Aproveitando então meio período num bate-volta dominical, fui conhecer este pouco conhecido “point” de escalada, q a semelhança da famosa “Pedreira do Dib”, sua similar paulistana, não apenas oferece um enorme complexo de veredas como tb oportuniza diversos outros esportes outdoor em seu entorno.
Sem muita pressa ou necessidade de madrugar, eu e a Lau desembarcamos no Terminal Acapulco, zona sul londrinense, pouco depois das 10hr. O céu limpo e sol a pino dos dias anteriores tinha continuidade naquela manhã inicialmente fresca, mas com promessa de aumento de temperatura no decorrer do período. Como seria rolê breve cometemos o equivoco de não levar sequer mochila de ataque. Não q precisasse mas logo demos falta, mesmo naquele programinha simples de vapt-vupt, de boné e principalmente água. Paciência, não?
Do terminal tomamos a rua Chepli Tanus Daher e por ela seguimos indefinidamente na direção sul, de preferencia no aprazível e fofo gramado do canteiro central. Ladeando as poucas residências do Jd Acapulco e os limites do IAPAR (Instituto Agronômico Paranaense), a caminhada transcorreu tranquilamente e com direito até coleta de amoras direto do pé. Mas logo abandonamos a via principal pela primeira q deriva pra direita, no caso, a Rua Geraldo Julio, onde nossa direção muda pra sudoeste e as casas rareiam cada vez mais. Tanto q logo o asfalto dá lugar a uma poeirenta via avermelhada de chão, e a impressão que se tem é a de se estar em qq rincão interiorano paulista. O fato é reforçado pela presença de bovinos e equinos pastando tranquilamente no enorme descampado a esquerda.
Mas ao tropeçar numa encruzilhada marcada por um decrépito pto de ônibus tomamos a via da esquerda, rumo sudeste, q se pelo jeito ganha o nome de Orlando Fabrini. Muitas chácaras e sítios pontilham durante o trajeto, a maioria alugada pra eventos. Mas uma vez no final da mesma, já envoltos na mais espessa mata, desviamos pra esquerda já procurando alguma via no meio do pasto á nossa direita. Daqui em diante, é q se começa de fato a perder altitude em direção ao vale do Cafezal, mesmo q de forma bem imperceptível.
E assim, envoltos num clima totalmente rural, de repente nos deparamos no alto duma enorme pedreira, local q Lau imediatamente lembrou já ter visitado a muito tempo atrás. “Nossa, era aqui onde a gente escalava antigamente..”, diz ela. De fato, aquela era a pedreira principal do Cafezal q, de fato correspondia a um dos principais setores de escalada da “Pequena Londres”. O rumorejo de alguém nas proximidades logo mostrou q não éramos os únicos ali naquele dia, pois os altos paredões de quase 30m de pura rocha basáltica escancaram várias vias esportivas no “estilo pedreira”. Menor que o famoso “Dib”, aquele enorme anfiteatro rochoso não devia nada a seu similar paulistano. O lugar impressiona ainda assim, e suas altas paredes instigam a imaginação de qualquer pessoa. Vestigios de grampos e até restos de faixas de antigos eventos revelavam o lugar ser bastante concorrido pela galera escaladora e recebe visitas todos os dias, embora o maior movimento ocorresse nos finais de semana. No caso, incrivelmente só estávamos nós ali e mais um pequeno grupo num paredão. Além do mais, o conjunto parece um caldeirão vazio, pois o tradicional lago interno estava praticamente seco devido a longa estiagem dos últimos meses. Ao invés disso, reminiscências de brejo e muito capim de porte médio pincelavam de verde claro a vasta e larga base da pedreira. Sim, o lugar é bem rústico, porém funcional.
Mas como meu negócio são trilhas e não vias de escalada, imediatamente nos pirulitamos por uma q brotava do alto da pedreira, rasgava o alto capinzal e pra enfim mergulhar na mata, descendo forte na direção sul. A vereda alterna chão firme com trechos largos, erodidos e repletos de pedras soltas, indicando q ali circula tb a galera de moto e bike. Descendo em ziguezagues, nossa rota passa por varias ruinas de construções, provavelmente relacionadas á antiga pedreira. O som de água correndo nalgum canto na mata é sinal q ali circula algum bem-vindo afluente do curso dágua q dá nome ao vale.
Do caminho partem várias ramificações, mas busco me manter na principal q vá pra baixada. Mas não demora pra picada desembocar numa vereda maior e bem mais larga, onde foi preciso rasgar mato pra desviar dum brejo medonho. Explica-se: pelo fato de vários afluentes singrarem aquela suave encosta o terreno concentra muita umidade nalguns trechos, geralmente encharcados. Mas logo a via dá lugar a uma estrada onde podemos ouvir barulho de gente. Mas andando mais adiante percebemos se tratar duma chácara afastada onde rola uma típica partida de futebol dominical.
Nos mantemos na principal, agora em nível, e logo caímos numa bifurcação. Mas uma vereda bem no meio da mesma aponta o sentido a tomar e é isso q fazemos. Nosso caminho novamente se embrenha na mata a partir duma aprazível gramado pra ganhar altitude suavemente numa lombada serrana. A presença de inúmeros pés-de-limão-rosa repletos do fruto reforçam nosso lamento de não ter levado mochila pra aproveitar a ocasião pra literalmente “fazer a feira”. Enqto a Lau presta atenção a vegetação em volta eu reparo na nossa suave ascensão e, principalmente, nas varias picadas íngremes pirambeiras q nascem do caminho. Fato q imediatamente me fez perceber q estávamos chegando no alto de alguma coisa.
Dito e feito, em questão de minutos, quase lá pelo meio-dia, o chão outra vez termina e nos vemos no alto de mais uma enorme pedreira, ligeiramente mais baixa e rústica q a anterior, porém bem mais larga e extensa. O corte vertical no basalto de alguns trechos parecia ter sido feito a prumo, feito os imponentes cânions da Serra Geral. Mas o melhor era a vista q se tinha lá de cima; não bastasse contemplar td extensão da pedreira o olhar ia além privilegiando td baixada de vale, os plantios, as suaves colinas e até o sinuoso Ribeirão Cafezal, no fundo. Dali tb se avistava outra pedreira a leste, ligeiramente distante, mais baixa e exposta q as outras, q dispensamos de visitar por simples preguiça de andar além dali. A titulo de curiosidade, o Ribeirão Cafezal nasce em Cambé e é de gde importância aos londrinenses pois dele vem 40% de td água potável, antes de desaguar no Ribeirão Três Bocas.
Após um tempo de relax a beira do penhasco, nos pirulitamos pra base do mesmo atraves de outra picada q ladeava o enorme anfiteatro rochoso pela beirada esquerda. Pinheiros, eucaliptos e arbustos forram esta margem q não tem nada de mata nativa, a diferença da outra pedreira. Provavelmente pela proximidade duma estrada e algumas plantações ao sul, já a margem do ribeirão q dá nome ao vale. Lá embaixo, diversas áreas de acampamento dividem espaço com sinais de fogueira, sinais de bikes, motos e até veículos tracionados. Da mesma forma anterior, a ampla base da pedreira é forrada de pedregulhos, brejos e muito capim alto.
Pouco antes das 13hr e já fome batendo começamos a retornar basicamente pelo mesmo caminho, apenas ignorando as picadas iniciais e tomando a precária estrada de chão q tb sobe suavemente a serra. O som de água dum afluente do Cafezal se mesclava á gritaria do pessoal jogando bola na “Baixada Santista”, mas ao menos a subida foi feita sob refrescante sombra do arvoredo q acompanhava a via. Menos mal, pois o sol e calor daquele horário estavam impossíveis por todo Terceiro Planalto Parananense.
No alto tocamos pro norte, onde havia um centro comunitário ou algo do tipo, e dali não demorou pra pisar novamente no asfalto, já nas proximidades das primeiras residências do Jd Alto Cafezal. Ali nos informamos de condução bem perto e, num piscar de olhos, estávamos bebemorando deliciosas geladas a margem da Av. Abraham Lincoln. O busão passou cerca de meia hora depois, pra então tocar pro terminal e fazer a baldeação necessária pra ainda conseguir garfar o finalzinho do almoço dominical em casa.
Se Londrina foi uma cidade que se desenvolveu a partir do dinamismo de sua cultura cafeeira, coincidentemente expande sua diversidade de esportes outdoor numa pedreira situada no vale do Rio Cafezal. E numa região predominantemente de cultivos agricolas e de terreno com pouca declividade, este point surge enorme chamariz pra atrair gente não somente interessada em escalar nesse campo escola a céu aberto. Ela desperta o interesse de gente como eu, que deseja andar, pedalar ou simplesmente curtir um pouco de contato outdoor. O lugar não é necessariamente um presente da natureza, mas é uma grande alternativa pros aventureiros londrinenses que não abrem mão de praticar seu esporte radical preferido.
1 comentário
Gostei do relato. Morro em Londrina a 30 anos e nunca tinha ouvido falar dessa pedreira.