispõe de água.

Como você pode ver no mapa, há uma sucessão de acidentes até chegar na Pedra Aguda: os Picos do Garnisé, do Galo e da Pirâmide. O retorno desce até a Gruta do Quilombo, onde você encontrará água.

A duração é de 5 ½ hs para 22 a 25 km, dependendo da volta. Existe muita vegetação interferente ao longo da crista. Que eu saiba, por ter se tornado popular, a travessia continua sinalizada. Conheço as partes extremas desta travessia, mas não o trecho central.

Travessia da Serra da Pedra Aguda na carta do IBGE (Fonte – trekkingnamontanha.blogspot).

O que lhe relatei não é por certo espetacular ou mesmo difícil, mas compõe um percurso bonito, iluminado e interessante.

Compartilhar

Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

Deixe seu comentário