Os escaladores sabem quanto esforço físico e psicológico é necessário para romper a barreira do sétimo e oitavo grau. Isso demanda muitas vezes anos de treino e muita coragem, ainda mais quando se trata da escalada tradicional em que é necessário colocar as proteções e utilizar técnicas diferentes para escalar.
Mas nada disso parece valer para uma menininha de oito anos moradora dos EUA. Reagan Goodwyn guiou sua primeira via de escalada com quatro anos de idade. Hoje, aos oito, essa pequena atleta já tem em seu currículo conquistas que impressionam até os mais experientes no esporte. Criada em uma família apaixonada por aventuras, Reagan, seus pais e seus três irmãos vivem em uma van, explorando o mundo vertical das rochas.
Reagan Goodwyn fazendo colocações de proteção móvel. Foto: David Goodwyn
O mais curioso da história da família Goodwyn é que a escalada não fazia parte de suas vidas até o nascimento dos filhos. “Na verdade, não gostávamos de escalar”, conta David Goodwyn, pai de Reagan. “Gostávamos mais de mountain bike.” No entanto, uma mudança para um trailer e uma viagem para o oeste dos Estados Unidos mudou tudo. Foi em Moab, Utah, que eles tiveram seu primeiro contato com escaladores e decidiram dar uma chance ao esporte. Compraram uma corda, alguns equipamentos e começaram, primeiro na escalada esportiva e, em pouco tempo, na escalada tradicional.
Uma pequena guia na escalada
Reagan começou a escalar boulder ainda com três anos de idade, e sua verdadeira estreia como guia de cordada veio aos quatro anos, quando guiou uma via no Small Adventures Wall, em Moab. Pouco antes de seu quinto aniversário, enquanto passeava com a família em Indian Creek, Reagan pediu ao pai para guiar sua primeira via de escalada tradicional (com proteções móveis e técnicas de entalamento). A rota escolhida foi Chocolate Corner, uma fenda graduada como 5.9+ (quinto grau brasileiro). Inicialmente cético, David hesitou em permitir, mas a insistência da filha acabou vencendo.
Desde então, Reagan se tornou uma exímia escaladora de fendas. Seu perfil no Instagram, gerenciado pelos pais, é repleto de imagens dela em Indian Creek, vestindo seu tradicional macacão Carhartt e uma camisa rosa de mangas compridas. Ela admite preferir esse estilo de escalada, pois escaladas esportivas com sobreposição a deixam insegura. “Parece estranho, porque não consigo ver a próxima agarra para saber se ela é boa”, explicou ela.
Reagan Goodwyn prefere vias em que consegue ver e avaliar as agarras. Foto: David Goodwyn
Além disso, Reagan vem se especializando na escalada de várias enfiadas e até aprendeu a construir suas próprias paradas com equipamentos tradicionais. “Ela me segura na parada que construiu, e eu definitivamente confio nela”, afirma David.
Segurança em primeiro lugar
Uma dúvida comum ao se deparar com a trajetória de Reagan é sobre segurança. Segundo David, a família leva esse aspecto muito a sério. No início, enquanto Reagan aprendia a escalada tradicional, ele se mantinha pendurado em uma linha estática acima dela, verificando suas colocações de equipamentos móveis. Com o tempo, a confiança na jovem escaladora aumentou, à medida que ela demonstrava habilidade e controle.
Um dos maiores desafios de Reagan foi Slice and Dice, uma fenda de grau 5.12 (oitavo grau brasileiro) em Indian Creek. No primeiro dia, ela caiu diversas vezes, frustrada com o peso da corda. Mas no dia seguinte, voltou determinada e completou a via com sucesso. “Eu superei meus medos e sabia que conseguiria”, conta.
Críticas a exposição da criança ao perigo
O Instagram da família Goodwyn gerou reações mistas. Enquanto muitos admiravam a coragem e a habilidade de Reagan, outros criticavam a exposição da menina a desafios tão grandes. Alguns até sugeriram que as imagens eram encenadas. Para provar a autenticidade das conquistas da filha, David começou a publicar mais vídeos. Hoje, a maioria dos comentários é positiva e incentivadora.
Quando perguntada sobre conselhos para outros escaladores, sejam adultos ou crianças, Reagan é direta: “Vá para Indian Creek”. Ela acredita que escalar fendas no local ensina os fundamentos da técnica e ajuda a desenvolver confiança. “Às vezes fico com medo, mas você só precisa colocar um bom equipamento e se sentir confiante em tudo o que está fazendo.”
Entre seus objetivos futuros, Reagan quer explorar mais escaladas de várias enfiadas e sonha em escalar grandes paredes. No entanto, há um desafio especial que ela deseja enfrentar: Belly Full of Bad Berries, um offwidth invertido de grau 5.13. “Eu farei isso quando realmente quiser. Em breve.”
