A Pedra do Carcará

0

Na ocasião dum tchibum na “Cachu da Comporta”, coisa de meses atrás, um local comentou dum morro relativamente próximo que despertou meu interesse. O nome era “Pedra do Carcarᔠe foi lá mesmo que fui meter as caras num domingão preguiçoso sem nada pra fazer. Situado no miolo do serrote florestado que se espicha na divisa de Mairiporã e Franco da Rocha, o acesso aos quase 1030m do seu topo é bem fácil e se dá numa região com sugestivo nome de Campos de São Benedito. Sim, é uma formação rochosa modesta e quase urbanóide, cujo desnível não passa dos 400m mas que demanda vigorosa caminhada de aproximação. Como prêmio, a bela paisagem do alto de sua larga e extensa rampa rochosa assim como de todo quadrante oeste de Francisco Morato.

Saltei pela enésima vez na Est. Franco da Rocha da CPTM e me plantei na frente do Supermercado Russi á espera do busão sentido Mairiporã, de horários regulares. Aquele domingo amanhecia bastante frouxo, opaco e com ameaça de fina garoa, ideal mesmo pra ficar nas cobertas. Ainda assim, lá estava eu tomando o coletivo por volta das 9:30hr na direção do meu destino, doido pra andarilhar onde quer que fosse. E sem mais nada na manga resolvi ir atrás dum morro perto do Pq Juquery e cuja dica me fora soprada por um jovem na minha ultima visita á região.
Quinze minutos depois me vi desembarcando na frente da entrada da ilustre unidade de conservação, logo na frente do Corpo de Bombeiros. Retrocedo então algumas centenas de metros pelo asfalto do acostamento da Rod. Pref. Luiz Salomão Chamma (SP-023) até o ultimo trevo, onde me pirulito pela principal via de chão q atende pelo nome de Estrada da Vargem Grande. Esta via inicialmente contorna o terreno da propriedade do Corpo de Bombeiros mas depois desvia pro norte em suave ascensão. No caminho, ouço o marulho de água correndo nalgum lugar em meio ao mato. É o Córrego Itaim, que nasce nos serrotes a noroeste de Mairiporã pra terminar desaguando no Rio Juquery.
Uma vez nesta empoeirada via não tem mais erro pois é só seguir sempre pro norte.Uma olhadela por spbre o ombro na primeira subida descortina os largos descampados do Pq Juquery e suas torres de observação coroando as colinas mais elevadas. Logo adiante ignoramos uma saída da Sabesp pela esquerda que nos leva á Cachu da Comporta, rolê detalhado num relato de não mto tempo atrás. O espelho dágua da represa que abastece a queda surge na sequencia e nos convida a um refrescante tchibum  em suas varias prainhas lacustres rente a estrada, mas resisto a tentação e prossigo marcha por ainda ser cedo demais pra qq tipo de parada.
E tome chão pela frente em meio a chácaras, sítios, algum reflorestamento numa paisagem predominantemente rural. Mas depois de cruzar com um barzinho é preciso atentar logo adiante a próxima gde saída á direita. Eu errei logo de cara e entrei na anterior (em frente do bar) mas percebi o erro qdo a via foi na direção errada. Logo, pra mim portar bússola foi de gde ajuda, pois poucas pessoas cruzaram comigo como pra pedir informação. Bem, o fato é q cerca de 2,5km depois se abandona a via principal por outra q nasce transversalmente, popularmente chamada de “Estrada da Escolinha” ao invés de seu nome oficial, e isto se deve a q logo no começo de  fato tem a escolinha local. Outra referência é acompanhar os emplacamentos indicando “Rancho Fundo” ou “Rancho São Sebastião”.
Uma vez nesta estrada, tão precária qto a anterior, basta seguir sempre na direção leste durante por mais 4kms, portanto guarde seu folego q ainda tem mais. No trajeto, a impressão q se tem é q se tá em qq lugar ermo do interior, pois cruzes, galinhas e gente montada a cavalo é a vista recorrente. Somente após uma subida q os horizontes se alargam permitindo visu de parte do quadrante norte. Mas conforme se avança os sítios começam a rarear dando lugar a mais e mais mato a nossa volta. Ao mesmo tempo eleva-se a nossa direita um enorme serrote que se espicha em gdes corcovas na direção leste, exibindo inúmeras lajotas e paredões na encosta. Seus íngremes contrafortes mais elevados contrastam com seu trecho a margem da estrada, repleto de capim e salpicado de matacões. Será esta serra que subiremos no seu trecho mais acessível e menos íngreme.
Depois de mais um chão, descer suavemente até um baixadão e subi-lo já com a língua arrastando no chão, damos num local com um punhado de casinhas e uma capelinha q depois se revela ser a Capela de São Benedito e dá nome ao entorno, Campos de São Benedito. O lugar é bem bonito pela rusticidade e paisagem, bem bucólica.  Ali tomamos uma via a direita que vai de encontro ao pé da serra, atravessando o q parece ser um loteamento com metade das casas em pé. E no final da rua Josefina Cafacce Viola é onde começa de fato a vereda q sobe o morro. Uma placa alerta dali ser proibida a entrada de bois e cavalos, como tb ser propriedade particular, no caso, pertencente a uma unidade dos “Arautos do Evangelho”.
E tome subida através duma larga vereda q começa bem cascalhada, mas depois se torna de terra avermelhada e bem erodida! A brisa sopra fresca o rosto durante a ascensão ao mesmo tempo em q os horizontes se expandem na direção norte. O desnível aqui será bem baixo, uma vez q metade dele já foi vencido nas modorrentas estradas de chão. Mas isso não significa q o restante seja fácil, pois é na metade q a declividade aperta de vez e faz o suor escorrer farto pelo rosto. A vereda faz uma curva na encosta e toca pra cima com poucos desvios, quase q numa reta só em direção á cumieira. No trajeto, inúmeras pedras  pipocam pelo capim alto, única vegetação ao redor da vereda.
A subida dura menos de dez minutos e praticamente se chega ao alto. No entanto, pouco antes da curva em direção ao alto é possível avistar uma picada lateral saindo pela esquerda.  Esta vereda rasga um trecho de mata maior e desemboca num piscar de olhos nas largas rampas rochosas que dão nome ao morro. Olho pro céu e vejo trocentos urubus planando nas térmicas do cume, mas um olhar apurado revela que são os gaviões que dão nominam justamente esta elevação. E ali, no alto das lajotas umedecidas (porém aderentes) me brindo com um descanso á sombra duma simpática palmeirinha, onde beberico água e contemplo a paisagem q se desdobra daquele mirante. Dali avisto a verdejante morraria q domina boa parte do quadrante, além de pequenos trechos urbanizados de Franco da Rocha, Francisco Morato e, com esforço, Atibaia, bem ao longe.
Descansado e com cliques garantidos, tomo uma trilha que nasce pela lateral e me devolve a vereda principal que prossegue o (pouco) restante da ascensão, onde se tem visu do resto da serra espichando-se na direção leste. Mas meu caminho vira pra noroeste, cruza um bosque de eucaliptos ressequidos e finalmente desemboca numa rua asfaltada, já do outro lado da serra. Ali reparo que é parte dum loteamento em inicio de construção, parcialmente tomado pelo tal “Arauto do Evangelho” um grupo religioso considerado de extrema direita. Ali vejo que so tem uma casa no alto do morro, provavelmente a sede do grupo, e mais nada! Mato, mato e mato!
A descida se dá pela supracitada estrada asfaltada em largos e íngremes ziguezagues, num trajeto q lembrou muito a da subida do Pico Olho Dágua, próximo dali, em Mairiporã, alias o topo do morro faz divisa exata com este municipio. No entanto, aqui não se vê ninguém, apenas mato espesso ao meu redor onde o silencio da minha descida foi embalada pela algazarra de bugios nalgum vale próximo!  Além disso, é possível avistar muitas trilhas indo em todas as direções, que ficam proutra ocasião de planejamento mais acertado! O legal são as frestas na mata durante o caminho, que agora revelam belas molduras do quadrante sul, principalmente da represa Paiva de Castro, refletindo o céu cinza claro nas nuvens. Daqui percebe-se que a descida será mais demorada  que a subida, pois daqui o desnível é bem maior!
Depois duma descida que parecia interminável, cheguei na entrada (com guarita vazia) do tal condomínio em construção, q atende pelo nome de Jardim Mairiporã, e me pirulitei pela rua Armando Barbosa Almeida, popularmente conhecida como “Estrada da Cacéia”. Esta bucólica via praticamente bordeja o sopé da serra em meio a muita mata secundária e algumas poucas chácaras. O duro é que aqui condução inexiste e a carona é impossível, logo tive q chinelar algo de 5 cansativos “kaêmes” até interceptar a SP-23. O bom é q no trecho final há várias trilhas q desembocam em imperdíveis balneários lacustres da represa, e claro q me dei o luxo dum bom tchibum refrescante. Uma vez na SP-23 tomei condução de volta pra Franco da Rocha, onde cheguei coisa das 16hrs, a tempo de pegar minhas latas de breja num mercado quase fechando.
O “Morro do Carcará” é uma formação rochosa modesta e que não oferece nenhum desafio a quem busca algo desse tipo. Serve apenas como passatempo de meio-periodo num dia a toa, como feito neste relato. Claro que o rolê será bem melhor aproveitado pelo dia todo se for emendado num circuito que agregue  qualquer outro atrativo natureba da região, como o Parque Juquery, a Cachu da Comporta, a Cascatinha da Cacéia, a Pedra Rachada ou até mesmo o Pico Olho Dágua, este já situado em Mairiporã. Ou melhor, fazer tudo isso montado numa magrela e assim otimizar as longas e enfadonhas distâncias entre cada um deles. Aí cabe a você decidir como gastar seu dia.
Compartilhar

Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

Deixe seu comentário