A Pedra da Seriema e da Porteira Preta

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Dos serrotes domésticos de Sampa, a Serra do Itapety é a mais próxima e acessível a qq andarilho (ou biker) q se preze. Com suas largas e altas encostas forradas de mata secundaria guardando a cidade de Mogi das Cruzes, o Itapety está recheado de trilhas pra tds os gostos, boa parte delas oriundas de antigas veredas de reflorestamentos desativados. Algumas foram alargadas e asfaltadas, enqto outras ainda se mantem de terra, bem estreitas; como, por exemplo, as q levam ao Pico do Urubu e Pedra do Lagarto, respectivamente. No entanto, existem ainda aquelas q por conta do desuso encontram-se parcialmente fechadas, mas q servem de elos de ligação pra atrativos menos conhecidos e pouco visados da notória serra. Eis um circuitinho curto, porém relativamente puxado, q contempla a Pedra da Seriema, passa pela “Trilha da Bica Encantada” e ascende á Pedra da Porteira Preta.

 

Chegando tarde pra incursões na borda da serra da Mogi-Bertioga e relativamente cedo pra qq outra coisa, assim q pisei na Estação Estudantes, coisa das 8:30hrs, liguei pro Ricardo afim de bisbilhotar alguma coisa “nova” pela Serra do Itapety. “Nova” pq já não há o q descobrir ou explorar numa serra urbana como aquela, apenas “redescobrir” aquilo q era muito utilizado antigamente e, q por algum motivo qq, hj se encontra em desuso ou engolido pelo mato. E olha q há varias velhas picadas nestas condições, se levarmos em consideração q boa parte do Itapety consistia num emaranhado de vias de remoção de reflorestamentos de pinnus e eucaliptos, principalmente no seu setor extremo leste. Como as leis ambientais de um tempão pra cá proibiram qq espécie de desmatamento, estas antigas veredas (a exceção da “Estrada Velha do Lambari”, principal elo de ligação com o outro lado da serra) foram ficando cada vez menos pisadas, esporadicamente quiçá por jovens aventureiros locais. A idéia era ir atrás destas velhas veredas, algumas das quais já havia escutado alguma coisa. Claro q o mogiano Ricardo topou na hora, pois como bom conhecedor da região desde a tenra infância sabia da existência de tds elas. E mais algumas. E eu q achava q ja tinha percorrido aquela serra de tds formas esgotáveis possíveis, me dei conta q tava bem enganado.

Nos encontramos logo depois bem na frente da estação da CPTM , pra então nos pirulitarmos atrás da Rodoviária, onde os bus e lotações costumam descer pra Bertioga. Dali já é possível avistar td extensão da Serra de Itapety, tomando conta de td paisagem ao norte: uma enorme elevação esmeralda recortando o céu azul daquela manhã de domingo e guardando a cidade de Mogi a seus pés. Dali basta tomar as vias em direção ao Itapety intuitivamente, rumo nordeste. Em caso de duvidas pergunte pela “Estrada Velha do Lambari” q qq um saberá informar. No nosso caso, tocamos pela praça do Habib´s e passando por um parque bem freqüentado, onde as pessoas corriam ou faziam sua caminhada matinal.

Enqto conversávamos e a silhueta da montanha aumentava diante de nos, mal percebemos qdo passamos pela ponte sobre o Rio Tietê e cruzamos mais alguns conjuntos habitacionais do caminho. Ricardo comentou q a especulação imobiliária lentamente avança sobre a serra, mesmo com trocentas leis (ambientais, inclusive) proibindo isso, e com bastante receio de futuramente as encostas verdes da serra ostentarem casas e condomínios aqui e ali, descaracterizando a já combalida montanha. Uma linha de torres de alta tensão no trajeto parece descrever bem esta divisão bem clara q separa a civilidade da natureza local, onde as construções dum colorido condomínio contrastam claramente com o verde escuro da mata q surge logo ao lado.

O asfalto deu lugar á terra qdo pisamos na “Estrada Velha do Lambari”, principal via de ligação com o outro lado da serra, principalmente com o Bairro Beija-Flor. Na verdade é a principal via antiga de ligação pois atualmente existem outras tantas, como a asfaltada “Estrada do Beija Flor”. E por ela tocamos morro acima, inicialmente sem gde declividade mas qdo surge a piramba apelidada de “Paredón Boliviano” (descrição dada por bikers) as pernas desacostumadas podem sofrer e o suor começa a escorrer faratmente pelo rosto. Td cuidado é pouco tb pois a estrada alem de bem erodida e irregular esta repleta de limo esverdeado, q a torna nalguns rechos lisa feito sabão. Num deles é possivel reparar alguns poucos vestígios asfaltados de outrora, lentamente sendo engolidos por valas enormes e trechos cascalhados desbarrancados.

Ignorando as bifurcações (q ou levam a outros setores do Itapety ou servem de atalho) q surgem e nos mantendo sempre na principal, a vereda estreita e aparenta nivelar num setor envolto por reflorestamentos de eucaliptos. Numa discreta saída pela direita é possivel encontrar água correndo cristalina, porem sua origem é visivelmente um brejo logo ao lado. “Lá em cima tem outro ponto de água muito melhor, emergindo direto da pedra!”, garante o Ricardo. Ignorando outra saída pela esquerda (onde bikers costumam se aventurar) continuamos tocando reto acompanhando a estreita picada fazer suaves curvas e ganhar declividade no seu trecho final, antes de ganhar o alto as serra. O topo, pelo visto, estava próximo.

As 9:50hrs ganhamos o topo áspero da rocha conhecida como Pedra do Lagarto, onde uma cumieira florestada cobre parcialmente a vista do quadrante norte. Como ali é roteiro tradicional passamos batido, ou quase isso. Buscamos uma trilha q logo dá acesso a sua base, onde outra rocha maior serve de apoio a primeira. Nas lajes da base do Lagarto tocamos pra nordeste, mergulhando na mata fechada atrás de vestígios da picada de aceso á Pedra da Seriema, próxima dali. E esses vestígios não tardam a aparecer na forma duma discreta picada em meio a um simpático bosque. Dali basta tocar no sentido da cumieira florestada meniconada acima, ou seja, aquela q ta na frente do Lagarto.

Tocando sempre pela discreta picada e varando algum matinho qdo ela some, logo nos deparamos com uma enorme pedra coberta de bromélias e outros tantos tipos de vegetação, com destaque pruma árvore repleta dum pequeno fruto de cor alaranjada. Logo nos deparamos com duas enormes pedras q correspondem á Pedra da Seriema, mas com poucos apoios pra subir é preciso escalaminhar (como der) pra ganhar o topo das mesmas. Se firmando nas poucas agarras disponíveis e fazendo pêndulos sucessivos com o arvoredo ao redor é possivel subir ao alto das pedras. Como eu tava com um tênis liso e sem mta aderência tive q solicitar ajuda ao Ricardo, q estendeu o braço e me puxou num trecho, digamos, mais critico. Agora sei pq esta pedra é tão pouco visitada e conhecida.

No alto da Pedra da Seriema, claro, tivemos nosso primeiro pit-stop pra descanso. O topo é menor e menos espaçoso q o Lagarto, porem é bem mais alto e com visual arrebatador mto melhor q a “Calango´s Stone”. Sem nada bloqueando a vista, a paisagem é larga e os horizontes do setor norte abrem-se totalmente: emoldurados por uma montanha esmeralda com detalhes cor-de-rosa dos ipês, avistamos a silhueta da Cantareira ao fundo, detalhes de Sta Isabel, Piracaia e, com esforço, a geometria difusa de S Jose dos Campos. Um gavião chia sobre a gente enqto uma andorinha plana nas térmicas q sopram naquela manhã quente e refrescam o rosto.

Após beliscar e beber agua, tocamos pros arredores da pedra. Descer da mesma, incrivelmente, é bem mais facil do q subir, pois basta se pendurar num galho da arvore ao lado q ele mesmo se curva lentamente e nos deixa no solo. Entre as duas pedras há uma fenda chamada de “Buraco do Tatu”, um quebra-corpo por onde nos esprememos ate dar do outro lado da pedra, mais precisamente na frente dela, na base. Ali encontramos vestígios de bivake artesanal, assim como talheres, panela, isopor (!?) e varias latas de cerveja vazias moçados num canto da pedra. Alem duma ótima área plana e bem protegida pra acomodar uma barraca confortavelmente.

Retornamos rapidamente a Pedra do Lagarto pelo mesmo caminho afim de prosseguir nosso rolezinho, onde encontramos uma agencia q fazia rapel na mesma. Ficaram surpresos ao nos ver emergir do mato e mais ainda qdo dissemos q havia ali perto uma pedra bem maior do q aquela pra rapelar. E assim prosseguimos pelo alto da serra, sempre pela principal, ou seja, a “Estrada Velha do Lambari”, subindo e descendo suavemente pela crista, acompanhando uma linha obvia de pinnus e eucaliptos perfilados pela direita, uivando ao vento q sopra no topo. Logo de cara nos deparamos com a “Trilha do Tobogã” (termo biker) por começar a descer bem forte uma piramba q depois suaviza. Na sequencia passamos por umas tralhas de madeira tomadas pelo mato, onde o Ricardo me coloca a par q aquilo ali fora uma “academia natural”, q outro mogiano (conhecido dele, o “mão-de-pata”) fizera ali no topo da serra, com “aparelhos” feitos de madeira. Infelizmente não duraram muito devido as inerentes atividades vandalisticas. É possivel encontrar mais tralhas desse mesmo cidadão q adotou a montanha faz tempo, mocadas entre as pedras ao largo da trilha, escondidas pra uso futuro.

Dando continuidade a pernada pelo alto da serra, uma leve escapadela pela esquerda nos leva numa trilha q apenas acompanha toras de uma cerca sendo construída, passando por outra enorme pedra e um pequeno brejo esverdeado, ate dar numa piramba intransponível coberta de mato. Mas a gente se mantem sempre na principal, sentido leste/nordeste e passando por um cupinzeiro-gigante no caminho, ate q conseguimos avistar o “Lebre”, ultimo morro da crista antes de cruzar a Rodovia Beija-Flor. No entanto, antes dele abandonamos a trilha principal (q sobe o morro de desce depois) em favor duma outra vereda mais discreta, a nossa direita, q atende pelo nome de “Trilha da Bica Encantada”, por passar pela única fonte de agua aqui do alto da serra.

E la vamos nós, tocando pela tal trilha q nada mais é outra vereda de manutenção de reflorestamento, so q bem mais fechada e quase nada usada, pelo q pudemos constatar. “Caraio, faz tempo q não vinha aqui mas parece q nem biker já mais passa por estas bandas!”, reclamava Ricardo enqto faconava trechos mais espessos obstruindo a trilha. E assim fomos avançando pela encosta serrana, descendo suavemente enqto contornávamos os contrafortes íngremes do sul do Itapety. De modo geral a trilha ta relativamente boa. Dureza são alguns poucos trechos onde o capim-navalha, capim-gordura, lírios-do-brejo e tds sorte de galharada seca vinda do alto tomam conta do caminho, obrigando a abrir caminho na raça e ate engatinhar agachado, o q nos deixou relativametne bem ralados. Cortes e perfurações, q por sinal, ardiam ao menor contato do suor correndo farto no calor daquela manha. Na boa, foi o trecho mais punk daquele bate-volta dominical.

E a bendita água? Pois bem, eu duvidava q naquela mata ressequida houvesse ate um filete de agua ate q num trecho sombreado da encosta, mais precisamente numa das dobras da serra, pude ouvir o indefectível som de agua correndo, e em abundância! Assim, ao exato meio-dia paramos na tal “Bica Encantada”, na verdade uma pequena canaletinha por onde corria muita agua fresca e gelada, ideal praquele dia quente e ensolarado. Uma bica q provavelmente capta as nascentes do topo da serra e cuja qualidade é indiscutivelmente melhor q aqula la de baixo, a beira da estrada. Por isso so lamento q a trilha esteja fechando e fique em desuso pois agua ali na cumieira do Itapety é um bem raro, e pode satisfazer as goelas e cantis menos favorecidos num dia como aqueles.

Na sequencia, pusemo-nos a andar e após passar por um enorme desbarrancado, q revelava as torres de alta tensão e um visu parcial do setor sul, a trilha nos levou as margens da Estrada do Beija-Flor, pontualmente as 12:30hrs. Andarilhamos um pouco, estrada acima, ate chegar no selado q une o “Lebre” com a montanha sgte, após a estrada. Este selado é chamado pelos locais de “Botujuru”, q em tupi-guarani significa “passagem dos ventos”, e qual nossa surpresa q o nome não poderia ser melhor pois era mto bom sentir a brisa fresca soprando o rosto naquela altura do campeonato.

Do selado, deixamos a estarda e fomos atrás de outra trilha q partia dali morro acima, uma variante da “Trilha da Porteira Preta”. E la fomos nos, subindo forte no aberto sob sol escaldante. E tome piramba íngreme interminável, q ganha altitude num piscar de olhos, pasando inclusive por um marco de concreto no caminho. O suor volta a correr farto pela ponta do nariz. Dessa forma, as 12:50hrs ganhamos 1059m o topo da Pedra da Porteira Preta, q de pedra so tinha uma pequena rocha servindo de mirante. Ao lado, um largo descampado de campim se avizinhava com a continuidade da trilha, q descia sentido bairro Beija-Flor, visível de onde estavamos. Descansamos um pouco apreciando o largo visu q dali se tem, onde a paisagem revela contornos de td quadrante nordeste, complementando o visual da Pedra da Seriema. Claro q a agua da bica foi quase q td utilizada afim de molhar não somente  a goela como tb nossos rostos suados.

Nosso retorno se deu pela “Trilha da Porteira Preta” principal, ou seja, a variante q dali do alto toca pro sul. E tome descidão forte e interminável em meio a um bosque de pinnus e eucaliptos, atraves duma picada q é quase uma estrada de tão boas condições em q se encontra. As 13:20hrs finalmente desembocamos na tal “porteira preta” q empretou seu nome a vereda, mas q atualmente foi substituída por um portão de metal azulado. Dali nos vemos no comecinho da Estrada do Beija-Flor e resolvemos tocar por ela mesmo, pro sul. Dali são quase 6km ate Mogi. Carona q é bom, nada. Nem mesmo qdo alcançamos o asfalto da Av. Fco Rodriguez Filho (SP-66) conseguimos uma boa alma q nos levasse ate a cidade, e dali foi um chão interminável sob o sol inclemente daquele comecinho de tarde.

Chegamos em Mogi por volta das 14:30hrs e imediatamente desabamos na primeira padaria q avistamos. Salgados, refris e uma Original estupidamente gelada era o prêmio mais q merecido praquela ocasião. O dia mal havia teminado e ainda teria responsas na capital paulistana, mas a pernada dominical estava concluída de bom e ótimo grado. Finalizando, há de se esperar pra q estas picadas visitadas tornem a ser constatemente pisadas outra vez com a devida divulgação consciente, de modo a evitar q fechem em definitivo e assim possibilitem q lugares como a “Pedra da Seriema” e  a “Bica Encantada” mantenham seu acesso facilitado pra tds. Pra q assim possam satisfazer as necessidades imediatas dos andarilhos q por la resolvam se aventurar pelo Itapety num dia quente de sol. Seja pra regozija-los com largos e generosos visus, ou apenas com o refrescante e revigorante precioso liquido descendo goela abaixo.
 

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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