A Pedreira de Rio Grande

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Situada na divisa de Rio Grande da Serra e Paranapiacaba, o “Pedreirão” (como é conhecido informalmente) é mais um daqueles atrativos naturebas pouco visados q se somam à Trilha da Olaria, Pedra do Elefante, a travessia rumo Suzano, a Adutora e tantos outros pela região. Locados no quadrante norte da vila inglesa, detentor de tentadores boulders e duma panorâmica generosa destes cafundós de Sto André, a tal pedreira é facilmente acessível numa magrela através de sucessivas estradas de chão ou, se preferir, até por transporte público direto. Contudo, andarilho q se preze pode optar por esta breve travessia aqui, rápida e mto mais dinâmica, q acede o atrativo pelo seu contraforte leste: começar jornada pela estação-fantasma de Campo Grande, palmilhar a bucólica Estrada de Araçaúva e rasgar o vale do rio homônimo até o destino final.

Não sei pq cargas d’água este ano foi bem escasso de trips por Paranapiacaba. Quiçá pela junção de três fatores: falta de oportunidade, evitar a muvuca dos constantes (e sucessivos) festejos e pular fora das incontáveis proibições q suas belas trilhas ultimamente vem recebendo.  O fato é q cá estou novamente em Rio Gde da Serra pronto pra embarcar no latão “424” rumo Paranapiacaba. Mas meu destino desta vez não é a vila inglesa e sim 5km antes dela, na região planáltica acima da SP-122. Ainda assim, bastou me ausentar por dois terços de ano q já percebi diferenças em Rio Grande: o tiozinho da simplória vendinha do lugar ampliou seu pto ao lados dos busos, tornando-o mais atrativo aos andarilhos q, como eu, aguardam o latão. Ah, e o terreno da frente virou um enorme estacionamento.

Embarquei no buso pontualmente as 8:30hrs com mais três gatos pingados, sendo q nenhum deles chegou ao destino final. Nem eu, q desta vez fui sozinho pq ninguém topou me acompanhar naquele dia nublado, com receio de tomar água. A viagem foi rápida, pois 10 min depois me vejo saltando no asfalto da SP-122, conhecida oficialmente como Rod. Deputado Antonio Adib Chamas. Noutras, saltei no “bairro” Campo Grande, marcado pela estação ferroviária do mesmo nome e por uma simpática capelinha corando um baixo morro. Após alguns cliques do Monumento ao Divino Salvador (a tal capelinha do morro) cruzei a linha em direção ao q sobrou da estação. Diferentemente da de Paranapiacaba, esta aqui está abandonada, corroída de ferrugem, entupida de mato e caindo aos pedaços, tanto q placas proibindo acesso e risco de morte são comuns. Quiçá por este motivo – o de evitar a divulgação de descaso com a memória ferroviária – um segurança veio ao meu encontro de forma truculenta avisando q até fotos dali são proibidas. Uma pena, pois esta estação é datada de 1929, mas aparenta ser bem mais antiga q a República pois outra ruína ostenta a data de 1889 cravada em baixo relevo.

Da estação sigo a direção nordeste, ignorando a Est. pra Paranapiacaba e tomando a Estrada do Campo Grande, praticamente uma linha reta de terra rasgando a planície de banhados em direção as montanhas, ao fundo. Antes de chegar na morraria, porém, outra bifurcação me obriga abandonar a via principal em favor da esquerda, agora sentido noroeste. Uma pequena placa apontando Sitio São Fco serve como referência e nos indica ser início da Estrada do Araçaúva, reforçado por outra placa da prefeitura de Sto André indicando aquela região ser área de proteção e recuperação de mananciais. Uma vez nela não tem erro e basta apenas se manter na principal.

Deixando os descampados abertos de banhados atrás e serpenteando a morraria florestada em volta, as 9:30hr passamos por baixo do zunido eletrostático de torres de alta tensão pra logo em seguida cruzar um pontilhão de madeira de consistência duvidosa, por onde corre o ribeirão q empresta seu nome a estrada, o Araçaúva. Este curso d’água praticamente nos acompanhara boa parte do trajeto, q agora toma direção oeste. A caminhada é bem agradavel, envolta pelo frescor da mata densa e úmida, repleta de muitos belos remansos e com a estrada ornada de jardins de lírios-do-brejo e buquês de hortências.

Por volta das 9:50hrs e após passar alguns casebres abandonados, me deparo com nova bifurcação pontuada por uma igreja, na qual tomo a via da esquerda q depois mostra-se bem mais precária no decorrer do trajeto. Uma chácara ou outra são vistas por aqui, mas aparentemente sem ninguém pq durante td trajeto não vi sequer viv´alma. O q chama mesmo a atenção são vários terreiros quase q sequencialmente, ao começarmos a bordeja a primeira gde montanha pela sua base. Mas eis q nossa pernada por estrada termina abruptamente numa propriedade particular, na Faz. do Gago, as 10hrs. Mas olhando bem ao ladinho percebe-se a continuidade da estrada, parcialmetne tomada pelo mato e fechada pelo proprietário Gago, senão “grilada” pelo próprio.

Passando por baixo da cerca q impede acesso ao q resta da estrada, a caminhada enfim tem continuidade no q pode se chamar de trilha, sempre na direção oeste, indo de encontro na morraria sgte e marcada principalmente por dejetos de cavalinhos por ambos lados. Mas aqui é um trecho critico pois devo ter deixado passar a continuidade da vereda nalgum pto pois ao dar no sopé do morro não encontrei nada, a não ser uma ossada fedida dalgum infeliz pocotó. Aqui cabe a vc buscar a vereda ou prosseguir na raça, como eu fiz. Munido de bússola e uma precária transcrição desenhada do terreno obtida de imagens aéreas, ao invés de bordejar o morro pela esquerda resolvi investir pela direita, q se mostrava mais fácil de cruzar. Andando pelo q aparentemente fora uma via cabei dando nas ruínas duma antiga casa, bem numa dobra serrana do morro.

Pois bem, sabia q tinha q passar por outro lado do morro e o jeito foi subir seu desnível de apenas 100m na raça. E foi assim q fiz, azimutando noroeste e tocando sempre nessa direção. Inicialmente acompanhei o curso dum correguinho q terminava numa simpática bica, mas depois comecei a galgar a encosta suave da montanha em questão. O mato, por incrível q pareça, não era tão espesso assim e mostrou-se de fácil transposição. No entanto, não tardou pra declividade aumentar mais e mais. Sim, vencer 100m de desnível montanhisticamente não é nada, mas a coisa muda de questão qdo não se tem trilha alguma, o chão de barro atrasa teu passo e o mato espinhento em volta impede qq espécie de apoio na subida. E tome escalaminhada árdua, onde dava uma passo pra retroceder dois (isso qdo não caia de bunda no chão), o q me deixou imundo de terra num piscar de olhos.

Mas uma vez no alto da montanha a pernada arrefeceu e o andar mostrou-se mais amenos. Sem visibilidade ou referência alguma devido ao arvoredo, o jeito foi prosseguir tocando pra nordeste, qdo comecei a descer a íngreme piramba do outro lado do morro me firmando principalmente nas arvores do trajeto. Caí então no vale sgte, num sopé de morro tomado por lírios-do-brejo e muito barro ate o calcanhar, onde encontrei o q pareceu um indicio de picada mal pisada, q acompanhei na direção desejada. Logo desembocou num pequeno afluente do Ribeirao Acaraúva q cruzei tranquilamente com água até o joelho. Do outro lado andei por voçorocas q urtigas q arderam até o sabugo da alma até o q parecia ser um terreno mais aberto e, na melhor das hipóteses, a picada q me passara desapercebida.

Dito e feito, as 11:15hrs desemboquei numa linda e evidente picada q decerto era a q deixei passar nalgum canto e por ela prossegui ininterruptamente, tocando pro norte sempre. Aos poucos fomos abandonando o vale do Acaraúva até q finalmente cai numa via maior, q passou de grama pra terra batida. Uma placa laconicamente assinala o Araçaúva por outro nome sugestivo, Rio da Nascente. E assim as 11:30hrs me vejo na Rua Jose Carlos Pace, do Jd Niwa, q basicamente contorna o morrão pelo norte. Daqui a pernada é por estrada de chão e de paralelepípedos, não tem segredo.

E dando a volta ao morro, passar por algumas ruínas concretadas dos alojamentos da antiga cia empreiteira dona do local e umas oportunas bicas pra matar a sede, ao exato meio-dia dou no pé da enorme Pedreira, q mais lembra um enorme anfiteatro de pura rocha! Apesar da proximidade de bairros periféricos, o q surpreende é a ausência de lixo. O local lembra muito a Pedreira do Dib, porem um pouco menor de altura. A diferença tb da similar de Mairiporã, está aqui é uma pedreira escalonada e não tem um paredão único. São em torno de 3 ou quatro degraus de paredes verticais consecutivos, como q formando uma enorme escada de pura pedra.

Pois bem, procurando no extremo sul da pedreira encontra-se facilmente a vereda q dá acesso ao alto e por ela sigo de forma tranqüila e desimpedida, subindo a encosta suavemente ao largo de 3 intermináveis ziguezagues. Reparei q existe interligação entre os “degraus” da pedreira, mas q são acessíveis mediante árdua escalaminhada. No caminho da trilha haverão varias bifurcações q levam a tds os níveis da pedreira, mas eu me dirijo invariavelmente ao último, claro, o mais alto. E assim, em coisa de menos de 10min estou no alto do último paredão, de onde tenho uma vista privilegiada de td Vila Niwa e Jd Pedreira aos meus pés, a oeste. Olhando pra trás podemos vislumbrar td verdejante trajeto feito em meio a morraria, horas atrás. Com esforço, é possível avistar Campo Grande, a rodovia e, bem mais ao fundo, a Serra da Comunidade de Paranapiacaba.

Pensa q acabou? Q nada, pois do alto percebe-se a continuidade da trilha tocando pra norte, mergulhando na mata e indo em direcao do pto culminante mesmo daquela serra. E assim, num piscar de olhos emerjo nos 910m do alto derradeiro da pedreira, onde encontro vestígios de fogueira e, claro, acampamento. A vista daqui deve ser bem bonita, mas infelizmente bem naquele instante a típica serração oriunda de Paranapiacaba me pega de surpresa, impedindo qq pretensão de largos horizontes. O único q se destaca em meio a opacidade q me envolve é o vulto de dois urubus planando nas proximidades, como q sentindo o odor de carniça deste q vos escreve. Satisfeito, volto pelo mesmo caminho apenas pra surpreender um enorme calango descansando no meio da trilha, q se pirulita imediatamente pro mato.

Na base daquele enorme monumento de pedra, as 13hrs, não me restou opção senão tomar condução por centrão de Rio Grande da Serra. E assim pego o tal “Vila Niwa”, q me deixa na cidade menos de meia hora depois. Lá, beberico rapidamente uma cerveja pra embarcar na sequencia no trem de volta á “Paulicéia Desvairada”, afinal, ainda tinha responsas pendentes na cidade gde.
 
Pois bem, como mencionado anteriormente, a pedreira é um atrativo de fácil e rápida visitação que não justifica um único deslocamento apenas pra lá dar as caras. Ou até justifica. Vc decide. Cabe a vc esticar o programa conforme melhor preferir, emendando-o com outro pela região. No topo da pedreira pude observar várias ramificações da picada principal q só não explorei por pura falta de tempo, mas q certamente devem dar em tds as direções do morro. Quem sabe uma delas interliga com a Estrada do Acaraúva ou noutros ptos mais interessantes? Pois bem, tai uma missão que vc mesmo pode desvendar qdo der na telha.
 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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